CORRUPÇÃO, POLÍTICA E POLITICAGEM



"Corrupção não é política e sim politicagem".

A palavra POLÍTICA tem origem na língua grega e significa "o governo da cidade". Tem relação direta com "boas maneiras, urbanidade, ética, transparência, polidez, gentileza, civilidade, humildade e comprometimento". É o compromisso com a governabilidade e com a gestão eficiente, eficaz, apaixonada e zelosa do ente federativo. O político autêntico, por vocação e não por oportunismo, é uma pessoa comprometida com a excelência em governar uma cidade ou legislar com justiça. O político é alguém que está engajado na construção de um projeto de Estado e não simplesmente de um movimento de governo que visa se manter no poder pelo poder. Ele está interessado no bem da nação, bem como contribuir de forma decisiva para o fortalecimento das instituições do Estado brasileiro. O político é um servo do povo e para o povo. O seu poder emana do povo para servir o povo com equidade, compromisso, empatia, respeito e competência. Ele não tem interesses próprios, mas trabalha fielmente para os interesses dos seus eleitores e sempre na obediência da Constituição. Tudo que é possível fazer para facilitar a vida dos cidadãos é do âmbito do político vocacionado para o cargo eletivo ou indicado para um cargo público com base na meritocracia. O político não procura cargos, mas cargas de trabalho. É uma pessoa comprometida com a vontade de melhorar a qualidade de vida da população. Ele busca se aprofundar em sua função delegada pelo voto. O político vocacionado é uma pessoa estudiosa, aplicada, disciplinada e determinada nas suas atribuições definidas em lei. Ele veste a camisa do serviço abnegado para beneficiar o cidadão que paga os impostos. O homem público é trabalhador e responsável. Tem consciência da envergadura da missão que recebeu dos eleitores.

A palavra POLITICAGEM é uma deformação da política e implica em : "corporativismo, espírito de classe, fisiologismo, atrelamento, filosofia sectária e mercantil, partidarismo, unilateralidade, chicana, nepotismo, favoritismo, parcialidade, suspeição, astúcia, artimanha, extravagância, desatino, má fé, corrupção, suborno, tráfico de influência e improbidade". Esses significados traduzem muito bem a grande maioria que está na gestão pública ou em cargos eletivos. Poderia se dizer o contrário, mas não seria real ou verdadeiro. A politicagem anda solta como um vírus em todo o corpo do Estado brasileiro. As instituições estão cheias de gente politiqueira.  Essas pessoas estão preocupadas em levar vantagem. O politiqueiro, o que pratica a politicagem, está interessado em favorecer a si, sua família e seus apadrinhados. Ele não está preocupado com a meritocracia, mas com os seus interesses meramente pessoais. Geralmente o politiqueiro é reacionário. Ele não tem princípios, mas valores negativos. Não tem personalidade, pois é leniente e tergiversa costumeiramente. O politiqueiro não tem coerência. Ele custa muito caro aos cidadãos que pagam pesados impostos. Ganha muito para nada fazer. Ele só aparece de quatro em quatro anos. Muitos políticos se elegem pela compra de votos. No exercício dos cargos, geralmente se vendem e se locupletam com o dinheiro público.

Nunca foi tão necessária a distinção dessas duas palavras (política e politicagem) no âmago da língua portuguesa. Em tempo algum se precisou tanto e desesperadamente diferenciar esses dois termos do dialeto tupiniquim.

A política, praticada pelos competentes, é a ciência da administração dos povos, ou ainda a forma diligente de comandar os negócios de um Estado, ou mais intimamente o ato puro de civilidade na direção da vida pública de uma nação.

A politicagem, quando muito, é aquela praticada pelas corjas irracionais que destilam ódio e atuam com interesses escusos e absurdamente mesquinhos, sempre tirando do povo e locupletando-se.

O que o Brasil não precisa é de pessoas com talento para politicagem, embora tenhamos tantas.

O Brasil carece de bons políticos que coloquem acima de quaisquer interesses, a causa do sofrido povo brasileiro - "esse mesmo povo, sofrido, repito, que não tem rede de esgotos nem saneamento básico, por falta de vontade política dos poderes constituídos; esse mesmo povo que não precisa de esmolas governamentais, mas de empregos decentes e salários dignos; esse mesmo povo que é vítima da violência urbana diária, entregue à sua própria sorte, que não recebe a devida proteção à vida, garantida pela Constituição Federal; esse mesmo povo, sofrido, repito, que morre nas filas de hospitais por falta de atendimento e, óbvio, sucateamento das unidades de pronto atendimento; esse mesmo povo que...".

Queiram os Deuses, favoravelmente, de braços dados com o povo, não permitam que candidatos, cristãos ou ateus, independentemente de religiões ou crenças, maculem ainda mais o desesperançado exercício da gestão pública.

Sejam os postulantes a cargos públicos, de partidos de esquerda, centro ou direita, afeitos à honra e merecedores da consagração nas urnas, mas sempre voltados para a defesa da sociedade e do estado democrático de direito.

Revelem-se estadistas alicerçados na ética e na moral, dignos da caminhada cívica empreendida pelo cidadão rumo à cabine de votação.

Ergam-se das cinzas, homens e mulheres, que façam essa gente incrédula acreditar que esse país é possível.

Mirem-se os políticos, os candidatos, naqueles que enriqueceram a história da pátria brasileira, sem contudo enriquecerem-se às custas do suor e do sofrimento do povo.

Façam-se as campanhas, sob o rufar dos tambores dos simpatizantes, respeitando por ato contínuo a parte adversa, sob pena de não merecerem os aplausos da plateia, mas apenas receberem em alto e bom som o volume total das vaias indignadas.

Programem-se os debates políticos, de forma que os candidatos se respeitem e, ao invés de agressões verbais ou desmerecimentos partidários, façam valer o desejo do eleitor, que aspira por uma democracia plena e não meia; que anseia pela harmonia social tão pregada, mas que chega muito a conta-gotas; que pede o fim da corrupção, do peculato e da concussão, mas que volta e meia estão nas páginas dos jornais e na vida dos cidadãos, arremessadas pelas mãos sujas de políticos apegados à farra da politicagem rasteira.

Instalem-se no ápice da valorização do voto, os programas de governo, que deverão nortear até o esgotamento as manifestações dos candidatos, posto que o povo quer ouvir as ações que serão verdadeiramente implementadas, a seu favor, e não promessas irrealizáveis, que jamais serão cumpridas.

Reafirmem-se as exposições de ideias dos senhores e senhoras da política, privilegiando a saúde, a educação, o transporte, a segurança, o lazer, o meio ambiente, o trabalho, a moradia, a família, a liberdade de expressão, a liberdade em todos os sentidos e em direito permitida, a democracia plena e a justiça imparcial e igual para todos.

Uma nação também se faz com políticos de verdade, íntegros, éticos e honrados, e não com arremedos de homens públicos, manipuladores da politicagem.

Wilson Campos (Advogado/Especialista em Direito Tributário, Trabalhista e Ambiental).



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