A NOVA CHEFE DA PGR
Primeira mulher a comandar a Procuradoria Geral da
República, Raquel
Dodge tomou posse nesta segunda-feira, 18, no auditório
Juscelino Kubitschek, na sede da PGR, em Brasília. Ela substituirá Rodrigo
Janot, que ocupava o cargo desde 2013.
Raquel Dodge discursou por cerca de dez minutos. Em
sua fala, afirmou que "o MP deve
garantir que ninguém está acima da lei" e destacou que será preciso
coragem nas tarefas que estão por vir. A posse foi assinada às 8h16. Compuseram
a mesa o presidente Michel Temer, a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, e
os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia e Eunício Oliveira.
A nova procuradora geral foi indicada por Michel
Temer em junho após ser a segunda mais votada na eleição da Associação Nacional
dos Procuradores da República, ficando atrás de Nicolao Dino, candidato apoiado
por Janot. Em seu discurso, Temer falou da harmonia entre os Poderes e também
enalteceu que é a primeira mulher a assumir a procuradoria geral da República.
A PGR tem nova procuradora dias após Janot
apresentar a segunda denúncia contra Temer ao STF. Na quinta-feira, 14, o então
chefe do MPF denunciou o presidente pelos crimes de obstrução de Justiça e
organização criminosa. Se a acusação avançar no STF, mediante autorização da
Câmara, o caso ficará sob responsabilidade de Raquel Dodge.
A nova chefe da PGR já sinalizou que mudará a
equipe responsável pela Lava Jato, e que será feito um inventário sobre todos
os documentos e processos sigilosos da operação. Um de seus focos será evitar
vazamentos de informações.
Durante a fase de transição que antecedeu a posse,
Raquel ordenou que seus auxiliares não acessassem qualquer material sigiloso
existente na PGR, tanto da Lava Jato quanto de outras frentes de investigação.
Um eventual acesso só deveria ocorrer mediante pedido ao STF, de forma que a
consulta estivesse respaldada por uma decisão judicial.
Nascida em Morrinhos/GO, Raquel Elias Ferreira
Dodge tem 56 anos e desde 1987 atua no MPF. Formada em Direito pela Universidade
de Brasília, fez mestrado em Harvard e tem trabalhos acadêmicos na área de
direitos humanos. Destacou-se em casos de combate à corrupção e ao crime
organizado. Também atuou em questões de comunidades indígenas. É conhecida entre
os colegas pelo perfil reservado, rígido e técnico.
Uma das investigações de maior relevância da
carreira de Raquel foi a Operação Caixa de Pandora, deflagrada em 2009 para
apurar um esquema no Distrito Federal que ficou conhecido por mensalão do DEM. À
época, Raquel Dodge teve participação decisiva na prisão do então governador,
José Roberto Arruda.
O mais curioso é que na posse da nova chefe do MPF, pelo menos dez
investigados estavam presentes, se acotovelando para aparecer. E alguns deles
são nomes de peso, como o presidente da República, Michel Temer (PMDB), o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente do Senado, Eunício
Oliveira (PMDB-CE). Além dos três, que ficaram no alto junto à nova procuradora
geral, na mesa formada para a cerimônia, havia mais alguns políticos
investigados no auditório da PGR, como os senadores Garibaldi Alves (PMDB-RN) e
Jorge Viana (PT-AC), o deputado Rogério Rosso (PSD-DF), o ministro da
Integração Nacional, Helder Barbalho (PMDB-PA), o ministro do Tribunal de
Contas da União (TCU) Raimundo Carreiro, e os governadores de Goiás, Marconi
Perillo (PSDB), e do Paraná, Beto Richa (PSDB).
A nova procuradora geral disse que o Ministério
Público deve promover justiça, defender a democracia e "garantir que ninguém esteja acima da lei e ninguém esteja abaixo
da lei". Ela também destacou que o povo brasileiro mantém a esperança
de um futuro melhor para o país, acompanha as investigações e "não tolera a corrupção".
A procuradora afirmou que "O País passa por um momento de depuração. Os órgãos do sistema de
administração de Justiça têm no respeito e harmonia entre as instituições a
pedra angular que equilibra a relação necessária para se fazer justiça em cada
caso concreto". Ela iniciou o discurso dirigindo-se ao povo
brasileiro, "de quem emana todo o
Poder".
"Estou
ciente da enorme tarefa que está diante de nós e da legítima expectativa de que
seja cumprida com equilíbrio, firmeza e coragem, com fundamento na Constituição
e nas leis", disse.
Em sua fala, a nova procuradora geral da República
cumprimentou o antecessor, Rodrigo Janot, por "seu serviço à nação". Janot, que não compareceu à
solenidade, apresentou na semana passada uma segunda denúncia contra Temer,
desta vez por organização criminosa e obstrução de justiça. A primeira, por
corrupção passiva, foi barrada pela Câmara dos Deputados.
"Quarenta
e um brasileiros assumiram este cargo de procurador geral da República. Alguns
em ambiente de paz e muitos sob intensa tempestade. A nenhum faltou a certeza
de que o Brasil seguirá em frente porque o povo mantém a esperança em um país
melhor, interessa-se pelo destino da nação, acompanha as investigações e
julgamentos, não tolera a corrupção e não só espera, mas também cobra
resultados", frisou a
primeira mulher na história brasileira a chefiar a PGR.
"Neste
início de mandato, peço a proteção de Deus para que nos momentos em que eu for
colocada à prova, não hesite em proteger as liberdades, em cumprir o meu dever
com responsabilidade, em fazer aplicar a Constituição e as leis, para entregar
adiante o legado que recebo agora", acrescentou.
Católica praticante, a sucessora de Janot mencionou
ensinamentos do Papa Francisco em seu discurso de posse. "O Papa Francisco nos ensina que a 'corrupção não é um ato, mas
uma condição, um estado pessoal e social, no qual a pessoa se habitua a viver.
O corrupto está tão fechado e satisfeito em alimentar a sua autossuficiência
que não se deixa questionar por nada e ninguém'", citou Raquel Dodge.
A nova procuradora geral da República disse que
quando iniciou a carreira no Ministério Público, "poucos sabiam o que faz o procurador da República". Raquel
ressaltou que o MP possui uma série de atribuições constitucionais, como a
defesa da democracia, da sociedade e do meio ambiente e o zelo "pelo respeito dos poderes públicos aos
direitos assegurados na Constituição".
"Essas
novas atribuições constitucionais somaram-se ao papel clássico do Ministério
Público, que é o de processar criminosos", afirmou.
Ao falar do cenário nacional, a sucessora de Janot
comentou que para uma parcela expressiva da população a vida é marcada por
dificuldades. "Para muitos
brasileiros, a situação continua difícil, pois estão expostos à violência e à
insegurança pública, recebem serviços públicos precários, pagam impostos
elevados, encontram obstáculos na Justiça, sofrem os efeitos da corrupção, têm
dificuldade de se auto organizar, mas ainda almejam um futuro de prosperidade e
paz social", disse.
A nova procuradora geral da República encerrou o
discurso citando a poetisa goiana Cora Coralina (1889-1985), para que haja "mais esperança nos nossos passos do
que tristeza em nossos ombros".
Com
a posse de Raquel Dodge na PGR, as mulheres assumem as lideranças das
principais instituições do país: Cármen Lúcia, no STF; Laurita Vaz, no STJ;
Grace Mendonça, na AGU. E neste sentido, os votos do povo brasileiro são de que
estas quatro mulheres desempenhem as suas funções com equilíbrio, com justiça e
com rigor, não se esquecendo, nenhuma delas, da aplicação imparcial da lei.
Especialmente
para a nova chefe da PGR, os encômios são para que ela tenha uma gestão proba e
severa, nos termos da Constituição da República, não permitindo privilégios a
ninguém e fazendo todos iguais perante a lei.
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Wilson
Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses
Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
Muito bom e bem escrito o artigo. Parabéns.
ResponderExcluirQuanto ao trabalho da PGR, que este seja pela aplicação da justiça, doa a quem doer. Cadeia para os culpados e liberdade para os inocentes. Será que existem inocentes nessa história da Lava=Jato? Juliano P.D.A.