STF DESUNIDO
De
um lado temos os deputados e senadores unidos na defesa dos seus interesses
pessoais e políticos, principalmente quando se trata de denúncia contra alguns
de seus pares. A rebelião se forma e o corporativismo atávico se mostra
evidente, mesmo quando o centro das atenções negativas é o presidente interino
Michel Temer, na berlinda pela segunda vez.
De
outro lado, na mesma Praça dos Três Poderes, temos os ministros do Supremo
Tribunal Federal (STF), perdidos em briguinhas internas, minando as forças do
Judiciário, justamente no momento em que o país mais precisa de equilíbrio e
seriedade no trato das questões que envolvem corrupção, obstrução da justiça,
improbidade administrativa, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro,
malversação do erário e outros crimes investigados pela operação Lava Jato.
A
imparcialidade institucional e o conhecimento jurídico, necessários e indispensáveis
no STF, precisam imperar, independentemente dos gestos políticos dos ministros,
que não foram alçados à Suprema Corte para tratarem de política, mas para protegerem
a supremacia do texto constitucional, na aplicação severa e na defesa intransigente
da lei, do direito, do dever, das garantias e da Justiça. Entretanto, isso não
vem ocorrendo, uma vez que os senhores membros do STF digladiam em público, se
desentendem, se contradizem, se diminuem e até deixam alguns senadores
ultrapassarem a barreira do permitido e escaparem da punição do afastamento das
suas funções no Senado, como correu com o senador Renan Calheiros e pode
repetir agora com Aécio Neves. Uma vergonha que não pode se repetir. Um
jeitinho político que não é da competência do STF. Caso contrário, o racha na
Corte vai se estabelecer, de fato, e fortalecer o Congresso, que bate o pé
quando é enquadrado e desrespeita as determinações do Supremo.
O
ministro Edson Fachin não pode ficar sozinho na linha dura do STF, posto que
precisa contar com o esforço dos demais ministros que não cedem à rebeldia
injustificada dos deputados e senadores envolvidos em crimes políticos. Ora, os
senhores ministros da Corte não podem se deixar contaminar pela fraqueza
proposital de Gilmar Mendes, que tenta desautorizar os colegas, puxa a sardinha
para a latinha do Congresso e sempre faz e diz o que a classe política quer.
Isso, além de ser ele, Gilmar Mendes, um conhecido protagonista de debates
calorosos na defesa de velhos políticos, notadamente com a desculpa esfarrapada
de que o Congresso passa por debilidades e o STF não deve se aproveitar disso.
Se
tem uma coisa que o Brasil não precisa é de ministros do Supremo dando pitacos sobre
tudo o que acontece no país. Basta-lhes o cumprimento da lei, a atuação
imparcial, a proteção da Constituição e o comportamento republicano sempre
esperado dos ilustres membros da Corte.
Destarte,
ao STF, agora tão desunido, mas a quem foi destinada a guarda da Constituição,
cabe buscar sempre pela efetividade dos direitos fundamentais consagrados e
impedir a violação dos preceitos constitucionais, seja por ação ou omissão. Porém, como demonstrado, verifica-se que essa é uma atribuição que nem sempre se consegue
exercer sem conflitos.
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Wilson
Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses
Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
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