INCOMPETÊNCIA E IRRESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA
“Os Três Poderes têm
culpa por todos os motivos citados e por negligenciarem no combate aos males
que afligem o país, incluindo a incompetência e a irresponsabilidade
tributária. Ao contrário de tributarem de forma violenta o pobre, o
trabalhador, o contribuinte de classe média, o pequeno e médio empresário, bem
que poderiam arregaçar as mangas, deixar de lado a omissão e cobrar as dívidas
dos grandes devedores, que pagam quando querem e quando não querem dão uma
banana para o Estado e ainda ficam tranquilos”.
Não é notícia velha o fato de o poder público querer solucionar o problema da crise com o sacrifício do povo. O
descaso do governo com o contribuinte e com a sociedade, de maneira geral, vem crescendo
a cada ano. Não bastasse a carga tributária escorchante, cruel e desumana,
agora o governo manipula de todas as formas os índices inflacionários e camufla
aumentos de tributos até na falta de correção da tabela do Imposto de Renda
(IR).
Vale compreender e observar que o Orçamento de 2018, já aprovado pelo sofrível Congresso Nacional,
não prevê a correção da tabela do Imposto de Renda das Pessoas Físicas, segundo informação da Secretaria da Receita Federal.
Entra governo e sai governo, e o pensamento das "nobres" autoridades é quase sempre multar, executar e tributar. Veja-se que em
2018 completam três anos sem ajuste da tabela do IR. O último foi em 2015. Além
disso, por incrível que pareça, segundo o Sindifisco, nos últimos 20 anos não
houve correção da tabela, ou seja, no acumulado, a defasagem de 1996 a 2017 já chega a 88,40%.
A
faixa de isenção de pagamento do IR, que hoje é para quem ganha até R$1.903,98,
se a defasagem fosse corrigida, subiria para aqueles que recebem até
R$3.556,56. Também o valor de deduções aumentaria, assim como o desconto por
dependente passaria de R$2.275,08 para R$4.286,28 ao ano. Ou seja, ao governo
interessa arrecadar, arrecadar e arrecadar. Não lhe interessa governar com
justiça, assim como não lhe interessa diminuir a mordida do leão no salário do
trabalhador.
A covardia com o contribuinte chega a indignar a quase todos. E essa
situação mostra mais um deboche do governo com a população brasileira, porque
ao não realizar a correção da tabela do IR, esse governo se apropria de algo
que não lhe pertence e provoca ainda o achatamento da renda do trabalhador. Com
isso, por um lado, o governo obriga o contribuinte a pagar mais imposto; e por
outro, retira desse contribuinte a possibilidade dele usar esse dinheiro para
investir na educação, aplicar na poupança ou gastar com bens de consumo. Perde o país, perde o governo imprudente e perde o trabalhador, que, na realidade, é o maior contribuinte do IRPF.
A situação desconfortável para o cidadão mexeu com os brios dos advogados. Revoltada
com essa falta de bom senso do governo, a OAB Nacional ajuizou a Ação Direta de
Inconstitucionalidade 5.096 cobrando a correção da tabela do Imposto de Renda,
que aguarda julgamento no STF, que, por sua vez, parece não se apiedar do
trabalhador nem do contribuinte. Ora, os eminentes ministros da Suprema Corte
precisam entender que essa é uma matéria de urgência, pois se trata de uma ADIn
que tem por finalidade declarar que uma lei ou parte dela é inconstitucional,
ou seja, vai na contramão do que determina a Constituição da República. Mas nem assim o governo federal se mexeu, e está aguardando o Supremo se manifestar.
Por enquanto, constata-se um confisco. A
não correção da tabela do Imposto de Renda é uma malandragem fiscal vergonhosa,
que está sendo utilizada há anos pelos governos e a sociedade não se rebela contra
mais esse confisco tributário. A conclusão é simples: ao não atualizar a tabela
do IR, o governo consegue aumentar sua arrecadação, uma vez que os salários
tendem a aumentar, acompanhando o índice da inflação, enquanto a base de
cálculo do IR continua a mesma. Com a tabela congelada, até mesmo os salários
reajustados abaixo da inflação fazem com que o contribuinte mude de faixa de
tributação e tenha sua taxação tributária majorada.
O desaforo é intolerável. A
desfaçatez do governo é tão grande, que além de todos esses desaforos acima
narrados, tem a coragem de reduzir R$1,5 bilhão do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
da Educação Básica (Fundeb); é capaz de autorizar sem o menor constrangimento
as emendas dos parlamentares que anuíram ao acordo que liberou o presidente da
República das denúncias de corrupção; e permite a criação do fundo eleitoral bilionário
pelo Congresso, retirando R$472 milhões de áreas fundamentais como a saúde, para
sustentar partidos políticos. Dizer que isso é desfaçatez é pouco. Isso é prática
evidente de improbidade administrativa, pois se reveste de conduta contrária à
honra, à boa-fé e à honestidade. Como confiar na política, nas autoridades, ou no governo?
Lado
outro, o governo não tem a menor dignidade na prestação de serviço público
adequado, e não retorna para a sociedade os benefícios devidos e indispensáveis
em face da altíssima carga tributária, uma das maiores do mundo.
Incompetência
e irresponsabilidade tributária são atributos do governo, que comete todas as
irregularidades apontadas; que não consegue diminuir o desemprego, o
analfabetismo, a fome e a miséria; mas que autoriza o aumento de impostos no preço
dos combustíveis e compromete a cadeia produtiva e o poder de compra dos
cidadãos. Dessa forma, o governo não aplica uma cobrança de impostos e sim um
confisco tributário, que pode matar a galinha dos ovos de ouro – o contribuinte.
O
Executivo tem culpa direta. O Legislativo também. O Judiciário, indiretamente,
também é culpado. Todos têm culpa pelos desatinos e desacertos do governo, haja
vista permitirem a locomotiva fora dos trilhos, o governo sem políticas
públicas claras e o Estado sem a eficiência necessária para prover as áreas
vitais da educação, da saúde, da alimentação, do trabalho, da moradia, do
transporte, do lazer, da segurança, da previdência social, da proteção à maternidade
e à infância e da assistência aos desamparados, na forma da Constituição.
Os
Três Poderes têm culpa por todos os motivos citados e por negligenciarem no
combate aos males que afligem o país, incluindo a incompetência e a irresponsabilidade
tributária. Ao contrário de tributarem de forma violenta o pobre, o
trabalhador, o contribuinte de classe média, o pequeno e médio empresário, bem
que poderiam arregaçar as mangas, deixar de lado a omissão e cobrar as dívidas
dos grandes devedores, que pagam quando querem e quando não querem dão uma
banana para o Estado e ainda ficam tranquilos. Essa incompetência e irresponsabilidade
tributária precisa acabar, ainda que para isso sejam necessários mecanismos
contundentes de cobranças de dívidas pelo fisco, por meio de medidas severas, ações
rápidas e tratamento igual para todos.
Wilson
Campos (Advogado/Especialista em Direito Tributário, Trabalhista e
Ambiental/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses
Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
Como estudante de Direito estou agradecido por este artigo do Dr. Wilson Campos, que é o que eu estava procurando para um trabalho da faculdade, abrangendo início, meio e fim de determinado tema, como foi feito, com pitadas de crítica política, porque a política está em tudo e em todos os lugares. Parabéns doutor por este franco e objetivo artigo da área tributária, envolvendo esse monstro chamado leão do IR. BH - Lúcio M. L. Almeida.
ResponderExcluirSou médio empreendedor e pago tributo de toda forma, de todo jeito e de todo tipo. O meu contador envia toda semana um imposto para pagar. O meu faturamento caiu, mas o imposto tem de ser pago, assim como aqueles chamados encargos sociais. Os grandes devedores de impostos, incluindo empresas do governo, não pagam, e quando pagam, pedem desconto, parcelamento, etc. As tais grandes fortunas ninguém comenta, porque a maioria está nas mãos de políticos ou de amigos de políticos. Isso é uma vergonha. Meus parabéns ao Dr. Wilson Campos, que sempre defende o brasileiro, a iniciativa privada e outros que geram divisas para o país. Vamos em frente, pagando, mas reclamando dos absurdos contra os pequenos e médios empresários, porque os grandes sempre dão um jeito de escapar do fisco. Ernesto Amaral N. A. Jr. - empresário.
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