SÚPLICAS DE UM MINEIRO.
Ó meu Deus! Não tire de mim a fé que tenho no meu país, no meu povo, na minha
gente e na humanidade. Não me faça pior em nenhum momento e em nenhuma ação.
Não me permita o egoísmo no lugar da abnegação. Não me deixe sem palavras
quando tenho muito pra falar.
Ó meu Deus! Não consinta que o Estado cometa erros e entregue a conta para o
povo; que os interesses pessoais sejam colocados acima dos interesses da
coletividade; que os horizontes promissores sejam transformados em terra sem
lei; que as vitórias iluminadas se tornem derrotas sombrias; que a ganância e a
usura ceguem as pessoas e o enriquecimento ilícito fique impune.
Ó meu Deus! Não permita que a fraqueza tome o lugar da garra popular; que os 12
milhões de analfabetos sejam encarados como algo difícil de erradicar; que os
12 milhões de desempregados sejam vistos apenas como um percalço da crise; que
o governo finja administrar e o povo finja viver.
Ó meu Deus! Faça com que o povo saia da sua posição de cócoras, com o queixo nos
joelhos, e erga-se na reivindicação severa de direitos e garantias, liberdade e
igualdade, salário e emprego, moradia e lazer, segurança e transporte. Faça com
que o governo gaste menos do que arrecada e invista nas causas sociais, na
educação e na saúde. Faça também com que o povo aprenda a votar e saiba melhor
escolher os seus representantes.
Ó meu Deus! Elimina da vida brasileira os maus exemplos do Executivo, do
Legislativo e do Judiciário. Diminua a inflação, o custo de vida, o preço da
gasolina, do gás de cozinha, da água e da luz. Coloca na mesa dos pobres o
alimento de cada dia, alcançado com o trabalho e a dignidade da pessoa. Afasta
das cabeças pensantes o mau agouro de que este país não dá certo, e prova o
contrário, pela iniciativa e pelo esforço do próprio povo.
Ó meu Deus! Coloca na cadeia, pelas mãos da sociedade, os corruptos e os corruptores.
Não permita a fraqueza do povo para reeleger os maus gestores, os péssimos
administradores e os políticos de ficha suja. Destrona de uma vez por todas os
governantes que não pagam salários em dia, não cumprem contratos e não honram
compromissos. Elimina da vida brasileira a política de demagogos e oportunistas,
de usurpadores e exploradores, de caricatos e mentirosos.
Ó meu Deus! Capacita a população e os setores produtivos, os empregados e os
empregadores, o aprendiz e o orientador, o aluno e o professor. Dignifica a sagrada
missão de ensinar, reverenciando os mestres e não permitindo que eles sejam
agredidos por alguns imbecis que não tiveram berço. Remunera adequadamente o
educador, não admitindo que ele ganhe menos que um governador, um deputado ou
um senador.
Ó meu Deus! Na ciranda louca das irresponsabilidades, quem mais perde é o povo. Se por um lado a desgraça do país é pela política
rasteira, pela incompetência dos governantes, pela depravada improbidade
administrativa, pela excessiva carga tributária, pela impunidade da violência e
pela falência do Estado político, por outro, a carência é de patriotismo, de
padrões éticos, de lideranças ilibadas, de cidadania e de amor pelo país.
Ó meu Deus! A súplica desse mineiro é ainda maior
por ver Minas Gerais perder o seu lugar ao sol. Até tu, Minas Gerais, foste
passada para trás, vergonhosamente, sofrendo derrotas e amargando vexames. Cadê
o seu metrô, as suas rodovias, o seu rodoanel, o seu ferroanel, os seus
investimentos, os seus direitos, as suas garantias, a sua força política de
outrora? Cadê, Minas Gerais?
Ó meu Deus! O silêncio já não nos pertence mais.
A inércia, a posição de cócoras, a cegueira, a omissão, a preguiça, a
desfaçatez já não cabem mais. O recomeço tem de ser agora, pelas mãos do povo,
enquanto é tempo. Crimes punidos. Culpados presos. Dinheiro devolvido. Democracia
preservada. Constituição respeitada. Horizontes reabertos. Povo feliz.
Clique aqui e continue lendo sobre atualidades da política e do Direito no Brasil.
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Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de
Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
(Este artigo mereceu publicação do jornal ESTADO DE MINAS, edição de sábado, 20 de janeiro de 2018, pág. 7).
(Este artigo mereceu publicação do jornal ESTADO DE MINAS, edição de sábado, 20 de janeiro de 2018, pág. 7).
Lí sem respirar. Fantástico. Maravilhoso. Como sempre, um primor de texto. Sem dúvida a mais pura verdade e a mais pura necessidade do povo brasileiro. Márcia Maria L.G. de S., professora universitária.
ResponderExcluirExcelente visão dos momentos brasileiros carentes de humanidade e de atenção de todos. Parabéns pela pérola de artigo. Décio e Mayanna Filipo C. de S.
ResponderExcluirParabens Dr. Wilson. Li o seu artigo e compartilho com a sua indignação. Um pouco mais tarde tive o prazer de assistir o julgamento do ano. Logo depois tive o desprazer de assistir o desplante de figuras de renome tergiversando como fazem os ignorantes, entoando o mantra de que o Lula fora vítima de um julgamento tendencioso. Tergiversando porque das provas dos autos constam declarações do imóvel ao IR durante vários anos e farta negociação disso, daquilo e daquilo outro. A questão não é se a transação fora concretizada culminando com a transcrição no registro de imóveis. Os Crimes já se achavam consumados quando a polícia chegou(o delator, a imprensa, o povo, o MP). Por isso, o Pilantrão não assumiu a transação. Antes desse crime, outro maior já se achava caracterizado: o esquema de assalto ao patrimonio público(Petrobras) é disso que se trata. Falar da falta de provas da tradição do imóvel é tergiversar. É aproveitar da ignorância do povo.
ResponderExcluirandrade-sam@bol.com.br.