O REI NÃO ESTÁ NU, MAS O POVO ESTÁ.
Quem disse que o rei está nu enganou-se, redondamente, porque o rei não está nu. Suas roupas são de grife, ternos bem cortados, sapatos de verniz, gravatas italianas e camisas de algodão egípcio.
O
Brasil vive uma espécie de monarquia sem coroa, com mordomias semelhantes. A
ostentação começa pelo número de palácios nas capitais e em Brasília. Alguns
exemplos poderiam ser os do governo mineiro e do governo federal – Palácio da
Liberdade, Palácio Tiradentes e Palácio das Mangabeiras; Palácio do Planalto,
Palácio da Alvorada e Palácio do Jaburu; respectivamente.
São
muitos e luxuosos palácios para tão pequenos governantes. A ostentação
palaciana destoa dos casebres do restante do país. O rei não está nu, mas o
povo está.
O
rei não está nu porque os 513 deputados e os 81 senadores têm verbas e
subsídios especiais, mensais, cujos sinônimos são mordomias à custa do suor do
povo. Os nobres parlamentares têm 14º e 15º salários; verba de gabinete; verba
indenizatória; auxílio-moradia; cota postal; cota telefônica; passagens aéreas;
impressos para promoção pessoal; assinaturas de revistas e jornais; e carro com
motorista.
Não
bastassem o susto e a vergonha alheia que provoquei em você até agora, o rei
não está nu porque ainda têm as mordomias vergonhosas de 27 Assembleias Legislativas,
de uma Câmara Legislativa, e de 5.569 Câmaras Municipais. Isso, por enquanto,
apenas no Legislativo.
Sem
deixar escapar o Executivo e o Judiciário, o rei não está nu pelo fato de
estarem no mesmo barco das excelentes mordomias o presidente da República, os
governadores e os prefeitos; os secretários e os ministros de Estado; os juízes,
os desembargadores e os ministros das instâncias superiores. Ou seja, todos
desfrutam das benesses, do dinheiro, dos subsídios, dos jetons, dos privilégios
e dos gastos excessivos que oneram e muito os cofres públicos. Salvo raríssimas
exceções.
Dessa
forma, o rei não pode estar nu, uma vez que está coberto de luxo e ainda goza
do foro privilegiado. Quem está nu é o povo, que não tem emprego, não tem
salário, não tem escola, não tem segurança, não tem saúde e em breve não vai
ter aposentadoria minimamente digna.
O
rei não está nu porque as festas, os jantares, as homenagens e as entregas de
medalhas exigem vestimentas caras e de extremada pompa. Os convidados se portam
como se estivessem na recepção de um faraó, tamanha a elegância de homens e
mulheres que se acotovelam para pegar o melhor lugar e ficarem mais próximos
dos donos da festa, que são bajulados, elogiados e carregados nos ombros, com
direito a transmissão de imagens pela televisão. Ora, com tanto puxa-saquismo,
o rei não pode estar nu.
Os
aduladores brotam de todos os lados e em todos os lugares, principalmente
naqueles onde há relações de poder, centralizado ou hierarquizado, com a contumaz
paparicação que causa enjoo nos comuns, mas que revela a subserviência dos
apadrinhados e protegidos. A cultura do paternalismo está assentada nas áreas
da elite política, que pouco se importa com os 12 milhões de analfabetos ou com
os 12 milhões de desempregados. A cultura é de ganhos fáceis, de enriquecimento
sem causa, de gestão fraudulenta e de uso frequente do nepotismo, em larga
escala e cada vez mais vinculado a parentes e familiares. Por estas e outras é
que o rei não está nu.
Apenas
os parvos, tolos e estúpidos são conduzidos a acreditar que o rei está nu,
mesmo diante de tanta riqueza e ostentação da elite política, em um país onde
poucos têm muito e muitos vivem com tão pouco. A distorção social é cruel, de
tal forma, que chega a doer. A miserabilidade bate à porta de milhões de
pessoas, mas jamais chegará perto da cúpula que desfruta das bondades do rei. E
coitado daquele que disser o contrário, pois a chibata dos impostos está nos
braços fortes dos aniquiladores de pobres e famintos, de trabalhadores e da
classe média, de bons empresários e de precavidos investidores. E infeliz daquele
que contrariar o rei e seus comandados, seja por comida, por saúde ou por
educação. Ao rei apenas interessa a encolha dos crimes, a coleta de impostos e
a submissão do povo.
A
vaidade do nosso rei, sem coroa e sem majestade, supera a vergonha alheia, mas
não vence a luta contra os que não se acovardam e não se rendem, por maiores
que sejam os insultos recebidos.
O
rei não está nu, mas o povo está, exatamente por restar o indivíduo calado,
ajoelhado e até mesmo inerte, sem ação e reação. Até quando?
Wilson
Campos (Advogado/Especialista em Direito Tributário, Trabalhista e Ambiental/Presidente
da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da
OAB/MG).
O rei realmente não está nu por que tem tudo. O povo está nu porque não tem quase nada e ainda paga impostos para o rei deitar e rolar. Mas um dia isso vai mudar, quando o povinho crescer e se tornar cidadão. Valeu Dr. Wilson, Campos, por mais esse valioso texto de cidadania e responsabilidade. Josmar Valentim S. O.-BH.
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