O DESMATAMENTO EM BELO HORIZONTE.



 
No ano de 2011 o corte das árvores na Avenida Antônio Carlos e na Pedro I seguiu a linha adotada na Cristiano Machado, onde 499 árvores foram suprimidas para instalação do BRT (transporte rápido por ônibus). Só em 2011 a capital perdeu 11,3 mil árvores, número que superou os 10,7 mil cortes de 2010.

A Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) informou, na ocasião, que a supressão de 136 árvores na Avenida Antônio Carlos teve licença concedida pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Das 71 palmeiras-imperiais que precisavam ser removidas, 52 seriam transplantadas, porém, estudos estariam sendo feitos para definir o melhor lugar para o replantio. Os 19 exemplares restantes seriam suprimidos, já que “não apresentavam boas condições estruturais que permitiriam o replantio”, como informou a Sudecap. Sessenta e cinco árvores de outras espécies também foram suprimidas na Antônio Carlos, mas, nesse caso, não foi exigida nenhuma medida compensatória. Por incrível que pareça, nenhuma medida de mitigação e compensação foi exigida.

Na Avenida Pedro I, 300 espécimes foram derrubadas, sendo que 100 já tinham sido suprimidas. Nesse caso, houve medida compensatória para 40 árvores cortadas em frente ao Pampulha Mall. Seriam plantadas 204 mudas ao longo da obra. Também haveria supressão de 42 espécimes nas avenidas Montese e João Samaha e Rua Monte Castelo. Para essas árvores que deixaram de existir, outras 206 mudas seriam replantadas. Por fim, 27 exemplares saíram do Complexo Vilarinho em função da requalificação viária do local. A medida compensatória seria plantar 118 novas árvores em locais que ainda seriam definidos. Isso, naquela ocasião, sem nenhuma fiscalização da população. Ou seja, cortaram centenas de árvores e replantaram quase nada.

Vale reconhecer que Belo Horizonte possui árvores que em sua maioria foram plantadas sem planejamento prévio, ou seja, não existia um projeto para buscar espécies específicas de arborização urbana. Isso fez com que muitas delas crescessem e, com a força de suas raízes, quebrassem uma calçada ou danificassem uma rua.

No ano de 2018 a história não é muito diferente, persistindo a volúpia pelo corte e supressão de árvores. Nada menos que 2.685 já foram suprimidas, só no primeiro trimestre. A média de 17 espécimes que deixam de existir, diariamente, é o dobro dos oito cortes registrados a cada 24 horas em 2017.

Alguns motivos são alegados pela prefeitura, para tamanho desmatamento na capital. Mais do que o resultado dos ataques dos besouros metálicos nos troncos, o aumento também é reflexo de uma força-tarefa, após a queda de uma árvore em um transformador da Cemig, no bairro de Lourdes, região Centro-Sul. Houve uma explosão e nove carros ficaram destruídos.

A partir daí, a correria para cortar, podar e acabar com as árvores foi imediata. O uso da motosserra ficou mais intenso a partir de 19 de abril de 2018. Até o fim de maio foram 1.300 supressões e 6.600 podas, feitas para “evitar” novos acidentes. Os números são da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura da capital.

Segundo a prefeitura, o pente-fino termina em 19 de julho. A partir desta data, as intervenções vão ocorrer conforme as demandas da população. “Tínhamos um acúmulo de árvores em risco, por isso encontramos tantas com necessidade de corte. No ano passado, as chuvas atrapalharam muito nosso trabalho, pois tínhamos que focar nos casos que chegavam durante os temporais”, afirma o responsável pela Sudecap.

Mas, nem tudo é como a administração municipal afirma, valendo constatar que, apesar da supressão e das podas terem como objetivo evitar acidentes, parte dos trabalhos é questionável, uma vez que essa supressão irracional do verde afeta diretamente o microclima da cidade, reduz as áreas de sombra, impacta pela diminuição de oxigênio, agrava pelo aumento da poluição e piora a qualidade de vida do cidadão.

Como eu já disse em artigos anteriores, falta na capital organização, planejamento e sensibilidade do poder público para tratar da paisagem urbana. A prefeitura e seus respectivos órgãos municipais, todos “apressadinhos” quando conveniente, bem como a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, quase sempre inerte e omissa, comprometem a beleza da capital. Não se preocupam com um mapeamento criterioso, mais detalhado, de forma que a população tenha conhecimento do que está em risco ou não, e possa contribuir para um planejamento coletivo, que preveja, preliminarmente, o replantio do dobro de árvores até agora suprimidas.

Não bastassem os cortes, milhares de podas também ocorreram na capital. Os dados municipais apontam que mais de 14 mil intervenções foram feitas. Além da ação praticada pela administração municipal, a Cemig realiza trabalhos quando há riscos para a fiação. A empresa, no entanto, apresentou dados consolidados de toda a Grande BH, onde 35 mil podas aconteceram até a segunda quinzena de maio. Ou seja, a verdade é que a concessionária de energia elétrica, além da poda, insiste na supressão de árvores sob singela alegação de que estão acontecendo só para não impactar a rede elétrica. Entretanto, a Cemig não investe em projetos de fiação subterrânea, preferindo continuar com o emaranhado de fios aéreos que servem para enfeiar ainda mais a cidade.

A rigor, o replantio de árvores até agora executado se mostra insuficiente e tardio, uma vez que a substituição feita pela prefeitura não é imediata, porquanto reste notório que algumas espécies demoram anos e anos para alcançar maior porte ou um porte ideal para o espaço urbano. Daí a urgência em acelerar o replantio, em número e qualidade, pois a arborização é imprescindível na metrópole, que já dá sinais claros de exaustão e falta de ar, diante do volume de concreto e de asfalto espalhados por toda a capital. O pedido de socorro precisa ser escutado e prontamente atendido, a bem da qualidade de vida de todos. O bem-estar não é para uns, mas para todos. A vida saudável não é para uns e outros, mas para todos, indistintamente.

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Especialista em Direito Tributário, Trabalhista e Ambiental).


 

Comentários

  1. Com certeza a árvore não nasce do dia para a noite, assim como eles cortam e podam e não replantam. Que isso gente? Vamos conservar a natureza que nos dá ar, oxigênio, vida. Gostei muito do texto e da maneira como foi explicado. Maravilhoso. Sâmara M. V. Leite.

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