CORTE DE ÁRVORES PROVOCA AUMENTO DO CALOR EM BH.

 

Quem se lembra de 2011, quando Belo Horizonte perdeu 11,3 mil árvores, número que superou os 10,7 mil cortes de 2010?

Naquela ocasião, as regiões mais atingidas foram Leste, Oeste e Pampulha, além das avenidas Antônio Carlos, Pedro I e Cristiano Machado, incluindo a remoção de centenas de palmeiras-imperiais.

Vários anos depois, nenhuma lição foi aprendida, e o corte de árvores continua acelerado. Nos últimos dez anos foram suprimidos em média 6.000 espécimes por ano, valendo notar que só em 2022 ocorreram 5.922 cortes, segundo dados da Prefeitura de BH.   

Antes do golpe fatal da foice, do machado ou da motosserra, a prefeitura deveria ponderar que as árvores são, por natureza, cheias de predicados, sempre intercedendo pelo ciclo da água, agindo como bombas biológicas, sugando a água do solo e a depositando na atmosfera e a transformando de líquido em vapor.

As árvores são trabalhadoras silenciosas, que evitam inundações, apresam a água em vez de deixá-la entrar em casas e lojas e protegem as comunidades dos estragos das tempestades. Mas, ainda assim, os administradores públicos permitem que elas sejam exterminadas, sem defesa e sem contraditório.

A prefeitura precisa entender que, apesar de alguns de seus motivos terem como objetivo evitar acidentes, a supressão de árvores afeta diretamente o microclima da cidade, reduz as áreas de sombra, impacta o ar pela diminuição de oxigênio, agrava o teor de poluição e piora a qualidade de vida do cidadão.

Na capital que já foi conhecida como “Cidade Jardim”, são cada vez mais comuns a supressão de árvores de grande porte e o encolhimento de áreas verdes, contribuindo para o aumento da temperatura e a formação de “ilhas de calor” insuportáveis, que tiram o bem-estar dos moradores.

Resta evidente que as árvores devem merecer atenção dos órgãos ambientais, seja pela precaução ou prevenção de acidentes nas vias urbanas. No entanto, isso não é razão suficiente para a supressão em série praticada pela prefeitura, que faz intervenções nas nove regionais, com cortes difusos e podas generalizadas, sem a contrapartida do replantio.

Em que pese observar que algumas velhas árvores, previamente condenadas, precisam ser suprimidas, torna-se indispensável o replantio imediato e em número bem maior, como medida de mitigação. A compensação ambiental realizada até o momento é insuficiente para o grande volume de áreas desmatadas e árvores suprimidas.

De sorte que áreas verdes como a mata do Planalto e a mata do Jardim América são imprescindíveis para a cidade, cabendo ao município protegê-las, conservá-las e mantê-las intactas e preservadas. E, no caso de se tratar de propriedades particulares, faça-se a permuta ou a desapropriação com a devida e justa indenização aos proprietários.

Portanto, diante dos motivos expostos, o corte de árvores na capital precisa ser reduzido ao menor número possível, e o replantio deve ser multiplicado por dez, cem ou mil.

Wilson Campos (Advogado/Especialista com atuação nas áreas de Direito Tributário, Trabalhista, Cível e Ambiental/ Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG, de 2013 a 2021/Delegado de Prerrogativas da OAB/MG, de 2019 a 2021). 

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023, pág. 19).

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Comentários

  1. Neuza S. D. Filgueiras16 de fevereiro de 2023 às 14:39

    Só de defender as árvores e a mata do Planalto e a mata do Jardim América, com melhor qualidade de vida e mais ar puro para nós e nossas famílias, o artigo já merece uma nota10, com louvor. Parabéns doutor Wilson Campos pelo seu maravilhoso trabalho sempre na defesa das nossas áreas verdes e meio ambiente. Gratidão sempre. Neuza Filgueiras (região centro sul de BH)

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  2. O trabalho de uma pessoa que faz pelo bem social é um trabalho cristão e merecedor de elogio das comunidades e em nome da minha comunidade eu agradeço dr. Wilson Campos advogado pelo seu trabalho de anos e anos protegendo nossos bens naturais, paisagísticos e ambientais como as áreas verdes - a serra do curral, a pampulha, as matas do planalto e do jardim américa, serra do rola moça, e outras que já vi falar. Obrigado meu caro advogado por esse trabalho social e cristão. At. Carlito Pastor.

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  3. Fernando e Patrícia Gomes16 de fevereiro de 2023 às 14:49

    Nós lembramos dos fatos de 2010 e 2011 quando derrubaram árvores e palmeiras imperiais para passar o tal do Move - BRT (ônibus grandes na Antonio Carlos e Pedro I). Foi uma loucura ver tirar tanta sombra e tanta árvore e não replantar quase nada e quando muito replantar umas que morreram por falta de cuidado da PBH. Excelente artigo muito bem vindo para nós de BH e região metropolitana. Valeu mesmo pelo trabalho doutor Wilson. Abrs. de Fernando José e Patrícia Gomes.

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  4. Dr. Wilson eu sou suspeito para falar mas o senhor já fez muito por BH e pelas nossas áreas verdes. Me lembro da luta no Comam da PBH como era difícil mostrar a importância das matas e das nossas áreas verdes tão poucas em BH. Mas o tempo passou e conseguimos preservar algumas mas como o senhor mesmo disse a prefeitura precisa preservar e proteger pela mão do poder público e replantar e multiplicar o replantio de árvores por 10, 100 ou 1.000. Parabéns doutor Wilson pelo artigo e por tudo mais. Abrs. do Cláudio M. Duarte

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  5. O artigo do adv Wilson Campos sobre o corte de árvores é a expressão do sentimento do morador de BH, que vê o calor aumentar muito por causa da supressão de árvores. Todos sabemos que menos árvores é mais ilhas de calor. Alguém precisa alertar a prefeitura para reparar esses erros e plantar mais árvores. BH e todos nós agradecemos. Se tiverem de suprimir uma árvore então plantem dez, e assim por diante. É simples e a natureza também agradece. Chrispim R. M. Daleto.

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  6. Na minha rua cortaram quatro árvores que precisavam ser cortadas porque estavam muito velhas e colocando pessoas e casas em risco. Mas nós pedimos para plantarem novas mudas de árvores menores, em dobro, mas não fizeram isso e até hoje a rua está sem a beleza das árvores e sem nenhum verde para compensar. Eu sou leitora do jornal O Tempo e concordo com o excelente artigo do Dr. Wilson em número, genero e grau. Gratidão. Soraya Albuquerque (BH).

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