A IDADE NÃO TEM TEMPO PARA ACONTECER. ACONTECE!

 

De nada me serve a beleza de ser jovem se não respeito a idade dos que foram belos e hoje são simpáticos, experientes, vividos e com algumas rugas no rosto. De nada me serve a juventude se não me preparo para a idade dos cabelos brancos. De nada me serve a energia dos meus 20 anos se não aceito perto de mim alguém mais velho, alguém que me diz o que me espera aos 40, aos 60, aos 80 anos de vida. A idade não tem tempo para acontecer. Acontece!

No caso recente do vídeo em que três universitárias zombam de uma colega de um curso de biomedicina em uma universidade particular de Bauru, interior de São Paulo, pelo fato de ela ser mais velha, 45 anos, a conclusão é que as três alunas foram imaturas e egoístas, especialmente quando censuram o esforço da colega e dizem que ela deveria se aposentar, e não realizar o sonho de uma nova carreira profissional.

As três jovens se excederam, não pararam para pensar que a idade não tem tempo para acontecer, mas simplesmente acontece para todos, mais dia, menos dia. O fato ocorrido foi lamentável, teve grande repercussão por parte da mídia e resultou no abandono da graduação das três universitárias, que se arrependeram e reconheceram o erro, e preferiram desistir do curso. Restou o registro, que apenas o tempo e a idade tornarão compreensível a dura lição.  

A senhora de 45 anos, vítima de etarismo, por certo não se sente velha. Ao contrário, deve se sentir jovem e disposta, pronta para adquirir novos conhecimentos e trilhar caminhos que a levem a realizar o sonho de cursar biomedicina. Já as três jovens, que poderiam ter sido colegas e amigas da aluna quarentona, mereciam ser felizes na mesma turma, na mesma sala e na mesma jornada. Juntas e misturadas. Ora, a diferença de idade não é nada. O que vale nessa vida é dar e receber gratidão. O que ajuda a viver em paz é a humanidade depositada no coração de cada um. O que apraz é a solidariedade. E o que fortalece é a capacidade de saber amar e respeitar.    

Têm pessoas que envelhecem muito cedo, desistem da alegria de viver e espalham mau humor. Mas têm pessoas que, mesmo com 50, 60, 70 anos, vivem tranquilamente seus sonhos e buscam realizá-los nos quadros de uma empresa, nos bancos de uma faculdade ou até mesmo na mudança de cidade ou de país. Para essas pessoas o que conta é se sentir bem, sair da mesmice e colher novos frutos, e não cair na armadilha do comodismo.

Independentemente da idade, sempre é tempo para ser feliz, viver intensamente, sonhar e fazer planos. O presente é esse tempo, o hoje é esse dia, o agora é essa oportunidade. O jeito de fazer acontecer depende de você, da sua energia e da sua vontade. Superar obstáculos, vencer barreiras, ignorar discriminações e se fazer presente é um desafio para os fortes, porque os fracos nem tentam. A vida exige coragem.

A idade não tem tempo para acontecer. Acontece! Isso é verdade do ponto de vista que você faz o seu tempo, ao seu modo e ao seu jeito de viver. Se você tem 60 anos e não se deixa amargurar jogado em um sofá, de frente para a televisão o dia inteiro, e sempre se ocupa com uma leitura, uma caminhada, uma tarefa doméstica, um curso de culinária, um trabalho voluntário ou uma atividade qualquer, isso significa que você está ativo, pleno e com vigor de uma pessoa de 40, de causar inveja a muitos jovens.

Mas se você mergulha na imensidão da preguiça, do comodismo e do desalento, os seus 60 anos lhe parecerão 80 ou mais. Daí que você pode ter a idade que você se der, porquanto envelhecer é um evento imprescritível, embora possa ser adiado, e isso depende de você, da sua resiliência e da sua vontade de estar vivo, suficientemente para sonhar e traçar novos planos.   

Lado outro, se você tem 20 anos e carrega consigo o terrível vício de torcer o nariz para os mais velhos, desmerecer os mais pobres, discriminar os diferentes ou criticar a todos que não sejam parecidos com você, resta claro que você não merece a idade que tem. Os seus 20 anos são para aprender com os mais experientes; são para ser solidário aos mais pobres; são para tratar com respeito os diferentes; são para reconhecer o valor dos que não se parecem com você. Os seus 20 anos são para você ser ajudado pelos de 40, 50, 60 anos. E sabe por quê? Simplesmente porque a idade não tem tempo para acontecer. Acontece! Portanto, enxergue a essência, o conteúdo das pessoas, e não apenas o rótulo, a embalagem.    

Envelhecer é o único meio de viver muito tempo. A idade madura é aquela na qual ainda se é jovem, porém com muito mais esforço. O que mais me atormenta em relação às tolices de minha juventude não é havê-las cometido... e sim não poder voltar a cometê-las. Envelhecer é passar da paixão para a compaixão. Muitas pessoas não chegam aos oitenta porque perdem muito tempo tentando ficar nos quarenta. Aos vinte anos reina o desejo, aos trinta reina a razão, aos quarenta o juízo. O que não é belo aos vinte, forte aos trinta, rico aos quarenta, nem sábio aos cinquenta, nunca será nem belo, nem forte, nem rico, nem sábio... Quando se passa dos sessenta, são poucas as coisas que nos parecem absurdas. Os jovens pensam que os velhos são bobos; os velhos sabem que os jovens o são. A maturidade do homem é voltar a encontrar a serenidade como aquela que se usufruía quando se era menino. Nada passa mais depressa que os anos. Quando era jovem dizia: “Verás quando tiver cinquenta anos”. Tenho cinquenta anos e não estou vendo nada. Nos olhos dos jovens arde a chama, nos olhos dos velhos brilha a luz. A iniciativa da juventude vale tanto a experiência dos velhos. Sempre há um menino em todos os homens. A cada idade lhe cai bem uma conduta diferente. Os jovens andam em grupo, os adultos em pares e os velhos andam sós. Feliz é quem foi jovem em sua juventude e feliz é quem foi sábio em sua velhice. Todos desejamos chegar à velhice e todos negamos que tenhamos chegado. Não entendo isso dos anos: que, todavia, é bom vivê-los, mas não tê-los”. (Albert Camus).

“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver do que já tive até agora. Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicentemente. Mas, percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Inquieto-me com os invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talento e sorte. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas. As pessoas não debatem conteúdo, apenas rótulos. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos. Quero a essência... Minha alma tem pressa. Sem muitas jabuticabas na bacia. Quero viver ao lado de gente humana, muito humana. Que não foge de sua mortalidade. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade”. (Ricardo Gondim).

Wilson Campos (Advogado/Especialista com atuação nas áreas de Direito Tributário, Trabalhista, Cível e Ambiental/ Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG, de 2013 a 2021/Delegado de Prerrogativas da OAB/MG, de 2019 a 2021).

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Comentários

  1. Que texto mais lindo dr. Wilson. Maravilhoso. Até o puxão de orelha nas meninas foi elegante e justo, na medida certa. A idade realmente nos ajuda a compreender melhor as coisas, e a escrever cada vez melhor como é seu caso. Agradeço a joia de artigo e parabéns. Att: Lidiane K. Borgonne.

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  2. O caso das alunas que constrangeram a senhora, aluna mais velha da turma, foi mesmo um fato lamentável. Os jovens tem muito a aprender no curso da vida. O curso da vida é o mais importante de todos os cursos. Parabéns Dr. Wilson Campos pela excelência do seu artigo como sempre equilibrado e cheio de justiça. Abr. Kito Pionte.

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