DÚVIDA NÃO É CONSPIRAÇÃO



Ao primeiro sinal de manifestações nas redes sociais questionando a causa do acidente aéreo que matou o ministro do STF Teori Zavascki, relator da operação Lava Jato, surgiram críticas às supostas “teorias da conspiração”, quando, na verdade, as pessoas apenas levantavam dúvidas se foi ou não acidente. Ora, dúvida não é conspiração. Dúvida é ausência de certeza ou falta de convicção quanto a um fato. Conspiração, por sua vez, remete a trama armada por alguém para prejudicar determinado indivíduo.

Pior que isso, a teoria da conspiração aduzida supera a dúvida levantada, porquanto signifique uma forma de entender algo ou alguma coisa, tendo como princípio que sua natureza é secreta. Por favor, não se está imputando culpa a alguém nem dizendo que existe um plano secreto para o mal. Pelo menos por enquanto.

O que a sociedade deseja é que se faça uma apuração a fundo do fato ocorrido e das causas, com transparência e divulgação simultânea para todos os brasileiros, sem esconder essa ou aquela particularidade. As autoridades estaduais e federais deverão investigar e declinar os resultados obtidos. A sociedade merece saber a verdade.

Embora acidentes aéreos aconteçam, e por diferentes causas, isso não desobriga o aparelho estatal da investigação imediata, com publicidade das apurações para conhecimento de familiares, de amigos e da opinião pública.

O acidente com o ministro relator da Lava Jato requer detalhamento na descoberta dos motivos que levaram à queda da aeronave. Não pode a sociedade ficar alheia a fatos tão contundentes e não pode ela permitir que as autoridades tergiversem ou demorem nas apurações.

Da mesma forma, o povo brasileiro não há que ficar inerte nem admitir que a operação Lava Jato seja interrompida ou negligenciada nos feitos e nos prazos, fazendo chegar seus reclamos de celeridade e transparência à presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, para redistribuir o mais breve possível os processos, assim como deliberou sobre a manifestação e pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, homologando as delações de 77 executivos da Odebrecht no âmbito da operação Lava Jato.

Enquanto isso, as grandes expectativas da sociedade ficam por conta da notícia bombástica que será a revelação de nomes e valores das delações, e da investigação do acidente, com absoluta lisura e transparência.

O advogado Francisco Zavascki, filho de Teori, tem razão: “Seria muito ruim para o país ter um ministro do Supremo assassinado”. Ele pede que se investigue o caso “a fundo” para saber “se foi acidente ou não”. Não é só o filho do falecido ministro Teori quem levanta essa questão; ela está na cabeça de milhões de brasileiros. Nada a ver com teoria da conspiração, trata-se de dúvida mesmo. A melhor maneira para se lidar com o problema é a investigação severa, transparente e com informação da verdade à sociedade brasileira.

Wilson Campos (Advogado/Especialista em Direito Tributário, Trabalhista e Ambiental/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de terça-feira, 31 de janeiro de 2017, pág. 19).

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