VITÓRIA DE PIRRO
O governo de
Michel Temer, após a batalha do impeachment de Dilma Rousseff, tão logo assumiu
o comando do país, percebeu que a conquista tinha sido penosa demais. Uma
“vitória de Pirro”. Uma vitória com gosto de derrota. Por quê? Simplesmente porque
as promessas de colocar a economia e a política nos eixos não seriam tarefa
fácil, ainda mais diante da ganância de políticos interesseiros e da
desconfiança de empresários e de investidores.
Dez meses
após ter chegado ao Palácio do Planalto, o presidente ainda não cumpriu a
promessa de reduzir os cargos no governo federal. Aprovou a PEC do Teto dos
Gastos Públicos, mas se esqueceu desse compromisso assumido. Segundo o Portal
da Transparência, o total de cargos de confiança e de funções gratificadas
aumentou nos meses de governo interino, sem se contar depois com os inchaços da
folha de pagamento e do número de funcionários com a criação de mais três
ministérios.
A máquina
estatal continua a serviço de projetos de poder de partidos políticos, da casta
apadrinhada, independentemente do sacrifício imposto às pessoas comuns da
sociedade brasileira.
O presidente
fala em união e em reformas. No entanto, a dissensão se torna visível,
porquanto a conciliação deveria partir de bons exemplos dos políticos, mas essa
possibilidade já se mostra irremediavelmente prejudicada tamanha a fila de
envolvidos na operação Lava Jato. As reformas, por sua vez, sem a efetiva e
necessária participação da sociedade organizada, não passarão de um embuste com
sobrevida curta e temerária.
Se Dilma
Rousseff errou feio no comando da nação e permitiu desvios bilionários na maior
estatal do país, a Petrobras, isso não quer dizer que a Michel Temer basta
apenas aprovar reformas a toque de caixa e deixar correrem as apurações de
corrupção. Mais do que isso, as instituições hão de ser mantidas fortes; os
crimes, punidos; a inflação, derrotada; o desemprego, reduzido; e as taxas de
juros, controladas.
As
celebrações da “vitória de Pirro” do governo Temer já passaram da hora de serem
substituídas por ações enérgicas de controle da economia, com a imediata
retomada do crescimento, sem sacrifício dos trabalhadores e sem tratamento
diferenciado. A realidade precisa ser enfrentada, e a isonomia é a régua para
as medidas sociais.
As
conquistas e as garantias fundamentais não podem estar em risco, bastando que
governo e povo entendam de uma vez por todas que não existe dicotomia entre
pobres e ricos. A convivência civilizada e respeitosa entre todos é mais do que
recomendada, posto que seja necessária e indispensável.
Não há mais
espaço para o ódio ou para as reações violentas. A segurança jurídica é o porto
seguro nos momentos de incerteza. O Brasil não é uma republiqueta. O Brasil é
uma nação de 210 milhões de habitantes e um dos países mais extensos do mundo,
com uma área de 8.516 mil km². A administração desses valores brasileiros
requer trabalho, dinamismo e comprometimento de todos. Sem exceção.
Wilson
Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses
Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
(Este
artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de domingo, 12 de fevereiro
de 2017, pág. 23).
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