FALTA VONTADE POLÍTICA
Enquanto
outros estados brasileiros usam e abusam de recursos públicos, tomando como exemplo
o Rio de Janeiro que gastou R$39 bilhões na realização dos Jogos Olímpicos do
Rio 2016, Minas Gerais sofre com a falta de verbas para obras em andamento e
para iniciar outras intervenções viárias necessárias. Falta verba, falta
recurso e falta vontade política com o povo mineiro.
Em
tempo, vale alertar para as notícias divulgadas na imprensa de que as
instalações olímpicas no Rio de Janeiro estão em estado de completo abandono,
sem manutenção e totalmente inutilizadas. A fábula gasta com o famoso “legado”,
que era um dos grandes lemas das Olimpíadas, resta jogada no esgoto, pois assim
se mostra a atual realidade das ruínas em que se transformou o local antes conhecido
como Parque Olímpico. Uma vergonha esse desperdício de dinheiro público!
Retomando
a questão dos recursos públicos federais, que deveriam ser distribuídos com
justiça entre os estados da Federação, o que mais se vê é falta de vontade
política, deixando antever a grande simpatia do Executivo por São Paulo e Rio
de Janeiro, em detrimento das necessidades emergenciais dos demais estados
brasileiros, mormente Minas Gerais, pela sua extensão territorial e pela sua
condição produtiva nos setores da indústria, do comércio e da prestação de
serviços.
A
falta de dinheiro é o principal argumento da União, apesar das intervenções
serem compromissos antigos assumidos. O novo governo, interino, de Michel
Temer, não tem nem sequer previsão de data para tocar obras em Minas Gerais. As
promessas de uma gama de obras de infraestrutura estão relegadas a segundo
plano, sob alegações de burocracia exacerbada, suspeita de superfaturamento,
licitações erradas e demandas judiciais, entre vários outros impedimentos
administrativos e legais. Enquanto isso, o povo mineiro amarga toda sorte de
prejuízos morais e materiais.
A
reforma do Anel Rodoviário de Belo Horizonte, a construção do Rodoanel, a instalação
do metrô, a duplicação da BR 381, as melhorias viárias municipais e estaduais e
a restauração de trechos rodoviários intermunicipais não têm perspectivas de
realização, embora extremamente necessárias e indispensáveis para a população
mineira.
Minas
Gerais sofre a pane geral que acometeu deputados e senadores mineiros, que não
brigam pelos interesses do estado, e ainda por cima se comportam acanhadamente,
enquanto outros parlamentares abocanham recursos e investimentos federais para
as suas regiões.
A
promessa de Temer de manter as obras iniciadas não dá garantia de recursos para
infraestrutura. Na área rodoviária, a intenção é investir por meio de parcerias
(PPPs), que grosso modo significa entregar a rodovia para exploração de
pedágios mais caros num futuro próximo. Ou seja, o governo não realiza e quando
tenta realizar o faz com ajuda da iniciativa privada, aumentando o custo do
serviço. Assim, como sempre, na “terra de ninguém”, a sociedade sai perdendo.
Outra
obra importante para Minas é a revitalização do Anel Rodoviário da capital, que,
embora prometida, provavelmente não sairá do papel no governo de Michel Temer.
Note-se que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT)
informa aleatoriamente que o projeto depois de finalizado passará por análises,
ajustes e aprovações, o que significa mais protelação e absoluta falta de
vontade política com Minas Gerais. Culpem-se os deputados e os senadores eleitos
por Minas, que não arregaçam as mangas e não se dispõem à luta em prol dos interesses
do povo mineiro.
O
metrô da capital está na mesma situação. Saiu o governo de Dilma Rousseff e
entrou o interino de Michel Temer, mas a coisa ficou parada, sem continuidade,
mais propensa a ser mais um processo nas gavetas do governo federal. Até mesmo a
liberação dos R$7 bilhões para a gestão da linha 1, então administrada pela
CBTU, que já se encontrava em adiantada negociação, agora terá de ser reiniciada,
sem, contudo, a certeza de que será implementada a obra.
Em
suma, a falta de vontade política coloca em xeque um estado inteiro de
acontecimentos. O cinismo e
a desfaçatez dos governantes andam de braços dados nas “terras de ninguém”. As
promessas e as bravatas pululam antes e depois da troca de governo na esfera
federal. As promessas, em pouquíssimo tempo são varridas para debaixo dos
tapetes suntuosos dos palácios imperiais. As bravatas, ao contrário, são
regozijadas pelos bajuladores, arautos e servis membros da seleta turma
corporativista, que bebe, come e dorme à custa dos contribuintes, já sopesados
pela cruel, escorchante e irreformável carga tributária.
O governo alega não ter verba para obras
estruturantes e imprescindíveis para a sociedade, mas tem dinheiro de sobra
para remunerar cargos milionários de confiança; para bancar viagens nacionais e
internacionais de agregados e bajuladores; para dar aumento de salários para membros
seletos do Executivo, do Legislativo e do Judiciário; para cobrir gastos
recordes com cartões corporativos; para pagar refeições, lanches e sorvetes a
bordo da aeronave presidencial; para explorar publicidade e shows a título de
propaganda governamental; e para atender pedidos e troca de favores de correligionários
e políticos da base de governo.
A falta de vontade política com Minas Gerais
precisa de uma resposta firme dos mineiros, independentemente da fragilidade dos
prefeitos, dos vereadores, do governador, dos deputados estaduais, dos deputados
federais e dos senadores, porquanto a prestação adequada do serviço público
seja uma obrigação da União, na proteção do povo e dos entes federativos, de
maneira igual (isonômica e paritária) e nos exatos termos da Constituição da
República.
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Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de
Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Especialista
em Direito Tributário, Trabalhista e Ambiental).
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