O PAPEL DO CIDADÃO, HOJE!



Melhor do que punir é educar. Um cidadão educado entende com folga o seu verdadeiro papel na sociedade. Sem demagogia, ele exige os seus direitos, mas cumpre com os seus deveres. Trata-se, a rigor, de uma via de mão dupla essa forma de ver a sociedade, uma vez que preparar o cidadão para o exercício da cidadania deva ser um dos objetivos sagrados da educação de um país que, de fato, se preocupe com o cumprimento dos seus estatutos constitucionais.

Muito se tem falado do papel do Estado, mas talvez não suficientemente do papel do cidadão, embora seja este o mais importante de todos, haja vista a sua real função de poder escolher o tipo de sociedade que quer para viver. Ou seja, a cidadania deve ser exercida plenamente, seja por contribuição, solidariedade, comprometimento e cumprimento das obrigações, ou pela cobrança de ética e probidade das autoridades, dos agentes públicos e políticos e das próprias instituições.

A sociedade cidadã que se pretende é aquela da soma dos interesses individuais e metaindividuais, acrescidos da educação de primeira qualidade, do avanço tecnológico e da integração do indivíduo no seio da sociedade globalizada. Não há como fugir da modernidade, em que pese o valor das gerações passadas que garantiram muito do que se tem hoje no mercado e no convívio da vida pessoal e profissional. No futuro, não muito distante, espera-se, o cidadão terá cada vez mais poder para, com autonomia e independência, se tornar o senhor do seu próprio destino, sob o devido controle social, mas sem a dependência da vontade do aparelho estatal.

Depender de alguém não é fácil. Depender do Estado é pior ainda. Depender de um Estado falido, sucateado e combalido pela corrupção é trágico. Portanto, o papel do cidadão é ajudar na assepsia, na limpeza da sujeira impregnada que a todos macula e infecta.

Há uma rebelião sem cores e sem partidos no país. Uma rebelião de cidadãos que não aguentam mais tanta politicagem sórdida. Se de um lado repercute a rebelião dos que acham de bom tamanho o que já se apurou da má utilização dos recursos públicos e o que já se descobriu por meio das operações e das delações, de outro repercute a rebelião dos que ainda exigem apuração severa e divulgação de nomes e valores e que não mais esses indivíduos se aventurem por caminhos desonestos. Utopia? Quimera? Talvez as duas possibilidades. Nunca se sabe! Mas o papel do cidadão é que dita a regra. Basta querer e ser um cidadão, na excelência da palavra.

Gerações sonharam e lutaram por uma nação com ordem e progresso, próspera e feliz. Gerações haverão de fazer o mesmo, enquanto houver uma turba dedicada à rapinagem da pior espécie.

O papel do cidadão hoje é aprender com o que vê. Não repetir o erro. Não se exemplar nos malversadores do erário. Não se acomodar com a desgraça dos casos penitenciários que levaram a centenas de mortes de pessoas presas em imundas e lotadas prisões. Não se emudecer, porque há milhares de pessoas acumuladas nesses cárceres desumanos e indignos. Não se desesperar, porque existem ainda seiscentas mil outras aguardando julgamento de um Judiciário lento e assoberbado de processos de toda natureza jurídica. Não se enganar, porque os crimes precisam de punições e que sejam cumpridas em prisões decentes e suportáveis, mas que nem por isso sejam transformadas em impunidades daqueles que erraram criminosamente perante a sociedade.

O papel do cidadão hoje é não achar bonito o incêndio de ônibus nas grandes cidades, porque nas cidades do interior as crianças vão a pé para a escola, por léguas e léguas, e às vezes descalças. Essas crianças não têm transporte escolar e não têm ônibus coletivos para ir à escola. A situação é dispare. Cobre o cidadão uma resposta das concessionárias que ganham bilhões, dos governantes que concordam com isso, mas não vinguem nos veículos, porque a população é que sofrerá a falta de transporte e as consequências desses atos impensados e desnecessários.

O papel do cidadão hoje é aprender para ensinar amanhã, coisas positivas e necessárias à população, no campo da saúde, do transporte, da segurança, da moradia, do trabalho e da tão homenageada educação.

O papel do cidadão hoje é não permitir que os maus exemplos daqueles que incendeiam ônibus e carros, saqueiam lojas e supermercados, quebram portarias de bancos e de prédios, vandalizam com ou sem motivo pessoal ou coletivo, sirvam de parâmetros para qualquer segmento da infância, da juventude ou da fase adulta.

O papel do cidadão hoje é evitar que a delinquência torne a população refém dos malfeitos e dos atos delituosos. A cidadania precisa expressar a sua irresignação, o seu inconformismo, a sua indignação com o roubo, com o estupro, com a corrupção, com a impunidade, com a covardia do dia a dia.

O papel do cidadão hoje é ser participativo, solidário, atuante, ativo e exigente com os seus direitos e deveres.

O papel do cidadão hoje é trabalhar para a efetivação de uma sociedade moderna, humana, ética, capaz de realizar sonhos e de criar oportunidades para as pessoas, de forma que se realizem pessoal e profissionalmente.  

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Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).  



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