GATILHO DO EFEITO CASCATA



O efeito cascata provocado pelo aumento de impostos é uma espécie de gatilho que causa a repulsa da sociedade, porque o custo de vida sofre elevação, na mesma proporção ou mais, desregulando de forma gradativa a miserável sobrevivência do cidadão, posto que os preços evoluem e os salários se mantêm, na sua frágil horizontalidade de sempre, ainda mais quando sob o tacão de governos pouco ou nada confiáveis.

A ineficiência no uso dos recursos públicos não permite que a população compreenda o aumento de impostos praticado pelo Estado. A péssima gestão do governo federal há muito deixou de ser um incidente administrativo e passou a ser uma pedra no sapato do cidadão brasileiro. Ninguém em sã consciência compreende qualquer aumento de imposto quando já perpetua no seio da sociedade uma das maiores cargas tributárias do mundo, sem a contrapartida do serviço público adequado.

Jamais será compreensível qualquer espécie de aumento de tributos quando o Estado se revela péssimo administrador e ótimo gastador das finanças públicas, principalmente com mordomias, privilégios e vantagens salariais para as autoridades do grande círculo de amizades palacianas. Ademais disso, os desatinos governamentais são espetáculos diários na mídia e, consequentemente, provocam vergonha alheia e indignam cada vez mais a sociedade brasileira.

Quando sabidos o desejo do poder pelo poder e a ganância pela áurea dourada da autoridade com foro privilegiado, o governo federal ainda se arvora no direito de abusar da paciência e da tolerância da população e pede compreensão, na maior desfaçatez já vista. Ora, os brasileiros não compreendem, nem hoje nem nunca, o aumento de impostos, notadamente quando assistem os desvios do governo de mais de R$200 bilhões por ano com ignóbeis e criminosos atos de corrupção, além da vergonhosa compra de apoio parlamentar para livrar algumas “nobres” autoridades de acusações formais e legítimas de improbidade e corrupção.

O sacrifício da população é ainda maior quando, sabidamente, o aumento de impostos gera um efeito cascata e provoca o encarecimento de produtos básicos consumidos pelo trabalhador, seja transporte público ou alimentos.

Dizem que houve corte nos gastos públicos, mas em nenhum momento a sociedade percebeu a redução das regalias dos Três Poderes, haja vista a soberba, a indiferença e a comodidade estatal dos seus respectivos representantes.

Não se está aqui a defender bandeiras dessas ou daquelas cores, mas a Bandeira Nacional, do verdadeiro povo brasileiro, independentemente de picuinhas desnecessárias de “salames” ou “coxinhas”.

A alta do PIS e da Cofins e, consequentemente, dos combustíveis, como ocorreu, em momento crítico, além do gatilho do efeito cascata já mencionado, carreia ao bolso do trabalhador uma série de aumentos inesperados que, pelo sim ou pelo não, tornam o setor produtivo mais reticente, o investidor mais desconfiado, o emprego mais difícil, a exclusão social mais recorrente e o país mais desacreditado.

Se fosse verdadeira a falácia de que a economia ia bem, não se justificaria tal aumento de imposto. Ora, se a economia vai bem, não se faz necessária a elevação de tributos, e muito menos quando a corda já está no pescoço do contribuinte e o trabalhador e todo o setor produtivo dão sinais nítidos de desesperança. E a falta de crença se justifica pela politicagem rasteira praticada, sem que haja perspectivas de confiança a curto e médio prazo no Congresso e nos governos que aí estão ou que poderão surgir.

O povo brasileiro sabe que a solução está na qualidade moral do cidadão, que precisa defender os interesses da coletividade sem se prender ao individualismo exacerbado do ideologista de viseira. Isso vale para todos os setores da sociedade organizada, independentemente do nível cultural, do poder aquisitivo e da preferência partidária de cada um.

Enfim, a população não vai compreender o aumento de imposto, porque os brasileiros estão cansados de promessas, de roubos, de corrupção, de improbidade e de tantos outros crimes que aviltam o Estado de direito.

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Especialista em Direito Tributário, Trabalhista e Ambiental).

(Este artigo mereceu publicação do jornal ESTADO DE MINAS, edição de terça-feira, 1º de agosto de 2017, pág. 7).

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Comentários

  1. DR.WILSON
    BOM DIA
    O QUANTO ESSE EFEITO CASCATA IMPEDE QUE A POPULAÇÃO BRASILEIRA,DEIXA DE USUFRUIR DE UMA VIDA UM POUCO MAIS CONFORTÁVEL.
    DE TODOS OS IMPOSTOS QUE EU PAGO,O ANO INTEIRO(FEDERAL,ESTADUAL,MUNICIPAL),EU PODERIA COMPRAR UM BEM DE MEU DESEJO E NECESSIDADE.
    ENTRETANTO OS IMPOSTOS QUE TODOS NÓS PAGAMOS NÃO REVERTE DIRETAMENTE PARA A POPULAÇÃO EM;
    EDUCAÇÃO PUBLICA,PLANOS SOCIAIS,ABRIGOS,SEGURANÇA NACIONAL ,ASFALTAMENTO ESTRADAS ,EQUIPAR POLICIAS,MELHORIA DO SALARIO MINIMO,APOSENTADORIA INSS MELHOR, MENORES E MAIORES DE RUA, SUS, ESCOLAS TECNICAS FEDERAIS,ETC.. AS EMENDAS PARA OS DEPUTADOS FEDERAIS, LEVAM QUASE TUDO,E NÃO SÃO EMENDADAS.
    BILHÕES DE REAIS PAGOS EM IMPOSTOS,ROMBO FISCAL ANUAL DE 160.000.000,00,UMA EQUAÇÃO A SER FEITA.
    VEM AÍ AGORA UMA PROPOSTA DE REFORMA FISCAL.
    ATENCIOSAMENTE
    MARCO TULIO

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  2. Concordo Dr. Wilson, em parte. Como está o Rio de Janeiro cujos governos eram os principais aliados do Governo Federal deposto ? Quantos bilhões foram jogados pelo ralo lá, no setor público e no privado? Quantos bilhões deverão ser gastos lá para combater a criminalidade, pacificar e organizar a produção ? Produção de que ? De turismo, a única coisa que o Rio produz. Não fosse as sedes das estatais que, equivocadamente, mesmo depois de privatizadas continuam, equivocadamente, lá quase no estremo sul para administrarem unidades em todos os quadrantes do Pais. E isto não vai mudar por causa da influência política que eles sabem exercer mais do que todos os seus compatriotas. A dívida pública Dr. Wilson era algo em torno de meio bilhão de dólares no final do governo tucano, quando o dólar estava mais ou menos ao par. Dentro dessa dívida estava tudo que se fez neste pais desde a independência até então. A construção das rodovias, portos, aeroportos, prédios públicos, ponte Rio-Niteroi, hidrelétricas gigantescas, construção de Brasilia, tudo, tudo estava alí naquele montante. O QUE QUE FOI FEITO DE 1º.1º.2.003 PARA CÁ PARA ESTARMOS DEVENDO MAIS DE TRÊS TRILHÕES ? QUER SABER DE UMA COISA DR. WILSON ? O NOSSO CASO NÃO TEM SOLUÇÃO. OU MELHOR, TEMOS MAS NÃO VAMOS QUERER... PRECISARÍAMOS DE UM GENERAL CHARLES DE GAULLE. Além de não o termos, se o tivéssemos a nossa esquerda cuidaria de o enforcar em praça pública. Valha-nos Deus ! Salvador A Magalhães - Sta. Tereza - Bhte.

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  3. Eu já concordo plenamente com o Dr. Wilson Campos, e é simples - aumento de imposto quando já temos uma tributação enorme em tudo; aumento de preços em cascata quando o desemprego é de 14 milhões de pessoas; diminuição de investimentos quando o setor empresarial vê que a economia desanda e a crise não se resolve. Fica difícil, com tudo isso junto. Portanto, caro Dr. Wilson, o senhor está certo, porque a economia não vai bem e o governo finge que vai, além do que ninguém aguenta mais pagar imposto para políticos gastarem com luxo, viagens internacionais, e ainda superfaturar obra para receber propina e fazer caixa 2. Abraço e parabéns pelo sensacional artigo, que disse tudo em poucas palavras. Gratíssimo. Auster J. K. L.

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  4. Olá, Dr. Wilson,


    Parabéns mais uma vez. Comentar sobre a qualidade de seus artigos, seria como chover no molhado. Além da exposição
    do texto de maneira clássica, somente possível aos conhecedores do nosso vernáculo, o seu conteúdo retrata com propriedade
    de maneira bem cristalina a situação política e econômica em que estamos mergulhados. Pena que são poucas as pessoas
    que conseguem assimilar o recado e ter consciência da necessidade de uma mudança sobretudo de caráter, eis que, se quisermos
    políticos mais éticos, devemos começar por nós mesmos e evitar o famoso jeitinho brasileiro e a "consagrada lei de Gerson". Isto só vai ser possível, quando o país investir mais em educação. Apesar da frustração, não podemos perder a esperança.
    Abrs.
    Adilson Neves Coelho.

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  5. Muito bom! Descrição exata das nossas aflições e dificuldades.
    País sem rumo econômico, sem ética política e desencantado com sua realidade!!
    Abs!! Dulcina F.

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