AS FLECHAS DE JANOT



O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, começou a semana lançando flechas certeiras contra a delação premiada da JBS. A investida desta vez do procurador é em desfavor de três dos delatores do grupo J&F – Joesley Batista, Ricardo Saud e Francisco de Assis Silva, contra os quais determinou a abertura de investigação que pode levar à rescisão do acordo de delação premiada.

“Há trechos que indicam omissão dolosa de crimes praticados pelos colaboradores, terceiros e outras autoridades, envolvendo inclusive o Supremo Tribunal Federal (STF)”, disse o procurador em trecho do despacho sobre nova investigação.

Janot afirma que há “crimes gravíssimos” numa gravação de conversa entre Joesley e Saud envolvendo Marcelo Miller, ex-procurador que foi auxiliar de Janot e atuou no grupo de trabalho da operação Lava-Jato em Brasília.

Segundo o procurador-geral, ainda que o acordo seja desfeito, não deve afetar novas denúncias, preservando-se as provas já apresentadas. O procurador entregou os novos áudios para o STF e deixou ao seu encargo a divulgação do teor ou a publicidade das conversas. Mas o constrangimento de Janot era grande no momento de seu pronunciamento, embora tenha dito com convicção que o MPF agiu “na mais absoluta boa fé para a celebração do acordo”.

A repercussão da fala do procurador é grande, principalmente no Congresso, onde tem muita gente com a barba de molho, uma vez que os sintomas de culpa rodam por todos os lados do sistema bicameral, como profusamente divulgado pela imprensa nacional. Os governistas se acham mais leves e com possibilidades de calmaria para o presidente Michel Temer. Já os oposicionistas partem para o combate, na retórica de que o governo está cada vez mais envolvido nas maracutaias bilionárias dos executivos da J&F.

De acordo com o procurador-geral, os áudios contêm indícios de conduta em tese criminosa atribuída ao ex-procurador Marcelo Miller, e se ele descumpriu a lei no exercício de suas funções, deverá pagar por isso. O chefe da PGR, já em fim de gestão, alertou que “não há ninguém que republicanamente esteja a salvo da aplicação da lei”. E advertiu ainda que “se ficar provada qualquer ilicitude, o acordo poderá ser rescindido, mas a eventual rescisão não invalida as provas até então oferecidas”.

Enquanto aqui no Brasil as citações do procurador-geral da República incendeiam as discussões dos parlamentares e causam estupefação à sociedade, em Paris, o ministro do STF, Gilmar Mendes, disse que as possíveis “referências indevidas” a membros da Corte nos novos áudios fazem parte de uma “guerra psicológica”. Ou seja, mesmo longe de casa o ministro Gilmar fala aquilo que lhe vem à cabeça, sem consultar os seus pares a respeito do alcance do conteúdo das novas gravações.

Em relação à possibilidade de as investigações da Lava-Jato sofrerem algum tipo de revés por causa dos novos áudios, o ministro Gilmar disse que é preciso aguardar e lembrou que a Polícia Federal já tinha feito observações muito críticas em relação à pressa com que a PGR conduziu todo o episódio. Segundo o ministro, se houve algum tipo de irregularidade no acordo de delação premiada assinado pelos executivos da JBS, outras também se cometeram e a culpa disso seria a pressa e a falta de cuidado da Procuradoria nesse tipo de matéria.

Data venia, aproveitando o gancho, seria republicano perguntar ao ministro Gilmar o que ele faz em Paris, com tantos processos de políticos para serem julgados pela Suprema Corte e com tantos obstáculos constitucionais a serem transpostos diante das reformas temerárias desejadas pela Câmara e pelo Senado? O ministro está de férias? Ou está ministrando palestras? Independentemente do que esteja fazendo em Paris, cabe ao magistrado zelar pela preservação da Corte, prestar serviço público integral e eficiente e guardar e respeitar a Constituição da República, não lhe cabendo, entretanto, falar de longe sem conhecer o inteiro teor das novas gravações.  

No meu sentir, como operador do direito, a lei é igual para todos e não existe processo legítimo e válido sem que a justiça seja a régua dos direitos e dos deveres e a lei o limite para todos. O respeito à lei é a máxima a ser cumprida, sem distinção e, principalmente, pelos membros dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

Os benefícios concedidos a empresários delatores que cometeram vários crimes contra o Estado e contra a sociedade brasileira restam atravessados na garganta do cidadão, que não admite tratamentos especiais para criminosos, quaisquer que sejam, sob pena de restarem eternas a desconfiança, a indignação e a frustração da população brasileira.

Sem demora, o STF deve tornar pública a nova versão das gravações, de forma que o povo saiba do se trata, de quem se trata e como será o procedimento do Poder Judiciário. A sociedade precisa e deve saber, com transparência, de todo o acontecido, o mais rápido possível. A democracia e o sistema republicano assim o exigem. 

Clique aqui e continue lendo sobre atualidades da política e do Direito no Brasil

Wilson Campos (Advogado/Especialista em Direito Tributário, Trabalhista e Ambiental). 



Comentários

  1. Muito boa a explicação. Sucinta e direta - ao ponto. O Rodrigo Janot precisa colocar luz nessa escuridão antes de sair, porque depois vai ser tarde e o Gilmar Mendes vai deitar falação em cima dele. Esclarece tudo agora Janot, porque você é o procurador-geral e seu papel é esse e te permite tal posição. Não deixe nada entre fumaça. Seja de JBS, de políticos, de juízes, de ministros ou de presidente. Coloca tudo às claras. Parabéns ao dr. Wilson Campos por mais esse texto de qualidade 10 ou 1000. Sumara L.H.A.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas