CIDADANIA AMEAÇADA.

O filósofo inglês Thomas Hobbes tornou célebre a frase “o homem é o lobo do homem”. Se, no século XVII, essa curta sequência de palavras já causava calafrios, imagine agora, com a cidadania sendo ameaçada a todo o momento, sem chances de o cidadão se safar desta ou daquela situação de medo, porquanto as pessoas estejam mais violentas nas ruas, nos campos de futebol, nos espaços de shows e eventos e até mesmo dentro de casa.

A afirmação de Hobbes soa como uma bofetada no rosto da humanidade, que no dia a dia vê indivíduos se transformando em seres irracionais, desagregadores de famílias, carrascos de crianças, jovens e adultos, covardes violentadores de mulheres e criminosos contumazes. E se o homem é capaz de grandes atrocidades e barbaridades contra elementos da sua própria espécie, não é ele outra coisa senão a confirmação de que o homem é o lobo do homem.

Os rios, os animais, as matas e as pessoas indefesas são as grandes vítimas da atualidade, graças à ganância em busca de riqueza, notoriedade e poder. O meio ambiente exaurido respira com dificuldade, tamanha a poluição do seu todo natural. O recado do colapso ambiental não encontra intérpretes inteligentes. A exploração insana arrasa com a Terra, que, não suportando tanta pressão, rompe e leva consigo a lama e tudo que encontra pelo caminho. Restam a agressão, a calamidade, o choro e a morte de cidadãos.

A vida urbana, de civilizada não tem nada. Os crimes hediondos, os homicídios, os feminicídios, a pedofilia, os assaltos, todos cometidos com violência, não são outra coisa senão a confirmação de que o homem é o lobo do homem. Na saúde, na educação e na segurança somos aprendizes de civilização. Não temos grandes exemplos de respeito à dignidade humana nem de entrega efetiva de cidadania ou de direitos fundamentais. Somos apenas cabrestantes puxados por rédeas curtas, pobres coitados, de cócoras e com o queixo fincado nos joelhos.  

No campo fértil da corrupção, do peculato e da concussão, os bandidos proliferam, se multiplicam, não denotam vergonha nem temor, sabedores da inércia da sociedade ou da frágil punição. São criaturas acostumadas com saques, achincalhes e enriquecimento ilícito que se utilizam de todos os meios para atingir seus sórdidos objetivos. São seres aéticos e imorais, voltados exclusivamente para a excelência material dos seus ricos feudos, forjados na desgraça de um povo que nasce pobre e permanece pobre, haja vista as intransponíveis barreiras sociais impostas. Mas o governo não é o único culpado, pois a sociedade é a responsável por grande parte dessa culpa. E o que é isso? É o homem sendo o lobo do próprio homem. 

A cidadania requer coragem e atitude. As ameaças contra a cidadania se dão por fraqueza do cidadão, que não se indigna com tantos crimes contra a pessoa, contra a vida e contra a honra. Sinceramente, a continuar assim, entendo que Hobbes estava certo.

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).

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(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de sexta-feira, 12 de abril de 2019, pág. 19). 


Comentários

  1. Texto exato e na medida da nossa realidade . Assino junto se o doutor Wilson deixar. Meus parabéns pelo enfoque corajoso e cidadão . Muito bom mesmo. Cilene Medeiros.

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  2. José Marcos S. Lares13 de abril de 2019 às 20:12

    Realmente a violência está demais no Brasil e acima da média no mundo todo. Um absurdo. Não tem mais como sair tranquilo de noite nem de dia; Aonde vamos parar com isso? Cadê a polícia, a segurança pública que fala a Constituição Federal? Cadê o direito de ir e vir que dizem que todos temos? Quem tem família não tem sossego quando os filhos saem, e não dorme enquanto eles não voltam. Tá difícil, Vamos lá Bolsonaro. Vamos dar segurança ao povo, meu caro capitão presidente. Vamos agir logo. Gostei do artigo e também gostei da força emprestada ao cidadão para que ele reaja logo. Parabéns! Sou leitor assíduo seu doutor. Abraço. José Marcos S. Lares.

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