GOVERNO ZEMA.

Ninguém disse que seria fácil governar Minas Gerais, principalmente depois das últimas administrações. O clamor dos mineiros por austeridade nas contas públicas continua forte. O governador Romeu Zema, lamentavelmente, tem deixado a desejar, com atitudes muito parecidas com as do governante anterior, o que antecipa julgamento de temor e decepção por parte da sociedade organizada.

O governo estadual não pode se deixar contaminar por ações desastrosas de passado recente. Da mesma forma, não deve se deixar levar por agentes públicos de gestões que não agradaram ao povo mineiro. Tem muita gente competente no mercado além das “personalidades” que estão voltando à administração estadual por sugestões, pedidos ou imposições de aliados e de setores econômicos e empresariais.

O governo mineiro não pode se curvar aos interesses da velha política, acostumada a arranjar cargos para seus apadrinhados de partido, independentemente de serem eles competentes ou não para a função pública. Ora, a promessa de campanha do governador foi de trocar o “velho” pelo “novo”, mas o que está sendo praticado é o mesmo de antes. Ou seja, continua tudo como dantes no quartel de Abrantes.

A simbiose, vantajosa ou não, entre o Executivo e o Legislativo requer a preservação da autonomia dos Poderes, de forma que um execute o trabalho, e o outro, fiscalize. Nesse caso, vale considerar os percalços no imbróglio dos recursos dos municípios e no equacionamento do déficit orçamentário. Enquanto os prefeitos reclamam do atraso no repasse de verbas e do reflexo que isso tem causado para as cidades mineiras, os deputados estaduais alegam que o governador não se aproxima da Casa Legislativa nem demonstra receptividade aos parlamentares. A pressão vem crescendo por parte das prefeituras e da Assembleia Legislativa.

Grande parte dos mineiros também não está satisfeita com o governador Zema, que demora muito na tomada de decisões e vem cometendo erros, no entendimento dos eleitores que o prestigiaram com o mandato. A pressão sobre o governador tende a aumentar depois dos cem dias, sobretudo porque se esperava muito mais do que foi apresentado até agora. 

Os funcionários públicos continuam com os salários parcelados. Os municípios mendigam verbas que lhes são de direito. As áreas da saúde, educação, segurança e transporte restam carentes de investimento e melhoria. Empregos não são criados. As estradas continuam precárias. E as tragédias provocadas por mineradoras vão ficando impunes.

A expectativa fica por conta de que o governador Zema supere as pressões, corrija o rumo da sua administração, acerte na escolha de seus colaboradores, coloque as finanças em dia, trabalhe efetivamente pelo povo mineiro e não decepcione seus eleitores. Caso contrário, o “novo” passará a ser “velho”, mais rápido do que se possa imaginar.

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de terça-feira, 2 de abril de 2019, pág. 19).

Clique aqui e continue lendo sobre temas do Direito e da Justiça, além de outros temas relativos a cidadania, política, meio ambiente e garantias sociais.