O ESTIGMA DOS CEM DIAS.


Os cem primeiros dias do governo Lula não passaram nem perto das suas promessas de criação de emprego e de justiça social. A preocupação cresceu em torno da sustentabilidade da dívida pública e da vulnerabilidade das finanças públicas aos choques externos, devido às pressões sobre a taxa de câmbio. A popularidade do presidente dependia quase sempre do comportamento da inflação, da taxa de juros e da implantação do Programa Fome Zero, que acumulou tropeços graças à complexidade do projeto e ao açodamento da cúpula petista.

A marca dos cem dias ficou por conta de o presidente Lula ressaltar a importância das reformas tributária e previdenciária para a geração de empregos, a retomada de obras paralisadas, o apoio à indústria nacional e a criação do sistema único de segurança pública para combater a criminalidade. No entanto, o estigma dos cem dias não favoreceu inteiramente o governo Lula, uma vez que a bondade praticada rotineiramente em favor do capitalismo irritou as bases petistas e estremeceu as relações dentro do partido. O presidente Lula não conseguiu servir a dois senhores sem contrariar os súditos.

Passados os cem dias de mandato, iniciaram-se as peregrinações internacionais à procura de notoriedade, deixando Lula a casa entregue às mazelas dos despreparados e gananciosos executivos de primeira gestão, novatos nas negociações econômicas e estagiários em confrontos políticos. A definição do estilo petista se diferenciava da mostrada nos palanques. A prioridade na área social, de combate à pobreza e à desigualdade social, não tratou especificamente da fome, como pretendido antes pela distribuição de comida e do benefício do cartão-alimentação vinculado à compra de alimentos. A política social do governo Lula deixava a desejar e enfraquecia a esperança das famílias pobres, notadamente quando se percebia que a política econômica concedia migalhas para as demandas sociais urgentes, sob alegações de dinheiro escasso e forte ajuste nas contas públicas.

O governo Lula, superado o estigma dos cem dias e apesar do mensalão de 2005, cumpriu dois mandatos e foi capaz de eleger uma sucessora. Porém, não se podem confundir vitórias eleitorais com vitórias políticas. A experiência recomenda cautela em relação às armadilhas políticas, ainda mais se o programa de governo não contempla ideias próprias dos eleitos. E o governo Lula não lutou a boa luta prometida em prol dos mais pobres; não privilegiou as políticas sociais nem acabou com a fome; não confrontou o rentismo; não enfrentou o latifúndio; não aumentou os impostos sobre a riqueza; não reduziu a privatização da saúde; não ameaçou o monopólio da mídia; e não cumpriu nem a metade do que tinha prometido à classe trabalhadora.

Os oito anos do governo Lula e os seis anos do governo Dilma Rousseff, afastada pela votação do impeachment, comprovam que o PT é um partido amigo dos capitalistas, porquanto em nenhum momento deixou de favorecer o mundo dos negócios, que retribuiu com generosos financiamentos eleitorais. Ou seja, os chamados rentistas, aqueles que vivem de rendas ou do sistema financeiro, não tiveram motivos para queixas. E isso se deu nos dois governos petistas, embora Dilma não tenha conseguido a mesma proeza de Lula, de satisfazer dois senhores ao mesmo tempo, o capital e o trabalho, nem manter o ritmo da economia brasileira, que desacelerou e fez com que a inflação subisse. Além disso, houve medidas que atingiram diretamente o bolso do cidadão comum, como a alta de juros para financiamento da casa própria, elevação dos impostos, aumento dos preços dos combustíveis e das contas de luz, e mudanças de regras trabalhistas.

Ao mesmo tempo, surgiram os escândalos financeiros denunciados pela Operação Lava Jato, que trouxeram à tona esquemas de corrupção envolvendo o PT. A partir daí, a derrocada petista foi iminente, levando para o fundo do poço o mandato de Dilma e a história do partido. Do contexto de governança, seja de Lula ou de Dilma, a lição que ficou foi a de que o estigma dos cem dias requer atenção, posto que já se tornou uma forma de avaliação preliminar, com divulgação de índices, percentuais e números aproximados de aprovação e reprovação, bastando à população uma atenção especial no que se refere a quem realiza e divulga essas pesquisas, haja vista as necessárias isenção e imparcialidade das informações.

No atual governo, do presidente Jair Bolsonaro, a expectativa também fica por conta dos resultados alcançados nos cem primeiros dias de mandato, embora a maioria da população brasileira já esteja satisfeita com a caça aos corruptos e corruptores, com a moralização da coisa pública, com a diminuição de ministérios, com a redução dos gastos públicos e com o enfrentamento da nova reforma da Previdência, que, espera-se, seja igual para todos. A rigor, no próximo dia 10, quando completar cem dias de governo, Jair Bolsonaro poderá fazer um levantamento de sua gestão neste período, de maneira que o eleitor possa avaliar e comparar as últimas gestões da Presidência da República.

O governo Bolsonaro não tem até agora nenhuma acusação de corrupção, mesmo que prematura ou mínima, o que leva a crer que o Brasil está mudando, aos poucos, para melhor. E a meta dos brasileiros é que o país acabe com a corrupção passiva e ativa, com as organizações criminosas de colarinho branco, com a lavagem de dinheiro, com o enriquecimento ilícito de agentes públicos ou políticos, com a improbidade administrativa, com o desvio de dinheiro público e com o peculato, a concussão, o descaminho e a prevaricação. Agora, se no prazo de cem dias isso não for possível, então que se prorrogue, mas que seja efetivada e levada a cabo a extinção dessa relação de crimes, ainda no governo Bolsonaro. Essa é a esperança.

O estigma dos cem dias restará ultrapassado quando Bolsonaro olhar para trás e observar os erros cometidos pelos ex-presidentes e, por óbvio, não cometê-los, mas aprender com eles e focar no futuro e no que realmente interessa para o país e para o povo brasileiro - crescimento e desenvolvimento.

Nos seus quatro anos de mandato, Bolsonaro não pode admitir nem de longe que aconteçam coisas parecidas com mensalão e petrolão, como ocorreu nos governos petistas de Lula e Dilma, com a corrupção ativa e passiva destruindo a confiança da classe média e matando a esperança dos pobres. 

Está na hora de os cem dias se transformarem em aprendizado de início de gestão eficiente, e o presidente prestigiar mais a causa da economia, colocar o governo no prumo, gerar confiança empresarial, proporcionar satisfação popular e fazer crescer o prestígio do Brasil na esfera internacional. Ademais, cabe ao presidente Bolsonaro interagir com as diferentes correntes e mostrar que é capaz e competente para lidar com as diferenças e com os contrários. A hora é de equilíbrio, sensatez e humildade, para que o país encontre um lugar ao sol e dê condições de os cidadãos viverem, de fato, como verdadeiros cidadãos. Ao povo brasileiro interessa um país respeitado e moralizado.          

Wilson Campos (Advogado/Especialista com atuação em Direito Tributário, Trabalhista, Cível e Ambiental).

     

         

    

Comentários

  1. Lucas Luiz F. Donato9 de abril de 2019 às 17:15

    Dr. Wilson, nos 100 dias o Bolsonaro fez muito mais do que os outros juntos. Só de acabar com as mordomias com dinheiro público e cortar as boquinhas de artistas na Lei Rouanet, já está de bom tamanho, além de cortar a gastança dos ministérios com vaguinhas de empregos para políticos. Acabou a mamata. Agora o Brasil vai dar certo de vez. Pra frente Brasil. Muito bom Dr. Wilson Campos, contamos com o senhor, porque já vi que o senhor é um brasileiro nota 10. O Brasil precisa de mais advogados como o senhor. Abração. Lucas L. F. Donato.

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