A DEMOCRACIA E O DESPAUTÉRIO DOS DEMAGOGOS.



A sociedade brasileira vai aprendendo, aos poucos, o verdadeiro significado do que é democracia. O aprendizado requer teoria e prática, e o estudo remete a uma visita aos séculos V a.C e VI a.C., quando o regime foi criado e aperfeiçoado e estabeleceu a base das democracias modernas. 

Na Grécia, o início das normas democráticas se deu especialmente no período áureo ateniense e remetia ao significado de igualdade, por mais que tentassem os contrários a derrubada dos ensinamentos dos criadores da ideia formadora da política. A lição que perdura por séculos é a de que lá, como cá, travando a democracia e a liberdade, existiam os demagogos e oportunistas, que conquistavam a confiança do povo por meio do discurso vazio e de promessas irrealizáveis. A diferença é que lá os enganadores foram punidos, e aqui eles ainda prosperam. 

Os princípios democráticos da antiguidade clássica foram lecionados ao longo dos séculos, transformaram em monumento a sabedoria política, romperam barreiras entre as diferentes classes sociais, moldaram uma nova teoria de que a democracia é o governo da cidadania, daqueles que estão livres para a ação e para a discussão no campo das ideias, tal qual perpetuado no conceito dos três princípios gregos que enalteceram a real noção de igualdade na política: isonomia, isegoria e isocracia. Mas o que significam esses três princípios?

A isonomia é a gestão do coletivo. Todos estão sujeitos às mesmas leis e devem ter os mesmos direitos e deveres na sociedade. A lei é para todos, e todos são iguais perante ela, independentemente de riqueza ou prestígio.

A isegoria consiste no direito de o cidadão manifestar sua opinião política para todos os outros; quando lhe é permitido o direito da palavra e o fruir de bens; e quando a divergência de opiniões é superada pela discussão democrática da questão.

A isocracia é o direito de o cidadão participar da administração pública e o ideal da igualdade de acesso aos cargos políticos. As decisões tomadas em conjunto respeitam a vontade da maioria. 

Esses três princípios, desde então, revolucionaram a forma de fazer política, tornando-se indispensáveis em qualquer democracia, quer sejam pela forma direta ou representativa. Na falta de qualquer desses três princípios, restará inexistente a ideia de democracia.

No Brasil, com certo esforço coletivo, a cidadania vem assumindo papel relevante no contexto social da vida democrática, de forma coerente, mesmo que a contragosto dos amantes da autocracia e da demagogia, que, de forma incipiente, vez ou outra ressurgem. Mas, não há mais espaço para o despautério de demagogos e oportunistas, que estão sendo obstados, aos poucos, da linha de frente dos governos e da vida dos cidadãos.

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Delegado de Prerrogativas da OAB-MG).

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quinta-feira, 23 de janeiro de 2020, pág. 20).


Comentários

  1. Meu caro Dr. Wilson Campos, eu sempre comungo de suas ideias e essa história dos oportunistas é a que mais existe no Brasil. Os sujeitos fazem visitas nos bairros e cidades só na época de campanha e depois somem do mapa e nunca mais aparecem para ver os problemas e as dificuldades do povo. Querem o voto e somem. Querem a eleição e somem. Querem tapear o povo, conseguem e somem.
    Os demagogos e os oportunistas tem de ser varridos do mapa. Só merece ser eleito aquele que é honesto e acompanha as situações do povo e convive com o povo. Essa política brasileira que passa de pai para filho também é uma aberração, um absurdo grande. O pai é político e depois de velho passa o bastão para o filho e assim vai a carruagem dos oportunistas e demagogos. Gostei demais do seu artigo, como sempre, 100% brasilidade e ética. Parabéns redobrados. Obrigado por mais este texto de leitura obrigatória. Cordial abraço. Lúcio D'Assumpção.

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  2. Doutor, o que mais tem por aí é oportunista e demagogo - candidatos, políticos já eleitos, partidos políticos, etc, mas como o senhor disse eles estão sendo colocados de lado porque o povo não é mais bobo como antigamente. Hoje tem internet, redes sociais, e a notícia dos maus feitos corre logo e longe mostrando a picaretagem de todos que enganam o povo. A política é para melhorar o país e não para ferrar com o povo, enganar e prometer e não cumprir. É isso mesmo, chega de oportunistas e demagogos. As eleições estão chegando de novo e vamos ver quem fez alguma coisa de positiva para a população. Meus parabéns Dr. Wilson Campos pelo artigo, que mais uma vez merece elogio e admiração porque fala o que a gente quer ouvir ou ler. É isso. Nazaré Fátima S.

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