ANO APÓS ANO, A TRAGÉDIA DAS ENCHENTES SE REPETE.
O slogan da
Prefeitura Municipal de Belo Horizonte – PBH afirma, categoricamente,
“governando para quem precisa”. No entanto, tenho cá minhas dúvidas quanto a
essa afirmação, uma vez que desconheço quem não precise da prestação de
serviços da prefeitura, mesmo considerando que esses serviços são muito bem pagos
por meio de impostos, taxas e contribuição de melhoria.
Será que os moradores
da região Norte da capital não precisam? Será que os comerciantes de Venda Nova
e entorno não precisam? Será que aqueles que tudo perdem com o caos provocado
pelas inundações e enchentes não precisam? Será que as famílias que têm suas
casas invadidas pela água suja, pela lama e por dejetos não precisam?
O início de 2020 foi,
mais uma vez, a repetição de anos anteriores. Ano após ano, a tragédia se
repete. Mais uma forte chuva que atingiu Belo Horizonte na noite do dia 2 provocou
alagamentos e a interdição da avenida Vilarinho, em Venda Nova, uma das mais
importantes da capital e que dá acesso à região Norte da cidade.
De acordo com a
Defesa Civil, a interdição foi por causa do transbordamento de córregos e para
evitar tragédias com veículos e pedestres no local. Até às 22h30, a avenida
seguiu interditada sem previsão de liberação. A estação do Move da Vilarinho
ficou alagada e houve a interrupção da circulação de várias linhas de ônibus,
segundo a BHTrans. Nas imagens divulgadas pela imprensa foi possível ver
pessoas ilhadas, cercadas pela água. A prefeitura não conseguiu evitar o
desastre de anos anteriores, embora tivesse feito promessas nesse sentido. Promessas,
promessas, promessas.
Segundo notas da
imprensa local, além de Venda Nova, o córrego Ressaca, na avenida Heráclito
Mourão de Miranda, conhecida como avenida Atlântida, na região da Pampulha,
também apresentava risco de transbordamento. Outro córrego na Pampulha, o Coqueiros,
também tinha risco acima do normal, segundo a Defesa Civil. Vários outros
pontos da cidade registraram alagamentos. Um deles foi a avenida Aggeo Pio
Sobrinho, no Buritis, região Oeste de BH. E na avenida 12 de Outubro, no
bairro São João, na região Batista, em Venda Nova.
A situação é
dramática para os cidadãos que moram na região e que, ano após ano, revivem o
pesadelo das inundações. A cidade registrou em apenas um dia, neste início de
ano, 70 (setenta) ocorrências causadas pelas tempestades, valendo observar que
a ocorrência predominante é a de escorregamentos ou deslizamentos, com 11
(onze) casos, junto à de infiltração, com o mesmo número. Em seguida, vêm
desabamento de muro (9), deslizamento de encosta (8), enchentes ou inundações
(7) e trincas (7), segundo dados divulgados pela Defesa Civil.
A constatação de
prejuízos para moradores e comerciantes é óbvia. A tristeza geral dos habitantes
da capital, idem. Os índices pluviais pesam mais contra os moradores da região
Norte. Veja-se que, somente na região de Venda Nova, já choveu 66% do esperado
para o mês inteiro entre 1º e 4 de janeiro. Pampulha e Centro-Sul também já
ultrapassaram a casa dos 60%. A Defesa Civil emitiu alerta para mais chuvas.
Portanto, todo cuidado é pouco, principalmente nas áreas de maiores riscos de
alagamentos, com fortes enchentes repentinas, que arrastam carros, pedestres,
móveis e tudo que encontram pela frente. Triste! Muito triste!
Mais uma vez o
cenário foi de terror, com famílias chorando os prejuízos sofridos e tendo de
conviver com a água lamacenta e o cheiro horrível dentro de suas casas, além
dos riscos de doenças. Da mesma forma, os comerciantes das ruas e avenidas do
bairro, que, ano após ano, amargam danos e suportam ônus de mercadorias
estragadas e lojas tomadas pelas enchentes.
Nas ruas da região, o
caos não era menor - semáforos em flash, quedas de energia, estragos em vias
públicas, lixo e sujeira por todo canto e um cheiro insuportável por onde
passou a forte e destruidora enxurrada.
No bairro Santa
Mônica, na Pampulha, um motorista ficou ilhado na avenida Ministro Oliveira
Salazar e precisou ser socorrido no meio da inundação. Segundo a Polícia
Militar, soldados do 49º Batalhão tiveram que usar uma corda e entrar na
correnteza para tirar o homem do veículo, que ficou isolado no meio da água, no
cruzamento com a rua Doutor Álvaro Camargos.
No bairro Itapoã, na
mesma região, o muro de um supermercado cedeu e atingiu um carro na rua Santa
Rita de Cássia. Apesar de um Fiat Siena que estava na via ter sido atingido por
cima, o motorista não se feriu, já que estava num bar próximo e havia deixado o
carro parado na via, de acordo com a PM.
No bairro Boa Vista,
na região Leste, um prédio está interditado na rua dos Afonsos. Um muro que
apoia o barranco onde está a estrutura cedeu e técnicos da Defesa Civil estiveram
no local para acompanhar as condições do imóvel.
Lamentavelmente,
cumpre reconhecer que o medo e o caos rondam mais a região Norte da capital.
Tudo conforme dito acima e também noticiado pela imprensa local. Note-se que, na
região de Venda Nova, vias precisaram ser fechadas e as estações de ônibus e
metrô da Vilarinho ficaram interditadas devido à inundação. Assim como já havia
acontecido antes, a BHTrans e a Defesa Civil precisaram colocar em prática o
plano de contingência, com acesso de vias do entorno bloqueado.
Segundo o coronel
Waldyr Figueiredo, coordenador da Defesa Civil de Belo Horizonte, o problema
não foi a quantidade, mas a velocidade da chuva. "Estamos falando de mais de 50 milímetros (mm) de água que caiu
sobre estas regionais em cerca de 3 horas, o que significa 50 litros por metro.
A gente consegue prever numa aproximação a quantidade, mas não a intensidade
que essa chuva vai atingir. Foi muita água em pouquíssimo tempo", afirmou.
Sofrem os moradores
da região Norte e sofrem os moradores de demais regiões da capital, que também
tiveram casos de alagamentos. Na região Oeste, moradores do bairro Santa Maria
ficaram sem luz, e transformadores de luz explodiram. No bairro Buritis, na
mesma região, pessoas ficaram presas em lojas e bares da avenida Aggeo Pio
Sobrinho e carros se arriscaram na correnteza.
A cidade continua com
tempo fechado. Os dias prometem mais pancadas de chuva, trovoadas e rajadas de
vento podendo atingir pontos isolados não só da capital, mas também nas cidades
da Grande BH. Ou seja, os cuidados devem continuar, porquanto a população possa
contar apenas consigo, uma vez que a prefeitura promete, mas não entrega uma
solução definitiva de engenharia para os eternos problemas de alagamentos e de
consequentes tragédias em época de chuva na capital.
Ademais, depois de
todos esses dissabores de começo de ano, graças à incompetência e descaso da
prefeitura, é chegada a hora de contar os prejuízos. As famílias que perderam
móveis, carros, eletrodomésticos, alimentos, roupas e demais itens básicos vão
ter de trabalhar e comprar novos produtos. Os comerciantes, da mesma forma,
terão de arcar com os prejuízos de suas mercadorias estragadas e do fechamento temporário
de suas lojas. E a prefeitura, que vem adiando há anos a execução de obras
pontuais para essas demandas o que faz? Envia pelos Correios as novas guias de
IPTU, com aumento de 3,91%, além de penalizar uma parte da sociedade, que terá
índices de reajustes maiores, sob a alegação de melhorias nos imóveis. É
brincadeira isso?
Em tempo, permitam-me
sugerir algumas medidas a serem adotadas durante o período chuvoso, que são as também
recomendadas pela Defesa Civil, quais sejam:1) Evitar áreas de inundação e não trafegar
em ruas sujeitas a alagamentos e próximas aos córregos e ribeirões no momento
de forte chuva; 2) Não atravessar ruas alagadas ou deixar
crianças brincando na enxurrada e nas águas dos córregos; 3) Não se abrigar nem estacionar veículos
debaixo de árvores; 4) Redobrar a atenção com as áreas de
encostas e morros; 5) Não se aproximar de cabos elétricos
rompidos. Ligar imediatamente para a CEMIG (116) ou para a Defesa Civil (199)
nessa situação; 6) Se você observar o aparecimento de
fendas, depressões no terreno, rachaduras nas paredes das casas e o surgimento
de minas d’água avise imediatamente a Defesa Civil (199); 7) Em caso de raios, não permaneça em
áreas abertas e altas e não use equipamentos elétricos; e 8) Proteja-se em locais mais seguros e longe das enxurradas até a chegada de socorro.
Encerrando, cabe a
orientação jurídica para as pessoas que se sentirem prejudicadas pelas
inundações e enchentes, de maneira que, para uma ação judicial de indenização,
juntem o máximo de provas possíveis para a demanda - boletim de ocorrência do
fato, com detalhamento do dia e horário e bens materiais perdidos; fotos amplas
das áreas inundadas da casa (parte interna e externa); fotos do carro, dos
móveis, das roupas e dos eletrodomésticos destruídos; fotos da rua inundada,
das enxurradas e da situação no entorno do imóvel; reportagens dos jornais;
vídeos e áudios de programas de rádios locais; notas e comprovantes de despesas
com limpeza das áreas afetadas em razão da inundação; notas e comprovantes de
compras de remédios em razão da água suja e da inundação da residência ou do
comércio; e testemunho de vizinhos ou de pessoas que tenham presenciado o acontecido.
Sem provas não há como ajuizar uma ação com pretensão indenizatória, além do
que trata-se de um processo demorado contra o poder público, mas nem por isso o
cidadão deve abrir mão do seu direito. Ao contrário, o cidadão que paga
impostos precisa cobrar a prestação de serviços adequados do município.
Wilson Campos
(Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses
Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Delegado de Prerrogativas da OAB/MG).
Clique aqui e continue lendo sobre temas do Direito e da Justiça, além de outros temas relativos a cidadania, política, meio ambiente e garantias sociais.
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Se os comerciantes entrassem na justiça para cobrar indenização por essa onda de prejuízos causados pelas enchentes e culpa do prefeitura, que não faz obras, e só promete, a coisa seria diferente. Vamos entrar na Justiça e cobrar os prejuízos de nossas lojas que são invadidas por água e lama todo ano e a PBH não faz nada e só promete. De promessas o inferno está cheio. Vamos dar um basta nesta situação que já passou da medida e já encheu a paciência do pobre comerciante e dos pobres moradores. Vamos todo mundo junto entrar na justiça e talvez essas obras saiam do papel e sejam realizadas pela prefeitura. Sebastião V.S.Paulino (comerciante que paga impostos e sofre todo ano com loja invadida pela chuva).
ResponderExcluirE as chuvas desta semana que arrasaram a cidade de norte a sul e de leste a oeste? Tem enchente pra todo lado. Os bairros e a região central estão debaixo d'água suja e lama e ninguém da prefeitura fala nada, com exceção da Defesa Civil que trabalha para remendar mas não para resolver, popis o serviço é de engenharia. Eu pergunto: onde está o prefeito que em nenhum dia disse nada? Onde está o pessoal responsável pelas obras? Por que o prefeito não compareceu aos locais atingidos e onde as famílias e os comércios estão cobertos de água suja, lixo e lama? Prefeito pra que se ele nunca está onde é preciso? Reeleição prefeito, nem pensar, nunca mais. Sou moradora, comerciante, dona de casa, tomadora de prejuízos e devedora de banco para consertar prejuízos por culpa da prefeitura que não realiza obras de verdade e nem limpa a cidade de BH. Joana Gonzaga.
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