DIVÓRCIO COM PEDIDO LIMINAR DEFERIDO ANTES DA CITAÇÃO DA PARTE (ANTECIPAÇÃO DE TUTELA).
A juíza Karen Francis Schubert, titular da 3ª Vara
da Família da comarca de Joinville/SC, com base em recentes alterações
legislativas, deferiu pedido de tutela antecipada para decretar o divórcio de
um casal antes mesmo da citação do réu. Esta decisão aconteceu, liminarmente,
logo após o recebimento do pedido inicial de uma das partes envolvidas no
processo de separação.
"Diante da impossibilidade de manterem a
constância da união matrimonial, bem como de reconciliação, a requerente
pleiteou liminarmente a decretação do divórcio, o qual foi concedido", destaca a magistrada.
Em sua decisão, a juíza explica que o divórcio
passou a ser caracterizado como um direito potestativo incondicionado,
fundamentado em norma constitucional. E, para sua decretação, não se exige a
apresentação de qualquer prova ou condição, portanto dispensável a formação do
contraditório. Por isso, o único elemento exigível à sua decretação é
exclusivamente a manifestação de vontade de um dos cônjuges.
Ela ainda cita, em sua decisão, o artigo 311,
incisos II e IV do Código de Processo Civil, que demonstra a evidência do
direito material da parte autora. "Entendo
que estamos diante de um direito previsto no texto constitucional, do direito
incondicionado de se divorciar", frisa a magistrada.
Ao final da decisão, a juíza determinou a expedição
de mandado para averbação no registro civil de casamento, em que deverá constar
a opção de nome e que a partilha de bens ainda está pendente. O processo
tramita em segredo de justiça. Cabe recurso ao Tribunal de Justiça. (Fonte:
Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina).
Outro caso, semelhante, foi decidido pelo juiz Alberto
Raimundo Gomes dos Santos, da 6ª Vara de Família da Comarca de Salvador/Ba, que
decretou o divórcio em sede de liminar.
Segundo
os registros, essa decisão interlocutória é de junho de 2014, mas merece
especial atenção tendo em vista a fundamentação, que garante o direito do
cônjuge que pretende pedir o divórcio.
A
rigor, existem vários motivos para tal pedido liminar, uma vez que surgem casos
em que um dos cônjuges não quer o divórcio e tudo fará para prolongar o
processo, até mesmo se esquivar da citação ou o requerido se encontrar em lugar
incerto e não sabido há muitos anos ou simplesmente a espera da sentença restar
longa o bastante para manter os ex-cônjuges com o status de casados por
vários meses ou anos. Situações que requerem uma decisão em face da antecipação
de tutela (pedido liminar), conforme conste dos autos.
Vejamos
a referida decisão:
DECISÃO
INTERLOCUTÓRIA.
Processo
nº: 0518107-66.2013.8.05.0001
Classe
– Assunto: Divórcio Litigioso -
Dissolução
Requerente:
I. J. D. O.
Requerido:
R. D. C. C. D. O.
Vistos,
etc.
Quanto
ao pedido antecipatório lançado em audiência de fls. 17, muito embora não
exista comprovação pelo Autor, da alegada propriedade de bens, constituídos
durante a relação matrimonial e, acompanhando entendimento adotado pela
Eminente Juíza de Direito, Dra. Francisca Cristiane Simões Veras Cordeiro, em
decisão fartamente fundamentada emitida nos autos do processo nº
0004428-81.2012.805.0004, em curso na Vara Cível da Comarca de Alagoinhas/BA,
abaixo transcrita in verbis, observando que a antecipação da tutela
quanto à decretação do Divórcio do casal, não ofende ao princípio do
contraditório, tendo em vista que, manter-se casado, é matéria apenas de
direito e, quanto as demais questões, que porventura possa a Ré pretender se
indispor, poderão ser objeto de debate continuado nos próprios autos, liberando
portanto as partes para realização da felicidade afetiva:
"Decido.
3 – Com o advento da Emenda Constitucional n. 66/2010, que deu nova redação ao § 6º do art. 226
da Constituição Federal, houve a supressão da
exigência de se observar o decurso do lapso temporal da separação de fato,
restando unicamente a aplicação do direito, sendo desnecessária instrução
probatória em audiência. 4 – Por outro lado, os alimentos em favor da filha
menor do casal serão objeto de discussão neste mesmo processo, sendo certo que
o divórcio ou o novo casamento dos pais não modificará os direitos e deveres
destes [pais] em relação aos filhos (art. 27 da Lei do Divórcio e art. 1.579 do CC).
Ademais, conquanto não tenha a Autor carreado aos autos prova da inexistência
de bens suscetíveis de partilha, certo também é que a prévia partilha dos bens
não constitui requisito para a decretação do divórcio, conforme teor do art. 1.581 do Código
Civil e da Súmula n. 197 do Superior Tribunal de Justiça, razão pela
qual eventual discussão acerca da existência de bens a partilhar não tem o
condão de impedir a decretação do divórcio. 5 – Nesse passo, vê-se que o objeto cognitivo do Divórcio Litigioso é
extremante restrito, estando vedada a discussão de culpa ou qualquer
descumprimento de obrigação conjugal, não sendo admissível que controvérsias
outras, como a partilha de bens e os alimentos, se interponham como óbice para
o reconhecimento da dissolução do vínculo matrimonial. 6 – Nesse sentido,
colhe-se a precisa lição de Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald1:
“Seguindo a linha facilitadora do divórcio e lembrando do requisito único
exigido pela Lei das Leis, não se pode deixar de perceber que o objeto
cognitivo do divórcio litigioso é extremamente restrito, pois o acionado não
mais poderá alegar a culpa ou o descumprimento de obrigações conjugais, em sua
defesa de mérito, em razão da vedação de tais discussões. Não se admite, assim,
que controvérsias outras sirvam de óbice ao reconhecimento da dissolução do
vínculo matrimonial, perdendo-se o juiz no meio de discussões relacionadas, por
exemplo, à fixação de alimentos ou à reparação de danos morais.” 7 – Na
espécie, portanto, ausente qualquer controvérsia sobre o casamento e
manifestando-se incisivamente o autor não haver qualquer possibilidade de
reconciliação, eis que as partes já possuem, inclusive, outros relacionamento,
sendo definitiva sua posição de divorciar-se da ré, preenchido está o
requisito de que trata o art. 273, § 6º, do Código
de Processo Civil, sendo patente o acolhimento do pedido
antecipatório, não havendo se falar em tal modalidade de antecipação de tutela
em subordinação aos requisitos do art. 273, “caput” e incisos I e II, do CPC.
8 – Nesse sentido, colaciona-se decisão do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo assim ementada: “Divórcio Judicial. Tutela antecipada. Indeferimento.
Inconformismo. Separação de fato há mais de 02 (dois) anos incontroversa.
Incidência do artigo 273, § 6º do CPC.
Desnecessidade de preenchimento dos requisitos do artigo 273, caput e incisos I e II do CPC.
Decisão reformada. Agravo de instrumento provido.” (Agravo de Instrumento nº
571.837-4/4-00, Rel. Des. Piva Rodrigues, 9ª Câmara de Direito Privado, julgado
em 02/09/2008) 9 – Posto isso, DEFIRO o pedido de ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA
TUTELA, formulado na inicial, a fim de DECRETAR O DIVÓRCIO de R. B. D. S. J. E
A. R. F. D. S. B., extinguindo o vínculo matrimonial. 10 – Não havendo recursos
interpostos contra a presente decisão, expeça-se mandado de averbação ao
respectivo Cartório de Registro Civil (art. 32, da Lei n. 6.515/77),
consignando-se que a divorcianda voltará a usar o nome de solteira: A. R. F. D.
S. E S.
Com relação a possibilidade de
concessão da tutela antecipada para a decretação do Divórcio do casal, sem o
estabelecimento do contraditório, entendo que não poderá haver prejuízo para a
Ré, visto que não existe a reversão do Divórcio para a manutenção do casamento,
em razão da vontade expressa de um dos cônjuges, que demonstra a ruptura da
relação afetiva, conforme entendimento já firmado por vários Tribunais, a
exemplo:
AGRAVO
DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE DIVÓRCIO. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. PEDIDO DE DIVÓRCIO
ANTES DA SENTENÇA. POSSIBILIDADE. EC 66/2010. Possibilidade de ser concedida uma
sentença parcial de mérito, em face da nova redação do parágrafo 1º do artigo 162 do CPC.
AGRAVO PROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70059163402, Sétima Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sandra Brisolara Medeiros, Julgado em
07/04/2014).
Também
sobre o tema, doutrinou o professor Gelson Amaro de Souza, em artigo publicado
no site eletrônico http://www.gelsonamaro.com, conforme
consulta realizada na data de hoje, às 13:59 horas:
"
10.2. Direito de defesa.
Diz MONTENEGRO FILHO[52] que o que lhe incomoda é
a supressão do contraditório e da ampla defesa. O engano é evidente, porque
esses princípios foram erigidos em benefício do réu, e se este já é vencedor na
ação, não sofre prejuízo e não há interesse em contestar (art. 3º do CPC)
e nem em anular o julgamento que lhe é favorável (art. 248, § 2º do CPC).
Sem interesse jurídico não se vê razão para o réu querer contestar a ação e nem
para arguir eventual nulidade. A atuação do réu deve ser sempre no seu
interesse jurídico e, quando este interesse inexiste, não se dá ensejo para
contestação. O direito de defesa existe para evitar prejuízo. Todavia, quando
inexistente prejuízo, não se vê razão para se falar em defesa. Neste caso a
defesa é desnecessária. Não se deve praticar ato no processo
desnecessariamente. Nenhum ato processual deve ser praticado sem finalidade Bem
lembrou IHERING: “De qualquer forma, que o fim possa vincular ao ato, ou de que
natureza venha a ser, sem finalidade, este ato é inconcebível. Agir
simplesmente, e agir em virtude de um fim significam o mesmo; Uma ação
destituída de finalidade é um absurdo tão grande quanto um efeito sem causa”
[53]. 10.3. Contraditório. O
que se falou em relação à ampla defesa ou o direito de defesa serve também para
demonstrar que se não há prejuízo para a parte, não se há reclamar a ausência
de contraditório. A parte não pode sofrer prejuízo sem que antes lhe seja
proporcionado o contraditório. No entanto, se nenhum prejuízo trouxe a ausência
de contraditório, não se há de reclamar desta ausência. Está previsto no artigo
249, § 2º do CPC,
que não se deve proclamar nulidade e nem repetir o ato se o mérito puder ser
julgado a favor da parte. Neste passo é que CAMIÑA MOREIRA [54] já deixou
assentado em brilhante lição, que não é imprescindível o contraditório para se
ter julgamento de mérito e coisa julgada. Princípios basilares do processo como
o contraditório, a ampla defesa e o devido procedimento legal, foram
instituídos em benefício da parte para evitar que ela sofra prejuízo. No
entanto, se nenhum prejuízo advier à parte, nada há a reclamar. É o que
acontece quando o mérito é julgado a favor do réu, em que a sua citação em nada
importa e mesmo desta não o prejudique. A ausência da citação nenhum prejuízo
trás ao réu (art. 249, § 2º do CPC).
Exigir-se o atendimento do contraditório quando a sua presença em nada altera o
resultado final e, a sua ausência, em nada prejudica a parte, é dar mais valor
à forma do que ao direito. É andar na contramão da moderna processualística. 10.4. Interesse do réu no processo MONTENEGRO
FILHO[55 ]afirma que a nova norma contraria premissas básicas do contraditório
e nem indaga se o réu teria interesse na continuidade do processo. O mesmo
equívoco se vê em GOUVEIA MEDINA[56], ao dizer que ao réu pode não interessar o
abortamento da ação, na medida em que tenha pretensão a deduzir contra o autor,
por via de reconvenção. E “ao réu não se faculta nenhuma forma de impugnação da
sentença de extinção prematura do processo”. Ora, não se faculta ao réu
recorrer da sentença de improcedência porque esta lhe é favorável e o recurso
só facultado a quem é prejudicado (parte ou terceiro) na forma do art. 499 do CPC[57].
O réu jamais poderá ter interesse na continuidade do processo que, logo de
início é julgado pelo mérito e a seu favor. Isto porque, que interesse poderia
ter no prosseguimento, para contestar e postular o mesmo resultado? De outra forma,
até mesmo para a ação precisa ter interesse (art. 3º do CPC)
[58]. Se a ação pode ser julgada a favor do réu sem contestação, não há
interesse jurídico em contestar. Pensar que o réu possa ter interesse em
contestar somente para auferir verba sucumbencial, além de injurídico é também
imoral. Também, participar do processo só para apresentar reconvenção é outro
absurdo. Primeiro, porque nem sempre o réu tem direito à reconvenção. Depois,
porque o autor poderá desistir da ação sem o consentimento do réu, desde que o
faça antes de decorrido o prazo para o réu contestar (art. 267, § 4º do CPC)[59].
Com a desistência do autor antes do prazo de resposta, fica o réu impedido de
reconvir. Logo, não é o julgamento de mérito inicialmente que vai prejudicar o
réu, até porque se extinta a ação sem julgamento de mérito (art. 267, do CPC),
também não poderá reconvir. Não é a impossibilidade reconvir que deve impedir a
extinção do processo liminarmente, com ou sem julgamento de mérito. Quando se
promulga uma lei nova, é normal que ela provoque divergência em sua
interpretação e assim não poderia ser diferente com esta que acrescentou o art.
285-A do CPC.
Todavia, é bom lembrar com REALE[60], que não se deve analisá-la isoladamente,
exige-se interpretação sistemática e em conjunto com as outras regras já
existentes.
Conclusões: Apresentadas essas premissas, pode-se concluir que
a nova norma inserida no art. 285-A do CPC,
representa um bom começo, mas deveria ser mais aberta para se permitir que o
mérito seja julgado inicialmente, sempre que a improcedência do pedido salte
aos olhos do julgador. Que essa norma nada tem de inconstitucional e nem viola
ou contraria princípios processuais, ao contrário, está em sintonia com a nova
dinâmica do processo e o princípio de que o processo é instrumental em relação
ao direito material."
Especificamente,
no caso dos autos, a Emenda Constitucional 66/2010, extirpou do ordenamento jurídico o
debate sobre a culpa no rompimento do relacionamento matrimonial como causa
para decretação do Divórcio, estabelecendo no entendimento da grande maioria
dos doutrinadores nacionais como premissa a necessidade da realização da vida
afetiva dos cônjuges, uma vez declarada a incapacidade de reestruturação da
sociedade conjugal, podendo, inclusive, ser decretado o divórcio, com a
resolução da partilha de bens posteriormente, a exemplo da Súmula nº 197, do
Superior Tribunal de Justiça.
Assim,
diante dos fundamentos acima adotados, CONCEDO A TUTELA ANTECIPATORIA do
direito reclamado pelo Autor e, DECRETO O DIVÓRCIO DO CASAL I. J. D. O. e R. D. C. C. D. O. , reservando qualquer discussão sobre a
partilha de bens, para o seguimento do feito.
Cite-se
e Intime-se a Ré para, querendo, contestar a ação em 15 (quinze) dias, sob pena
de revelia, nos termos do quanto preceitua o art. 319, do CPC.
Depois
de decorrido o prazo recursal, expeça-se mandado ao Cartório de Registro Civil
competente para averbação do Divórcio concedido, constando a manutenção do nome
de casada da Ré, em razão do seu direito de optar, o que poderá ser modificado,
com a expressão de sua vontade, após o contraditório.
Cite-se.
Intime-se. Expeça-se uma via original deste despacho com força de MANDADO DE CITAÇÃO e INTIMAÇÃO para
ser cumprido pelo Oficial de Justiça designado para o endereço abaixo indicado,
através do qual MANDA este Juízo que, em cumprimento ao presente, extraído do
processo acima indicado, EFETUE A CITAÇÃO/INTIMAÇÃO de R. D. C. C. D. O, residente
no XXXXX, nesta Capital, conforme DECISÃO acima proferida e
diante da petição inicial, cuja cópia segue anexa, como parte integrante deste.
PRAZO: O prazo para responder a ação, querendo, no prazo de lei (art. 297, CPC),
contados da juntada do mandado no processo. ADVERTÊNCIA: Não sendo
contestada a ação no prazo marcado, presumir-se-ão aceitos como verdadeiros os
fatos articulados pelo autor na petição inicial (art. 285 c/c o art. 319, do CPC).
Salvador (BA), 26 de junho de 2014. ALBERTO RAIMUNDO GOMES DOS SANTOS - Juiz de
Direito Titular.
Diante do exposto, um
caso mais recente e outro mais antigo, restando ambos com decisões que abraçam
a tese da possibilidade do divórcio com pedido liminar sem a citação da outra
parte, ou seja, mediante a antecipação da tutela, com as reservas de praxe
quanto aos filhos do casal e à partilha de bens, se existentes.
Wilson Campos
(Advogado/Especialista com atuação nas áreas tributária, trabalhista, cível e
ambiental/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses
Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Delegado de Prerrogativas da OAB-MG).
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