PANDEMIA DE “LIVES”

 

Em razão da quarentena do novo coronavírus ou da pandemia de Covid-19, como queira, as “lives” acabaram se tornando uma verdadeira febre no Brasil, sejam elas musicais ou não. Mas você sabe o que é “live”? Muito bem, parabéns,  “live” é uma transmissão ao vivo de áudio e vídeo na Internet, geralmente feita por meio das redes sociais.

 

Vale informar que nem tudo é permitido em uma “live”. Em geral, é proibido em “live”: uso de drogas; transmissão de conteúdo que possa causar danos a terceiros; divulgação de plataformas concorrentes ou conteúdos com direitos autorais; conteúdos de assédio, nudez, profanidade excessiva e grosseria; propaganda política; reprodução de conteúdos de TV ou similares; apologia a conteúdos sexuais, criminosos, suicidas ou políticos no geral; utilização de armas de fogo; atitudes danosas à segurança infantil; e divulgação de informações privadas.  

 

As “lives” mais comentadas e assistidas são as relativas aos shows musicais. Assim, segundo divulgado pela imprensa nacional, algumas apresentações do tipo, em especial os shows de cantores famosos, chegaram a ultrapassar 3 milhões de pessoas assistindo em tempo real às suas performances, em geral feitas pelo YouTube.

 

De certo modo é possível afirmar que essas “lives” acabaram se tornando também uma forma de os artistas conseguirem ajudar com arrecadação de alimentos, dinheiro e outros itens, as pessoas mais necessitadas durante o período em questão, que já passa de 150 dias. Além disso, as “lives” também representaram uma maneira de os artistas continuarem trabalhando, visto que os shows presenciais estão suspensos para que aglomerações sejam evitadas.

 

Em que pese a novidade do primeiro momento, as “lives” estão aos poucos se tornando desinteressantes, cansativas e repetitivas. Note-se que, de acordo com informações fornecidas pelo site Notícias da TV, o elevado número de transmissões ao vivo realizadas desde o início da “febre” acabou por fazer com que uma espécie de “efeito rebote” acontecesse: em vez de despertar o interesse do público, como aconteceu no início, atualmente as “lives” estão perdendo audiência.

 

A pandemia de “lives” acabou saturando o mercado, ou seja, atualmente, ocorrem tantas transmissões ao vivo em um mesmo dia que é difícil para o público conseguir acompanhar todos os seus artistas preferidos, em especial porque esses shows costumam ser longos. E o que falar das “lives” de empresas, de profissionais liberais, de palpiteiros, de fofoqueiros, de brincalhões e de gente que não tem o que fazer?

 

Sinceramente, até as “lives” corporativas estão dando sono, principalmente porque muitos “especialistas” dão aulas enfadonhas e debatem uns com os outros assuntos que deixam de ser interessantes diante de tanta repetição e falta de humildade. Todo mundo quer ensinar algo e demonstrar conhecimento, mas isso requer estudo, análise e dedicação, de maneira que o tema seja convidativo e transmita segurança aos interessados.

 

A maioria das “lives” no início da pandemia era interessante e prendia a atenção. Mas hoje a coisa está excessiva e quando vejo aquelas dezenas de “lives” programadas, que me chegam pelo WhatsApp, fico apático e sem a menor vontade de ver ou assistir. Estou sem paciência para tanta “live” e o grande motivo é ver pessoas e mais pessoas se achando geniais e fazendo caras e bocas em assuntos e situações que nem mesmo elas compreendem bem. Um despropósito!

 

Particularmente, vejo-me como aquele que, apesar da pandemia e do isolamento, continua trabalhando e usando os meios eletrônicos disponíveis, mas não me atrevo a fazer “lives” e sair por aí alardeando o sucesso do meu trabalho, a extensão do meu conhecimento ou o tamanho da minha preocupação com os problemas mundiais, mesmo porque sei da importância da minha atividade e conheço muito bem a minha competência. Francamente, eu posso até não ser interessante, mas meu trabalho com certeza é, não carecendo de “lives” para propagá-lo ou propagandeá-lo.    

 

Relevante notar que a pandemia do novo coronavírus começou em março. Desde então, segundo a mídia, quando se iniciaram as medidas de distanciamento social, os picos de buscas no Google pela palavra “lives” ocorreram nos dias 19 e 25 de abril e 2 de maio. As datas não coincidem com as maiores lives do YouTube, que foram da cantora Marília Mendonça, com 3,31 milhões de espectadores simultâneos em 8 de abril, e da dupla sertaneja Jorge & Mateus, com 3,24 milhões, em 4 de abril. Mas elas demonstram que logo após os recordes de audiência, o interesse do público pelos shows ao vivo transmitidos on-line explodiu, assim como a quantidade de transmissões, dividindo a audiência em diversos canais. Esses são dados divulgados pela imprensa.

 

Também da mídia a informação de que, a partir de maio, de acordo com os gráficos do Google, já é possível notar uma queda de 20% nas buscas. Em 12 de junho, Dia dos Namorados, houve um leve aumento e, daí em diante, a queda só se acentuou. É possível perceber também que os picos de buscas ocorrem sempre nos fins de semana. Nas segundas, terças e quartas-feiras o interesse é quase nenhum, voltando a crescer a partir das quintas-feiras.

 

A falta de interesse do público se refletiu também na oferta de atrações. No pico de audiência, os artistas lotavam o horário nobre com suas apresentações em busca das visualizações. Hoje, está cada vez mais difícil encontrar uma apresentação interessante ou o anúncio de algo para a semana. Já as “lives” de profissionais, técnicos, agentes corporativos e curiosos têm aumentado bastante, mas pecam pelo excesso, e isso tira a motivação de ver ou assistir. A demasia e o “querer aparecer” é pedante.  

 

A pandemia de “lives” tende a diminuir. Ufa! A diminuição das “lives” reflete também o processo lento de retorno às atividades, após 150 dias de confinamento. A queda de interesse está ligada ao fato de que, com o passar do tempo, a novidade foi se tornando algo pesado e cansativo para quem permanece em casa. Por enquanto, assistir às apresentações ao vivo só está sendo possível nos drive-ins, dentro dos carros, nos estacionamentos dos estabelecimentos que estão aderindo à nova modalidade. Mas, no caso dos shows, das palestras, dos cursos, dos seminários, dos debates, dos encontros e do “querer aparecer de qualquer jeito” pela internet, talvez esteja acontecendo o de sempre, quando algo vira moda e acaba saturando. De fato, ninguém aguenta mais a pandemia de “lives”. 

 

Esse artigo é uma singela resposta aos amigos e colegas que me cobram uma posição a respeito da enxurrada de "lives" que tomaram conta das nossas vidas nos últimos meses.  

 

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Delegado de Prerrogativas da OAB/MG).

 

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Comentários

  1. Eu também estou cheia de tanta live. Chega, pelo amor de Deus.
    Dr. Wilson eu estou 100% com sua ponderação. Parabéns!!!

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  2. Meu caro dr. Wilson Campos, eu estou pelas tampas com tanta live. Todo mundo faz lives e manda para os grupos. São assuntos diversos e pra todos os gostos. Mas já deu. Chega. E pior é que tem gente dizendo que isso de lives veio para ficar. Jesus me ajuda porque é live de tudo que existe e de assuntos os mais diversos possíveis. Haja paciência. Abraços Dr. Wilson e tudo de bom, como sempre com artigos excelentes para leitura e aprendizado. Bravo meu caro advogado. Marcelo Natalino.

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