REFORMA TRIBUTÁRIA: O PRIMEIRO PASSO.
Se os detentores do
poder político têm medo de uma reforma tributária abrangente, que minimamente
ameace os grandes empresários, os donos de grandes fortunas ou eles próprios, que
comecem então, passo a passo, pelo reconhecimento de que o consumidor não pode mais
pagar essa conta salgada da tributação, principalmente aquele que sobrevive do
salário de trabalhador.
A saída para afrouxar
a tributação sobre o consumo passa pelo aumento de tributação sobre patrimônio
e renda.
Paralelamente à atual
campanha presidencial (2018), existe consenso entre especialistas sobre a
necessidade de tornar a cobrança de tributos mais simples, compensar os
contribuintes mais pobres e restringir a concessão de isenções a empresas.
Essa convergência se
dá pela aproximação entre as visões do Instituto de Estudos Socioeconômicos
(Inesc), organização não governamental brasiliense ligada a movimentos sociais,
e o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), de Curitiba (PR),
responsável pela elaboração do Impostômetro, referência constante entre
empresários que reclamam da alta incidência de impostos no Brasil.
A sintonia entre os
especialistas é percebida quando há o entendimento de que é preciso tirar um
pouco da tributação sobre o consumo e aumentar sobre o patrimônio e renda,
posto que isso pode fazer com que os produtos fiquem mais baratos, o que
permite maior giro e lucratividade.
Há consenso também no
sentido de que a forma como a carga tributária é distribuída no país incide
muito mais sobre tributos indiretos, que são extremamente regressivos, o que é prejudicial
não apenas para a justiça social, mas para a própria economia. Daí a necessidade
de se repensar essa questão, ponderadamente, de forma que nem o povo nem o
governo sejam lesados.
As duas visões são
acompanhadas pelo atual secretário da Receita Federal, Jorge Rachid. Segundo
ele “hoje, 48% de nossa carga é incidente sobre consumo. A pessoa na
camada mais baixa de renda acaba tendo a renda mais comprometida com esse
tributo do que acontece com uma pessoa de alta renda. Então, há necessidade
dessa revisão”.
Rachid assinala que,
além de injusta, a tributação sobre consumo é extremamente complexa. “Chegamos
ao ponto de ter legislação para duas ou três empresas que estão
dentro de um setor econômico. Isso não é correto”. Ele avalia que, assim como a
regressividade dos impostos, a burocracia que se origina do excesso de normas é
antieconômica. “A legislação está chegando a um ponto que está sendo
prejudicial para o crescimento do país. A necessidade da mudança passa a ser
uma imposição”.
Sopesando esse mesmo
ponto do problema, a urgência também é apontada pelo Banco Mundial. A
instituição multilateral estima que as empresas gastam 1.958 horas por ano e R$
60 bilhões para vencer a burocracia tributária. Ou seja, essa situação está se
tornando insuportável e precisa urgentemente de uma solução efetiva.
Especialistas também
afirmam que os efeitos da burocracia e do cipoal de normas causam insegurança
jurídica dos contribuintes e aumento de contencioso nos tribunais. Segundo dados
levantados, há em litígio mais de R$ 3,3 trilhões em disputas tributárias
(processos administrativos, demandas judiciais e dívidas em execução). Ou seja,
a situação é péssima e tende a piorar.
A Constituição
Federal, com centenas de dispositivos tributários, contribui muito para o volume
do contencioso, haja vista que tais dispositivos podem ser questionados do
ponto de vista constitucional. Equivale dizer que, desde o momento que a
matéria tem decisão em primeira instância e somente se encerre em razão de recurso
extraordinário no Supremo Tribunal Federal, isso leva de 10 a 20 anos.
A sugestão para o
próximo presidente da República é que ele faça uma consolidação da legislação
tributária e elimine 70% das burocracias e obrigações para pagar imposto no
Brasil. Se isso acontecer, os empresários vão dar graças a Deus, porque aceitar
mais tributos é uma coisa, mas ter de conviver com tamanha burocracia é um
inferno. Ora, o empresário quer mais tempo para vender, para comprar, para
prestar serviços e ter mais segurança no seu negócio.
Entretanto, isso não
é tudo, pois além de enxugar normas e dar racionalidade ao sistema tributário, o
próximo presidente vai ter que enfrentar o desafio de revisão de
benefício tributário. Para tanto, vai precisar encontrar no Congresso um
ambiente propício para esse debate, uma vez que a isenção fiscal requer análise
e tempo certo para ser concedida, e de preferência que venha junto com justificativas
sérias, necessárias, contemplando uma política de governança e operada por um
indivíduo que será responsabilizado por esse trabalho.
A estimativa divulgada
pela equipe da pensada reforma tributária na Câmara dos Deputados dá conta de
que ao todo as renúncias fiscais custem anualmente R$ 500 bilhões aos cofres
públicos. Dizem que, em muitos casos, são os próprios parlamentares que incluem
normas para poupar empresas de pagar impostos. Agora, sinceramente, tem
cabimento tanta bondade com o sacrifício do povo?
A barreira para que a
situação tributária melhore no país está também no excesso de “interessados”,
incluindo vários governadores que temem perder arrecadação, e com isso podem dificultar
o andamento da reforma tributária, como vem ocorrendo há anos e está pelo
caminho até hoje. Ou seja, ninguém quer perder. Se alguém perde, gera veto,
e a reforma tributária vai ficando esquecida. Enquanto isso, lamentavelmente, os
tributos crescem, o consumo é fortemente taxado, o contribuinte mais pobre
sofre com a tributação escorchante, as isenções para empresas não cessam, as
grandes fortunas saem ilesas, e o patrimônio e a renda escapam do aumento de
impostos. Até quando?
Se não acontecer
muito rapidamente a reforma tributária, indispensável para todos os brasileiros,
as empresas vão fechar, vão embora, assim como já foram muitas multinacionais,
que não suportaram tanta burocracia, tantas normas e tantos tributos
inexplicáveis. A situação é essa. Difícil de entender e de suportar. Juízo,
Brasil!
Wilson Campos
(Advogado/Especialista em Direito Tributário, Trabalhista, Cível e Ambiental/Presidente
da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da
OAB/MG).
Se acontecer essa reforma mínima como recomendada pelo ilustre advogado Dr. Wilson Campos, já será um bom começo para diminuir essa carga tributária terrível que acaba com o contribuinte, com o consumidor e com o assalariado. Boa sugestão Dr. Wilson. Parabéns!!! Onofre P.
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