A SOLIDÃO E O MEDO LEVAM A RÚSSIA À INVASÃO DA UCRÂNIA.

 

A decisão de uma operação militar da Rússia contra a Ucrânia revela uma solidão imensa por parte de Vladimir Putin, que se vê isolado do resto do mundo e sem a possibilidade de mostrar o seu poderio bélico, os seus ternos bem cortados, os seus amplos salões em palácios suntuosos, a mesa enorme que o distancia dos demais chefes de governos e a frieza com a qual se apresenta frente às câmeras de televisão.

A solidão de um cidadão comum é um caso sério. A solidão de um líder autoritário e vingativo é pior ainda. Não queiram os russos, os ucranianos, os brasileiros e todos os habitantes do planeta entenderem a cabeça do presidente Putin, pois a razão não está lá, o bom senso há muito abandonou seu cérebro, a fraternidade nunca esteve presente nas suas ações e o amor ao próximo não é uma expressão adotada pela cartilha que ele lê.

Rapidamente, sem esgotar o triste tema de uma guerra egoísta e desnecessária, vale observar que uma das principais causas do conflito entre Rússia e Ucrânia seria justamente uma possível entrada da Ucrânia na aliança militar. Outra razão seria a vontade russa de desmilitarizar o país vizinho e depor o atual presidente, colocando em seu lugar um líder pró-Moscou. Mas são apenas esses os motivos para invadir uma nação e matar pessoas inocentes?

Os motivos são de caráter pessoal. Os cidadãos russos e os cidadãos ucranianos não foram consultados sobre a necessidade da guerra. Ao contrário, os cidadãos de ambos os lados foram ignorados, valendo apenas e tão somente a vontade de um líder com síndrome de ditador, pouco ou nada acostumado a ser contrariado ou desobedecido, independentemente das regras mundiais.

De fato, a principal razão por trás desse conflito é o desejo da Ucrânia em fazer parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), uma aliança militar internacional fundada em 1949 e que conta com 30 países-membros, entre eles: Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Grécia, Turquia, entre outros.

Todavia, acredita-se que os motivos vão além, especialmente se a situação for vista pelo todo que está em jogo - uma questão cultural e geopolítica; a Rússia não quer um vizinho alinhado ao ocidente, inscrito na Otan e com laços com a União Europeia; o presidente Putin tenta preservar sua influência sobre uma área que já foi a parte mais alta da pirâmide da União Soviética; a elite russa continua com a ideia de que a Ucrânia ainda pertence ao império russo; e as nuanças dos conflitos têm estreita relação com os laços culturais, mas, sobretudo, com os laços políticos perpetuados por aqueles que caminham passo a passo com o presidente Vladimir Putin.

Lamentavelmente, de ambos os lados as lideranças fracassaram no diálogo, decidiram entre as cabeças pensantes dos comandantes civis e militares, mas esqueceram ou deixaram de fora, de propósito, as opiniões e os desejos dos cidadãos comuns russos e ucranianos. Assim, à revelia da cidadania, o conflito não vai encontrar uma solução fácil, porquanto nenhum dos dois lados quer abrir mão das suas exigências, e a diplomacia que vá para a lata do lixo, levando consigo a Carta da ONU, que prevê que cada país decide seus próprios termos, mas não inibe ou afasta a participação popular, seja de russos ou ucranianos.

A reação internacional à ação violenta do urso contra o gato deixou muito a desejar. Acredita-se que os líderes das potências mundiais poderiam ter feito mais, muito antes de se consolidar a invasão, pois as conversas poderiam ter dissuadido Putin a não ir tão longe na sua afronta e evitarem-se destruição e mortes, ainda mais depois de dois anos de terror em razão da nefasta pandemia de Covid-19.

A tão poderosa China poderia ter contribuído para pacificar a questão, de forma que Putin diminuísse sua arrogância. Os países europeus parceiros da Otan poderiam ter aconselhado o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, para que escutasse seu povo antes de enfrentar uma luta tão desigual do gigantesco urso contra o pequeno gato.

Em verdade, o grande receio ou até mesmo o maior medo de Putin é permitir que seus possíveis inimigos usem a porta de entrada da Ucrânia para adentrar seu país. Ou seja, ele teme que um bloco abertamente hostil como a Otan poderia usar a Ucrânia para deixar a Rússia encurralada geopoliticamente. E o raciocínio de Putin remete ainda ao fato de que, se a Ucrânia se filiar à Otan, isso serviria como uma ameaça direta à segurança da Rússia, uma vez que o país vizinho poderia ser usado como um trampolim para um ataque aos territórios russos.    

A grande solidão de Putin, sempre apegado ao poder, mas isolado do resto do mundo, com exceção apenas de alguns poucos países com quem se relaciona e nos quais confia, é um fato incontroverso. A rigidez do presidente russo demonstra que ele nunca está inteiramente feliz. E isso remete à situação de quando o Ocidente tinha todas as cartas na mão em 1990-1991, e não soube aproveitar, não dando o devido crédito à União Soviética, que conseguiu um fim relativamente pacífico do império, feito quase sem precedentes, mas não reconhecido pelos grandes países ocidentais. Com isso, restou a mágoa e o início da solidão da Rússia.  

O fim da União Soviética precipitou uma enormidade de reuniões e negociações de alto nível entre autoridades americanas e soviéticas - mais tarde russas –, mas nunca foi feito um esforço sério para integrar os russos. Ou seja, a mágoa cresceu, a solidão tomou conta do atual líder russo e a vingança veio em cima da Ucrânia, que vinha se tornando muito amiga dos países atrelados à Otan.

Resta ao mundo se conscientizar da desnecessidade de guerras para acertar ponteiros políticos e geopolíticos. Não vale a pena. O que vale é a vida e muitos inocentes estão morrendo. Mas as ações de paz devem ser iniciadas já, sem mais delongas, posto que o mundo está estressado e sem saúde, pois a pandemia invisível ainda ronda as vidas humanas mundo afora e as guerras são irracionais e oriundas da demência intelectual dos líderes mundiais, solitários, avessos ao diálogo e distantes da opinião popular.

A solidão é um mal terrível, seja para o poderoso urso da Rússia ou para o pequeno gato da Ucrânia. A solidão é um sentimento negativo, que coloca em risco todos aqueles que, por algum motivo, se desconectam do mundo ao redor. A solução para a solidão é a proximidade, o intercâmbio, a interlocução, a conversa e a postura de construir pontes, e não destruir sonhos. Assim deve ser com a Rússia e a Ucrânia.

O Brasil e os demais países do mundo precisam se posicionar em favor da paz e tornarem a convivência e as relações internacionais harmoniosas, a começar pela Rússia e a Ucrânia, de maneira que a solidão do urso não seja uma arma contra o gato, mas um chamado para a cura do isolamento e um remédio para a PAZ.

Wilson Campos (Advogado/Especialista com atuação nas áreas de Direito Tributário, Trabalhista, Cível e Ambiental/ Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG, de 2013 a 2021/Delegado de Prerrogativas da OAB/MG, de 2019 a 2021).

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Comentários

  1. Fantástico este artigo Dr. Wilson. Excelente essa conotação da solidão e do urso e do gato. Paz!
    Paz para todos nós. Parabéns!!!!!!!!!!!!!!!!

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  2. Eu fiquei presa na leitura do texto desde o começo. Achei super interessante e lógico. Parabéns doutor. Muito bom e super consciente. Paz Sim. Solidão Não. Gratidão. Jacyra A.

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  3. O medo da Rússia levou Putin a invadir a Ucrânia porque no0 meu modo de ver ele temia a invasão de seu país pelos países europeus da Otan. Putin é narcisista e egocêntrico o suficiente para se achar melhor do que todo mundo e por isso começou a guerra de gigante contra anão, e vai tomar tudo porque a força militar da Rússia é muito grande e os países de fora apenas acenam com bloqueios econômicos e nada mais. Isso é pouco. E Putin vai sair montado no seu URSO , sem camisa, e vai contar com a simpatia da China comunista, mas vai continuar na solidão porque com esse genio do mal ninguém quer proximidade. ACEITO E APROVO O SEU ARTIGO DR WILSON CAMPOS E CONCORDO TOTALMENTE. abrs. Brenner de Villas.

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  4. Li, reli e acho que está certo seu pensamento, sempre moderado e correto como deve ser Dr.Wilson. O assunto é complicado e o melhor é a paz mesmo porque de problemas estamos cheios e com a covid-19 já estamos superados de sofrimento e não queremos mais NÃO. BASTA. Parabéns Dr Wilson pelo lado equiliobrado da questão. !!! Que prospere a PAZ como o senhor disse e eu quero também. Att: Flávia Damasceno.

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  5. O senhor Vladimir Putin é um caso de psiquiatra. Os paéses da Otan deveriam saber disso e não cutucar o vizinho maioral da Ucrânia com vara curta. Os inocentes pagam agora pelos erros dos maiorais que sempre erram, mas nunca colocam suas caras na reta. Os presidentes brigam e agridem e depois a conta sobra para o povo pagar. Guerra imbecil, idiota e absurda. Presidentes babacas que usam soldados trabalhadores para fazer o que não tem coragem de fazer - ir para o front e combater e guerrear. Ficam nos seus palácios, de longe. Dr. Wilson o senhor disse tudo e assino embaixo. Abraço fraterno do Márcio Manuel de P.S.

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  6. É um tema complexo e requer audição bastante atenta e aberta a todas as contextualizaçōes.
    Estou nessa fase. Não dá para ser taxativo, pelo menos por enquanto.

    A única coisa que sabemos é que a briga é desigual, que os "colegas de sala" não deram aquela força prometida, quando o Grandão prometeu pegar o pequenino lá fora, depois da aula.

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  7. Muito bom e retrata o que realmente acontece com o presidente Russo, autoritário e frio. Muito bom o artigo Dr. Wilson Campos. Javier N.

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  8. Qualquer guerra é triste e só traz dor e sofrimento para as populações envolvidas e as vizinhas que também pagam pelo desastre. A grandeza deve estar na conversa, no diálogo entre as partes como disse o Dr. Wilson. Conversar, dialogar e interagir para aproximar as nações. PAZ.

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