MINISTRO DO SUPREMO, LUÍS ROBERTO BARROSO.
“Em um dos embates com Gilmar,
recentemente, o ministro Luís Barroso disse que o país ‘se perdeu pelo caminho’,
em referência à corrupção e aos desvios do dia a dia”.
O
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, além de
magistrado é jurista e professor. Atuou como advogado e como procurador do Estado
do Rio de Janeiro. Tomou posse na Corte em 26 de junho de 2013.
Uma
atuação marcante para a sociedade brasileira foi a decisão de Barroso de votar
pelo desmembramento do processo do “quadrilhão” do PMDB da Câmara e pela
submissão de investigados ao poder do juiz Sérgio Moro.
Independentemente
das demais atuações do ministro Barroso, merecedoras de elogios de uns e críticas
de outros, o importante é a sua fala sempre pontual contra os irritadiços e
irônicos comentários do ministro Gilmar Mendes, que tem recebido atenção
especial das redes sociais, mas de maneira nada recomendável para um membro da Suprema
Corte. Ao contrário de Gilmar, o ministro Barroso tem sido agraciado com
palavras de incentivo para que não dê trégua aos pares que defendam quaisquer
interesses de políticos investigados.
Barroso
acusou Gilmar de ser leniente com o crime de colarinho-branco, disse que ele “não
trabalha com a verdade”, e afirmou ainda que Gilmar vive “destilando ódio”.
Em
um dos embates com Gilmar, recentemente, o ministro Luís Barroso disse que o país
“se perdeu pelo caminho”, em referência à corrupção e aos desvios do dia a dia.
“Eu quero dizer que eu vi a fita, eu vi a mala de dinheiro, eu vi a corridinha
na televisão, eu li o depoimento de Youssef, eu li o depoimento de Funaro”.
Barroso se referia a um vídeo da ação controlada da Polícia Federal, que pegou
o ‘homem da mala’ – Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor especial do presidente
Michel Temer -, correndo por uma rua de São Paulo, em abril, carregando 10 mil
notas de R$ 50, ou R$500 mil em dinheiro vivo, que, segundo consta, seria propina
da JBS.
“Nós
vivemos uma tragédia brasileira, a tragédia da corrupção que se espraiou de
alto a baixo, sem cerimônia”, afirmou o ministro, na sessão plenária do
Supremo.
“Um
país em que o modo de fazer política e negócios funciona assim: o agente
político relevante escolhe o diretor da estatal ou o ministro com cotas de
arrecadação. E o diretor da estatal contrata em licitação fraudada a empresa
que vai superfaturar a obra ou um contrato público para depois distribuir
dinheiros”, diz, enfático, Barroso.
“E
aí não faz diferença se foi para o bolso ou se foi para campanha, porque o
problema não é para onde vai, o problema é de onde vem”. “É a cultura de
desonestidade que se cria de alto a baixo, com maus exemplos, em que todo mundo
quer levar vantagem, todo mundo quer passar os outros para trás, todo mundo
quer conseguir o seu sem mencionar as propinas para financiamentos públicos,
tudo documentado”. “Portanto, são diferentes visões da vida e do país”,
assevera o ministro.
Luís
Barroso rebateu os que apontam ofensivas ilícitas contra o crime do colarinho
branco. “Eu não acho que há uma investigação irresponsável, acho que há um país
que se perdeu pelo caminho, naturalizou as coisas erradas, e nós temos o dever
de enfrentar isso e de fazer um novo país, ensinar as novas gerações que vale a
pena ser honesto, sem punitivismo, sem vingadores mascarados, mas também sem
achar que ricos criminosos têm imunidade, porque não têm”.
Barroso
rechaçou a possibilidade de investigados sem foro privilegiado ficarem sob o
guarda-chuva da Corte máxima. “É entendimento pacífico do tribunal que o foro
por prerrogativa só beneficia o agente público e, evidentemente, não há como
pedir essa extensão”.
O
ministro avança nos seus argumentos e afirma: “Tudo me parece muito simples.
Uma vez determinado o desmembramento e a baixa (do caso à instância inferior),
não há razão e penso que não há sequer legitimidade pro Supremo avançar pra
deliberar sobre o mérito de uma coisa que já assentamos que não temos competência
(para analisar)”. “Os investigados são réus como todos os demais e a eles se
aplica o mesmo código de processo que se aplica a todo mundo”.
Uma
coisa é certa: o Supremo está dividido, lamentavelmente, com exemplos severos
de brigas, picuinhas e falta de compromisso com a Constituição, em que pese
estar correto até aqui o ministro Barroso, muito aplaudido pelo povo nesse
momento de entrevero com Gilmar.
Aliás,
vale notar, que, por um lado, existe um grupo comandado por Gilmar Mendes, que
alega estar preservando direitos dos cidadãos e evitando abusos. Já por outro
lado, Luís Roberto Barroso lidera ministros que querem combater a impunidade e
reduzir privilégios. De sorte que, folgadamente, o grupo de Barroso conta com a
simpatia e a recepção do povo brasileiro, antipatizado largamente com Gilmar e
seus seguidores.
Na
Corte, a eloquência de Barroso contrasta com o riso irônico de Gilmar. Os dois
se enfrentam por palavras e, espera-se, não passem disso, em nome do Supremo e
do Estado Democrático de Direito, que precisam ser preservados e estarem acima
das diferenças havidas no plenário ou fora dele. O STF tem uma missão constitucional,
porquanto a ordem jurídica seja medida pela régua da Suprema Corte, que não
pode se dar ao luxo de fugir às suas responsabilidades.
Contudo,
o ministro Barroso não pode e não deve permitir que Gilmar faça o que tem feito,
sem escutar a razão de quem dele discorda. Também a presidente do STF, Cármen
Lúcia, pode e deve ser mais exigente com Gilmar, de forma que os demais pares
acompanhem o procedimento adequado e esperado de uma Suprema Corte de um país
democrático.
Na
condição de advogado militante, coloco-me a favor da Constituição, da Ordem
Jurídica e do Estado Democrático de Direito, não cabendo-me interferir no
sistema procedimental do Supremo, mas também não admitindo que interesses políticos
duvidosos coloquem em risco a seriedade necessária e exigida do Poder
Judiciário. A rigor, magistrados devem exercer a notável missão de julgar
despidos de vaidades e interesses pessoais, mormente quando o país requer
cuidados especiais, seja pela crise econômica ou pelos desacertos gritantes dos
políticos eleitos.
Resta-nos,
portanto, em razão dos recentes acontecimentos na Corte, manifestar a nossa
preocupação e pedir aos senhores magistrados que desempenhem os seus ofícios
com imparcialidade, serenidade, equilíbrio, isenção, transparência e respeito
ao povo brasileiro.
- Gostou do texto? Compartilhe com amigos e familiares para que também possam ler mais sobre o assunto.
Wilson
Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses
Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Especialista em Direito Tributário, Trabalhista
e Ambiental).
Comentários
Postar um comentário