O ADVOGADO E SUA EXCELÊNCIA, O JUIZ.
O juiz é um servidor público, um representante do
Estado, um servo da lei. Se, porventura, Sua Excelência vai além disso, exerce
de forma indigna a sua atividade. A função pública do juiz deve ser exercida
rigorosamente dentro dos termos da Constituição da República.
O juiz, assim como o advogado, são peças
importantes para a operação e a aplicação do direito. Ambos são administradores
da justiça. Portanto, a força da autoridade da toga não há de precisar
mostrar-se pela arrogância ou prepotência. A saudável e sóbria humildade é
ainda aquela advinda da maturidade, fortalecida pela sabedoria. Esta tem uma
eloquência própria que a faz acatada com justo respeito.
Com efeito, o juiz, tanto pelo acervo de educação
profissional jurídica, como pela solidariedade de fins, deve respeitar o
advogado, o qual, por sua vez, não deve consentir nenhuma lesão a seu decoro
profissional nem restrição a seu direito.
Não há excelência no juiz que nunca tenha lido ou aprendido
as lições de Platão, Aristóteles, Santo Tomás de Aquino, Carnelutti, Hans
Kelsen, Ruy Barbosa, Sobral Pinto. A excelência está no aprendizado diário com
esses ilustres pensadores e não no sentimento egoísta de que tudo sabe e tudo
pode.
Sua Excelência, o Juiz, não manda calar a boca um
advogado que quer a palavra e não ameaça prender quem dele discorda. Um sábio
juiz não debocha de um simples erro do causídico, não agride, não ignora, não
desdenha e não coloca o dedo em riste. Sua Excelência, o Juiz, não comete
tamanhas estultices.
A liderança que se espera de Sua Excelência, o
Juiz, não é a praticada por muitos juízes que desconhecem o valor e a dignidade
do ser humano, mas aquela que prega o respeito mútuo e traz para em torno de si
a segurança que a todos assiste e interessa.
A justiça de Sua Excelência, o Juiz, nunca foi
sinônima de imposição, mas de formação harmônica da igualdade de direitos. E,
como bem já advertia Platão: "não pode haver justiça sem homens
justos". A “juizite” que torna os magistrados arrogantes, intolerantes e
distantes das partes e de seus procuradores, nada mais é que a falta de
modéstia de um servidor público que tinha tudo para ser exemplo, mas que se
satisfaz em ser mais um na multidão.
Sua Excelência, o Juiz, não é Deus. Todavia, há
muitos e bons juízes país afora. E não são poucos. No Brasil, onde o sistema
bicameral prima pela inércia, pela política de interesses e se esquece de
legislar, os bons juízes ganham importância pelo protagonismo da coragem das
decisões de vanguarda, mormente nas questões abarcadas pelo princípio da
igualdade e na interpretação cidadã dos direitos capazes de se conformar na
consolidação de jurisprudências, embora não soltas ou à revelia dos outros
poderes, posto que eficazes os pesos e os contrafreios da legalidade
republicana.
Também há muitos e bons advogados país afora. E são
maioria. O requisito básico é o advogado pautar-se pela urbanidade para com
todos, não confundindo combatividade e independência com agressividade e falta
de polidez.
Para finalizar, uma singela homenagem ao advogado e
à Sua Excelência, o Juiz, na medida de suas reais prerrogativas:
O aplaudido Piero Calamandrei, no seu clássico
"Eles, os Juízes, visto por nós, os advogados", referindo-se,
sabiamente, à urbanidade nos tribunais, escreveu: "A nobre paixão do
advogado deve ser, em todos os casos, compreensiva e razoável. É preciso ter os
nervos bastante sólidos para saber responder à ofensa com um sorriso amável e
para agradecer com uma impecável reverência ao presidente rabugento quando vos
retira a palavra. E fica assente de uma vez para sempre que vociferar não é um
sinal de energia e que violência improvisada não é o índice da verdadeira
coragem: perder a cabeça nos debates, quase sempre significa perder a causa do
cliente". A verdade é que um direito justo, idôneo e legalmente assegurado
não há de precisar da vociferação para ser reivindicado, porque dele emana uma
própria aura persuasiva.
Já o ilustre magistrado Sálvio de Figueiredo
recomenda ao Juiz "ser cortês com as partes e jurisdicionados, tratando-os
com urbanidade, não sendo "baixo com os grandes, nem arrogante com os
miseráveis", e menciona: "Como afirmou Jacques Charpentin, no
Colóquio Internacional da Magistratura, não é proibido sonhar com o Juiz do
futuro, cavalheiresco, hábil para saudar o coração humano, enamorado da ciência
e da justiça, ao mesmo tempo que insensível às vaidades do cargo, arguto para
descobrir as espertezas dos poderosos do dinheiro, informado das técnicas do
mundo moderno no ritmo desta era nuclear, onde as distâncias se apagam e as
fronteiras se destroem, onde, enfim, as diferenças entre os homens logo serão
simples e amargar lembranças do passado..."
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Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa
da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
Nós advogados temos de nos unir para que delegados, juizes, promotores, não nos desrespeitem, sob pena de perdermos a confiança na prerrogativa da função de administradores da justiça. Se somos respeitados, também respeitamos. Mas, se não nos respeitam, também não merecem respeito algum. Abraços, dr. Wilson. Muito bom o artigo. Virgílio C.J.Jr.
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