ERA UMA VEZ

                          
                  "Quem tinha emprego, perdeu. Quem cursava faculdade, trancou. Quem comercializava ou industrializava, faliu. Quem investia, desistiu. Quem plantava, chorou. Quem cantava, calou. E quem acreditava, desacreditou". 

 
Em um país não muito distante vivia um povo com o coração aos pulos. Lá, as notícias, nada boas, quando não eram sobre violência ou impunidade, com certeza traduziam-se em atos vergonhosos de politicagem e corrupção.

As esperanças de boas notícias diminuíam a cada ano, para tristeza daquela gente. Não que as pessoas dali fossem ruins ou pecadoras imperdoáveis, mas simplesmente porque não sabiam escolher os seus legítimos representantes.

O erro de escolha do povo cresceu na mesma proporção da irresponsabilidade dos políticos. A entrega foi tamanha e de tão grande confiança, que o eleito abusou e se tornou o locupletado e não o representante. O poder subiu às cabeças e a coisa desandou.

O povo cada vez mais pobre. Os políticos cada vez mais ricos. A verdade longe. A mentira sempre perto. A democracia ameaçada. Ninguém cedia. O Executivo desorientado. O Legislativo ganancioso. O Judiciário assoberbado. Tudo confuso. Restava o povo, ainda que perdido. 

A maioria dos representados se indignou. As ruas se encheram. Os protestos reuniram pobres e ricos, empregados e patrões, civis e militares. O povo se reuniu e cantou, como nunca, o Hino Nacional. E as faces coraram, o grito saiu e a emoção tomou conta do lugar. Mas, os representantes, os eleitos pelo povo, com demagogia, simplesmente, demandavam pela troca de favores.

A tensão era enorme. O povo, antes desinformado, alheio e indiferente, tornou-se um internauta, antenado, informado, e até certo ponto, erudito. Nem tudo estava perdido. Os cidadãos se redimiam do afastamento longevo de suas obrigações civis e, sobremaneira, fustigavam por cobranças éticas os seus representantes.

A normalidade demorava. O cabo de guerra entre o Executivo e o Legislativo era mediado pelo Judiciário, mas as soluções não vinham. A crise econômica foi se transformando, cada vez mais, em crise política e institucional. A rápida resolução se esvaia na medida em que os interesses particulares saltavam à frente dos interesses da nação. O ódio surgia. A intolerância crescia. 

A máscara caiu. A inflação voltou. O desemprego quadruplicou. A taxa de juros disparou. A recessão se instalou e o desespero tomou conta de todos, ou quase todos, uma vez que ainda resistiam os crédulos, ajoelhados, piedosos com aqueles que nunca se apiedaram. 

Os embates pareciam inevitáveis. As cores das camisas falavam mais que palavras. A intolerância surgida, mas indesejada, partira dos maus exemplos dos representantes. A plebe ignara se deixava confundir pelos discursos inflamados dos falastrões empoderados.

Quem tinha emprego, perdeu. Quem cursava faculdade, trancou. Quem comercializava ou industrializava, faliu. Quem investia, desistiu. Quem plantava, chorou. Quem cantava, calou. E quem acreditava, desacreditou.

Tudo era incerto, até que um dia, depois de muito sofrimento, o povo, sempre o povo, iluminado, no seu direito e em nome da Justiça, deu um basta. As ruas se encheram novamente de cidadãos e cidadãs, mas, desta vez, unidos e ciosos da lei e da ordem, mas sem partido político. O povo era um só, nas cores, nas bandeiras e nas exigências constitucionais.

A partir daí, a única voz que se ouvia era a voz do povo. Renascia uma grande nação para um grande povo. Nada mais justo. O segredo: o amor à nação, o apreço à democracia, o diálogo dos filhos da pátria e a cadeia para os ladrões. Os meios: a legalidade, a razoabilidade e o equilíbrio.

Wilson Campos (Advogado/Especialista em Direito Tributário, Trabalhista e Ambiental).

Comentários

Postagens mais visitadas