RIOS DE DINHEIRO PÚBLICO.
Não bastasse
a situação de desgoverno total em que se encontra o país atualmente, o povo
brasileiro ainda tem de suportar o custo oficial dos Jogos Olímpicos Rio 2016,
que teve um incremento de R$ 70 milhões e alcançou a marca de R$ 38,67 bilhões. Esse valor absurdo está informado na terceira atualização da Matriz de Responsabilidade,
divulgada em agosto de 2015 pela Autoridade Pública Olímpica (APO). As
explicações para esse sumidouro de dinheiro público não são convincentes, haja
vista que as cifras gastas em obras pouco transparentes aumentam a cada
semestre e, justamente, quando o país mais necessita de verbas para a saúde,
educação, transporte, segurança, moradia e tecnologia.
Se, até hoje,
não explicaram onde foram parar os milhões de reais excedentes do Pan-Americano
de 2007 e os bilhões de reais da Copa do Mundo de 2014, gastos de forma
exagerada e irresponsável, como avalizar a realização de uma Olimpíada, que
consumirá ainda mais dinheiro público? Não existe
credibilidade alguma a favor dos governantes que fizeram as trapalhadas
passadas, até que provem o contrário. Ou seja, até que demonstrem, com
transparência, na prestação de contas ao povo, onde e como gastaram tanto
dinheiro nos últimos eventos acima referidos.
O Comitê
Olímpico Internacional, ao dar a vitória ao Brasil e mais precisamente à cidade
do Rio de Janeiro para sediar os Jogos Olímpicos de 2016, demonstrou
desconhecer ou pouco se importar com a realidade da vida brasileira,
interessando-lhe apenas a jogada política internacional de premiar um país da
América do Sul.
A população
brasileira não pode mais abrir mão de serviços básicos como saneamento e
esgoto, transporte público de qualidade, hospitais bem aparelhados, escolas
equipadas e professores bem remunerados, alimentos e itens de primeira
necessidade mais baratos, tarifas públicas condizentes com o poder aquisitivo do
povo, ruas calçadas e iluminadas, estradas pavimentadas e sinalizadas e segurança
pública para todos. O povo não pode mais massagear o ego de governantes que se
lançam em aventuras incompatíveis com a grave crise econômica que atravessa o
país, que jogam dinheiro público pela janela e que não privilegiam
investimentos em causas prioritárias.
Com o
advento da Olimpíada Rio 2016, todos esses itens mencionados,
necessários, de fato, à vida das pessoas, serão colocados de lado, enquanto
rios de dinheiro público serão desviados para a construção de uma cidade
poliesportiva, que, sem gestão séria, se transformará em um elefante branco. De nada servirá para os pobres, que nada têm e nada podem perante um poder
público que, por anos e anos, nunca os enxergou nas filas quilométricas do
transporte urbano caótico, nos corredores dos hospitais lotados, nas salas de
aula de carteiras quebradas e professores desmotivados ou nas estradas
esburacadas e causadoras de acidentes violentos.
Faltam
apenas quatro meses para que a cidade do Rio de Janeiro se converta em um
paraíso de pessoas educadas, praias limpas, lagoas despoluídas, hotéis amplos e
modernos, transporte rápido e seguro, aeroportos com serviço ágil e cortês,
táxis com motoristas bem vestidos e inglês fluente, ruas e avenidas com placas
indicativas bem à vista, policiais prestativos e postados de cinco em cinco
metros, centenas de voluntários sorridentes e um sentimento de alegria no ar.
Será? Tomara, e que o espírito da verdadeira cidadania tome conta das pessoas,
para que nem tudo esteja perdido.
Todos os que
reclamaram pela festa olímpica, apesar da ausência de bons patrocínios para os
atletas, devem se preparar para cobrar a transparência dos gastos públicos, a
prestação de contas das licitações e dos investimentos e o respeito ao bem
público que poderá, quem sabe, retomado o crescimento, ser útil às futuras gerações
de atletas do Brasil. A torcida é
pela paz e pelo triunfo das Olimpíadas. No entanto, não cabe bater palmas para
aventuras bilionárias com desperdício de dinheiro público, quando a sociedade
tem necessidades muito mais urgentes a serem supridas pelo governo brasileiro.
Wilson Campos
(Advogado/Especialista em Direito Tributário, Trabalhista e Ambiental).
(Este artigo mereceu publicação do jornal ESTADO DE MINAS, edição de segunda-feira, 4 de abril de 2016, pág. 7).
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