POLÍTICA E CIRCO
As notícias da área econômica não são boas, e para piorar, chegou o circo da política nacional. A lona
esticada, multicolorida, toma conta do país. O pagante se prepara e conta as
moedas do bolso. Sabe que o show não será lá essas coisas, mas tem que pagar
pra ver. E ele paga, porque o circo chegou.
E os
palhaços somos nós, os contribuintes sem voz, submetidos a uma carga tributária
cruel e cada vez mais insuportável, mas necessária aos interesses exclusivos e
mesquinhos da política. Sim, os palhaços somos nós. Enquanto alguém grita “hoje tem marmelada”?, o povo que
enfrenta a fila e paga para ver o espetáculo é empurrado para o picadeiro e
transformado em palhaço de sorriso amarelo, que responde “tem sim senhor”!
O público se
acomoda. A pipoca e o refrigerante estão garantidos, afinal, já somos um país
de obesos. A luz do picadeiro se acende e eis que surge o apresentador
- de fraque, cartola e chicote. Olha para a plateia e sapeca "hoje tem espetáculo?". O
contribuinte, tímido, quase sempre mudo, rebate com um sonoro "tem sim senhor!". O
apresentador não se aguenta e remete novamente, "hoje tem marmelada?". O contribuinte, cabisbaixo,
retorna "tem sim senhor!".
E o show de vaidades e mentiras assim se desenvolve, até que, sob o rufar
dos tambores, os palhaços locais se mostram à luz do picadeiro.
O clima fica
tenso. Os palhaços, nada profissionais, se assustam, porque se veem na
plateia, e vice-versa. O silêncio se rompe com o estalar do chicote do
apresentador. Os palhaços se juntam em um canto e a plateia nem respira. O
momento é de expectativa e medo de uns, mas de ironia e sordidez de
outros. De um lado, o dono do circo, o apresentador que chicoteia. De outro, os
contribuintes, os palhaços sem graça, que a tudo obedecem.
O circo
chegou e os palhaços a baterem cabeças no picadeiro somos nós. A próxima
chicotada soa no ar como um tapa na cara dos que sempre abaixam a cabeça,
obedientes a tudo que seu mestre mandar. A voz renitente do apresentador volta
a incomodar os ouvidos do contribuinte, porque a frase dita friamente
"agora, senhoras e senhores, vamos
chamar os maiores espetáculos da terra e suas novidades aceitas somente
por aqui", funciona como mais um tapa na face já dolorida, e
isso humilha e machuca.
Mas o
insistente apresentador volta a repetir a frase e, complementando a anterior,
diz laconicamente: "vejam que
exemplos de políticos", "palmas para eles que aqui estão, de novo na
mídia":
- a Assembleia Legislativa de Minas Gerais é a mais
cara do Brasil e gasta a "bagatela" de R$1,5 bilhão por ano;
- os deputados mineiros recebem por ano mais de 15
(quinze) salários recheados de vantagens;
- os deputados estaduais se atropelam nos
corredores da Assembleia, mas não brigam pela restauração das estradas
mineiras, que estão de dar medo;
- a Câmara Municipal de Belo Horizonte custa
R$240 milhões por ano, e não consegue votar nem sequer o Plano Diretor da
cidade;
- os vereadores da capital não se entendem sobre
questões populares, mas se submetem aos caprichos do Executivo;
- os acordos de leniência e as delações premiadas
jogam lama no presidente Temer, nos deputados federais e nos senadores da
República;
- a corrupção (ativa e passiva) movimenta mais
dinheiro do que o Banco Central e o BNDES juntos;
- a propina e o caixa dois viram moeda de troca entre
empresários inescrupulosos e políticos ímprobos e sem vergonha na cara;
- a obstrução da justiça se projeta pelos desmandos
e descaminhos das autoridades públicas impunes e reincidentes;
- a politicagem de Brasília se soma ao toma lá dá
cá dos interesses pessoais dos “nobres” parlamentares;
- os políticos corruptos fazem negociatas sombrias
à luz do dia, enquanto o desemprego bate a casa dos 14,2 milhões de cidadãos desocupados.
“Hoje tem marmelada? Tem sim senhor! E o povo o que
é”?
Mais uma
chicotada corta a densa fumaça que desceu no ambiente circense. O povo meio
tonto se apercebe do que o rodeia e se posiciona, ainda incrédulo no que ouviu
e assistiu. O apresentador se apruma e abre os braços, como que pedindo e
esperando por aplausos, mas o que recebe são vaias, mais fortes que o estalar do
seu chicote.
O circo da
política chegou. E somos ainda, depois de tudo, os palhaços contribuintes.
Pagamos a indevida fatura, mas já aprendemos reclamar.
As
oligarquias e suas reformas sucessivas nas leis, às conveniências da exploração
organizada, hão de merecer sempre as nossas mais severas críticas.
As
encenações eleitorais, periodicamente comparsas de negócios bem tramados, não
confundem mais a cabeça pensante do eleitor inteligente, e a paralisia
popular está por terminar.
O
devotamento do povo ao país não lhe permite tergiversar, pois os cidadãos têm fé
no direito e na Justiça.
Não somos da
mesa do rei, posto que defendemos as causas justas e éticas, que premiam a
vontade do povo e escutam a voz popular.
Não
comungamos da violência ostensiva de desautorização de normas e regulamentos, pois
somos pela manutenção das leis e contra as diligências particulares
envidadas para negar e coroar de frustração o desejo da sociedade ordeira.
Quando se
tenta calar a multidão com cerceamento de direitos e retirada de conquistas,
essa política de tais instintos, de tais sestros e de tais personalidades não
nos merece senão a inteireza de nossa repulsa.
A
degradação, a coação e a ilegalidade se perpetuam apenas e simploriamente
como os mais insolentes abusos de poder.
A liberdade
de expressão e de comunicação do pensamento é a égide da personalidade,
imprescindível à vida humana.
O circo da
política não nos interessa. Não temos talento para palhaços e marionetes.
Queremos a liberdade de respiração da democracia, da vida sem medo e da
independência de todos.
A palavra, o
pronunciamento e a voz da população, assim como as ideias e os atos das
autoridades públicas, se convertem no acesso à inteligência e à vontade
democrática, feitas pelas leis, mas, sempre estas, emanadas do povo e para o
povo.
O circo da
política chegou. Mas agora os palhaços se foram e o picadeiro está vazio.
A plateia comandada pelos retardatários da autocracia se cansou. As
cabeças pensantes dos cidadãos procuram por valores e não por promessas
que ofendem até mesmo a mais singela opinião pública.
O povo
brasileiro despe, aos poucos, a roupa de palhaço. O assunto é sério. O chicote
é tomado das mãos do apresentador. A plateia não arreda o pé. O país precisa da
sua gente. O povo sabe disso. O povo não teme, não treme e não foge à luta. O
Brasil vai se encontrar. E o povo reinventa, a cada dia, um país que mereça ser
chamado de nação e que possa ser chamado de seu.
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Wilson
Campos (Advogado/Especialista em Direito Tributário, Trabalhista e
Ambiental/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos
da Sociedade, da OAB/MG).
Com certeza o povo brasileiro está se cansando de ser palhaço e de ser explorado pelos políticos brasileiros de mau caráter. Chega um ponto que o basta tem de ser com raiva. BASTA!
ResponderExcluirO circo da política precisa ser desarmado e colocado de lado, para que o país respire e ande por si, porque os políticos conseguem atrapalhar tudo, ao menor toque. Se tem alguém que suja, destrói, bagunça, corrompe, enlameia, mancha, desgraça o Brasil é o tal do político. Que triste sina essa nossa, ter de conviver com essa política emporcalhada. Meus parabéns ao Dr. Wilson Campos pela beleza de artigo. Rogério O. F. V.
Dr. Wilson, eu sou empresário da construção e não aguento mais crises e essa carga tributária espoliativa. Chega de remar contra a maré e aguentar ainda esses políticos safados. Cadeia neles. Sem dó. Vamos fechar o circo, recolher a lona e prender os defensores da maracutaia política. Parabéns pelo brilhante artigo. Abraços. Francos J. G. V.
ResponderExcluirNós, os palhaços, servimos de massa de manobra dessa gangue de políticos safados. Que tristeza para o Brasil, o mundo assistir isso e pensar que aqui o povo não reage, não se importa. Eu me importo. Eu estou indignado. Eu trabalho muito e pago impostos. Eu exijo uma retomada de rumo para o país, com os ladrões na cadeia. Já. Parabéns ao autor do texto, Dr. Wilson. Excelente, cidadão e alertador. Aminthas de B. G. D.
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