RUI BARBOSA, O “ÁGUIA DE HAIA”.





Falar do maior jurista brasileiro de todos os tempos não é tarefa fácil. Portanto, uma maneira agradável de homenagear esse notável orador e estudioso da língua portuguesa, permissa venia, talvez seja começando por transcrever uma pequena história, muito conhecida,  que retrata a extensão do seu inigualável talento.

A historinha é a seguinte:

“Rui Barbosa, o Águia de Haia, chegava em casa, à noitinha, quando ouviu um barulho vindo do quintal. Chegando lá, viu um ladrão tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o, ao tentar pular o muro com seus amados patos, passou-lhe um pito:

- Oh, bucéfalo anacrônico! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares de minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da sua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada.

E o ladrão, perplexo e confuso, com um fio de voz, perguntou:

- Doutor, eu levo ou deixo os patos?”

Ultrapassada a introdução pitoresca, cumpre agora falar um pouco do que foi e do que representou (e até hoje representa) Rui Barbosa para o nosso amado Brasil.

Antes de ingressar na Faculdade de Direito do Largo S. Francisco, Rui Barbosa dedicou-se ao estudo da língua alemã. Em 1865, foi fazer o curso jurídico no Recife, transferindo-se para a Faculdade de São Paulo, em 1868.

Em 1870, graduou-se e voltou à Bahia, onde começou a advogar.

Árduo defensor do federalismo e do abolicionismo, Rui Barbosa de Oliveira foi advogado, jornalista, jurista, político, diplomata, ensaísta e orador. Também foi deputado, senador e ministro e um dos membros-fundadores da ABL, primeiro ocupante da Cadeira nº 10.

Em duas ocasiões tentou a presidência da República e se destacou como primeiro ministro da Fazenda, com sua posição modernizadora da economia. Legalista, é dele a famosa frase: “Com a lei, pela lei e dentro da lei; porque fora da lei não há salvação”.

Filho de João José Barbosa de Oliveira e Maria Adélia Barbosa de Oliveira, Rui Barbosa nasceu em Salvador/BA a 5 de novembro de 1849 e faleceu em Petrópolis/RJ, em 10 de março de 1923.

Rui Barbosa recebeu o cognome de "Águia de Haia" do Barão do Rio Branco que era o Ministro das Relações Exteriores na época da 2ª Conferência Internacional da Paz em 1907. “Um diplomata de grandes qualidades e também um excelente criador de slogans”, segundo Dr. Américo Jacobina Lacombe.

O Barão pensava enviar para a Holanda uma “embaixada de águias”, (Rui Barbosa e Joaquim Nabuco) tal como tivéramos no Império “um ministério das águias” – 21º Gabinete Conservador de Pedro de Araújo Lima, Marquês de Olinda – assim chamado por Joaquim Nabuco em virtude da experiência dos ministros que o compuseram. Nabuco não aceitou a missão, mas colaborou muito informando Rui Barbosa sobre o perfil dos delegados estrangeiros que compareceram à Conferência.

Na Conferência da Haia (1907), foi discutida a criação de uma corte de justiça internacional permanente, da qual participariam apenas as grandes potências – Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos, com a proposta de criar um Tribunal de Arbitramento. Rui Barbosa não se intimidou, enfrentando os defensores daquela proposta e argumentou em seu discurso, que selecionar para aquele Tribunal, países com maior poderio militar, iria estimular uma corrida armamentista, e o curso político mundial seria direcionado para a guerra, o que contrariaria os objetivos daquela Conferência de Paz. Além disso, Rui defendeu a tese de que, ante a ordem jurídica internacional, todas as nações são iguais e soberanas. A imprensa internacional destacou a brilhante atuação do jurista, “homem franzino, de pouco mais de um metro e meio de altura”, cuja brilhante participação na Conferência “fomentou a imaginação popular no Brasil, onde foi transformado em uma espécie de herói imbatível”.


Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Especialista em Direito Tributário, Trabalhista e Ambiental).


Comentários

  1. Boa lembrança Dr. Wilson Campos, porque esse homem foi um livro para quem quisesse aprender e uma biblioteca para os apreciadores da boa leitura. Rui Barbosa foi um jurista de primeira linha, e permita-me comparar, mas o senhor, doutor Wilson, também tem a mesma envergadura e o mesmo apreço pela advocacia e pelos direitos e deveres, além da defesa da cidadania e dos próprios cidadãos nos seus interesses difusos e coletivos. Parabéns pelo artigo e pela homenagem ao Águia de Haia. Simone M. Fróes G. - advogada e professora universitária.

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