AS MAZELAS DE BH.


De forma inconfundível, os belo-horizontinos cultuam, cortejam e amam Belo Horizonte, mas sofrem com as recorrentes mazelas que são impostas diariamente à cidade. Embora as belezas ainda sejam muitas, confundidas entre si, valorizando o alcândor e o sopé da capital, as agruras se avolumam, e os problemas urbanos se multiplicam.

A falta de moradia digna para as pessoas mais necessitadas e em situação de desabrigo; a precariedade do transporte coletivo; a péssima drenagem pluvial urbana; o caos das enchentes em épocas de chuvas previsíveis; a coleta inadequada e insuficiente do lixo; a terrível epidemia de dengue; a fraca gestão do trânsito local; a pouca visibilidade da guarda municipal; a desatenção com as últimas áreas verdes existentes; a sujeira espalhada por todos os lados e com maior acinte nos bairros e na periferia; as ruas e as calçadas esburacadas; a falta de sinalização e de identificação das vias; a falta do metrô, pois o que existe é uma caricatura; a falta de policiamento ostensivo e diuturno; o pequeno e ínfimo trabalho em prol do turismo; as más administrações e a indiferença do poder público; nada disso vai demover o belo-horizontino do seu sonho de ter uma cidade melhor para viver, mas alguma medida séria e urgente deve ser tomada para o bem de todos.

Os pecados cometidos contra o meio ambiente e contra a população mais carente não têm como ser perdoados. A aprovação recente do novo Plano Diretor trouxe alguma esperança para as regiões mais pobres da cidade, restando aguardar para conferir a real aplicação dos recursos, mas não protegeu efetivamente na legislação a não agressão às nascentes e às áreas vegetadas típicas do bioma Mata Atlântica, incorrendo em imperdoável retrocesso ambiental.

As reivindicações dos moradores não se prestam a simples críticas ou demandas infundadas. O retrato atual da outrora Cidade Jardim é desolador. O colorido das árvores, das flores e dos prédios bem-conservados está desaparecendo, surgindo no lugar da beleza um cenário de depredação, poluição, sujeira e pichação. Somam-se a isso a desigualdade social, o domínio das calçadas por ambulantes, a desumana condição dos moradores de rua, o conflito dos usuários de drogas e a criminalidade quase sempre impune, evidências da ausência do poder público.

As mazelas e a decadência de Belo Horizonte estão associadas ao esquecimento e abandono, tanto pela sociedade quanto pelas autoridades municipais, valendo mensurar que a culpa da população é mínima, enquanto a da administração pública é máxima. 

A cidade não pode ser deixada à libertinagem e aos desvarios de vândalos e pichadores, porquanto o dever do poder público seja o de cuidar e garantir a sua conservação. Se convocada a participar, a sociedade organizada não se nega, pois o sentimento de pertencimento e corresponsabilidade é uma questão de cidadania. Portanto, mãos à obra, senhor prefeito!

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG). 

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de sábado, 20 de julho de 2019, pág. 21).


Comentários

  1. Eunice D. J. Gomes e Olegário25 de julho de 2019 às 14:18

    Com certeza BH está uma cidade de dar medo de tanta sujeira e pichação. O "excelentíssimo" prefeito pode entende de time de futebol - do galo - mas de prefeitura e de cidade não entende nada e da mesma forma sua turma de comissionados que nada fazem e ainda recebem para isso. Um absurdo como BH ficou de uns tempos para cá. Precisamos criticar para ver se alguém toma vergonha na cara e faz alguma coisa para melhorar a nossa capital. Sou moradora e amo BH mas não posso me calar diante de tanta sujeira pela cidade toda, além de ruas escuras. Mas como sempre o nosso guardião da cidadania da OAB e de BH, Dr. Wilson Campos, está aí para mostrar as mazelas e indicar o caminho para o prefeito. Ao trabalho, prefeito!!! - Eunice Gomes.

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  2. Dr. Wilson eu tentei comentar ontem e não consegui porque o sistema do blog não aceitava, mas hoje já consegui e aproveito para dar parabéns pelo brilhantismo de seus artigos no blog e nos jornais Estado de Minas e O Tempo. Quanto aos absurdos que ocorrem em BH pode estar certo que é incompetência da prefeitura, que está cheia dos mesmos e nada faz pelos bairros e menos ainda pela periferia. É uma coisa sem igual, pois a cada administração parece que a coisa piora, e os caras querem voltar à prefeitura (Lacerda e Kalil) para fazer o que? Já não estragaram bastante a capital? Ora bolas oi povo precisa votar melhor. BH não tem metrô, tem uma carroça em formato de trem urbano. BH não tem turismo, tem é gente incompetente que não mostra a cidade para o mundo, mas para isso precisa melhorar o aspecto da capital, arrumar a casa toda. BH precisa de gestão e de gente que gosta de trabalhar e não desses oportunistas filiados a partidecos que estão pendurados nos cabides da prefeitura. Quer saber? Meus parabéns adv. dr. Wilson Campos por mais esse esplendor de artigo que fala somente verdades e revela amor por BH, apesar dos aspones da PBH que não ajudam e não justificam seus salários. Sou BH. Sou Cidade Jardim de outros tempos. Sou Sebastião A. Brito.

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  3. São pertinentes e relevantes suas colocações, Dr. Wilson. Especialmente quanto à feiura da cidade que aumenta a cada dia. Falta cuidado com os logradouros, com os serviços, com os cidadãos e com o meio ambiente urbano que se degrada e é degradado sem justificativas aceitáveis.
    Não duvido da boa vontade do Prefeito, mas talvez falte a ele um conselho mais antenado e atento às ações que fazem a diferença na construção de uma cidade melhor para todos! Que bom poder contar com sua sempre constante participação na busca de melhores rumos para BH!

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  4. Veja a situação da Mata do Planalto, as próximas eleições estão chegando e o prefeito até hoje não deu uma solução definitiva para preservação daquela área como prometeu na campanha eleitoral.
    Aí, não é reeleito e não sabe porque.
    Prefeito, A Mata do Planalto e todos os seres que dela dependem clamam por proteção. Ela é a última reserva de Mata Atlântica de Belo Horizonte.

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