SAUDOSA POLÍTICA MINEIRA.
Os atuais políticos mineiros, salvo raríssimas
exceções, não são arrojados nem altruístas. São omissos e individualistas.
Perdem de goleada para muitos políticos de outras paragens e até mesmo de
Estados menores, que não têm nem sequer um terço de território, de renda ou de
população, se comparados com Minas Gerais. Nunca se fez tão pouco por Minas,
como acontece hoje. As lembranças de políticos afeitos às ações coletivas e
à defesa intransigente das terras mineiras se vão longe. A proteção de Minas ficou
a cargo da sociedade. Os representantes do povo se escondem nas
trincheiras luxuosas de Brasília, nos calçadões de Copacabana e nas
intermináveis viagens internacionais. O chão mineiro já não lhes satisfaz. No
entanto, às origens eles volvem, quando querem, tão somente para caça aos votos
dos simplórios, para reeleições planejadas à custa do erário público e para
visitas esporádicas às expensas do cidadão comum.
Os políticos neófitos lançados no seio da tradição
mineira, que não sabem dialogar com o povo, que nunca se sentaram na
varanda de uma casa do interior para colher sabedoria, que jamais ouviram as
vozes dos contrários, pois rodeados de bajuladores, não merecem ser chamados de
políticos mineiros. Um representante do povo mineiro que não sabe questionar o
governo federal e não tem estofo para tal, não pode estar à altura ou
à sombra dos grandes nomes da política autônoma dos inconfidentes, que,
no mínimo, souberam contestar e jamais aceitar a subjugação desse berço
pátrio das nossas tantas Minas Gerais.
É triste constatar que os representantes eleitos,
principalmente os deputados federais e os senadores, abusam descaradamente da
paciência dos seus eleitores, se calando quando deveriam protestar, se
omitindo quando deveriam agir, se escondendo quando deveriam enfrentar, e se
esquecendo da pujança histórica da saudosa política mineira quando
deveriam levantar a voz e exigir respeito por Minas. Tudo isso sem se
diminuir em face dos demais políticos do resto do país.
Minas está doente, não apenas pela terrível epidemia
de dengue que assola as Gerais, mas porque está submersa em crises e problemas
de toda natureza. Faltam dinheiro, emprego e segurança. Sobram tragédias,
destroços, lamentos e lágrimas do povo mineiro, principalmente em razão do rompimento
das barragens, que mataram pessoas e destruíram o meio ambiente. Ou seja, o
caos está instalado, e ainda assim, os mineiros se socorrem, se ajudam e se
completam na dor e na esperança de dias melhores. Porém, os políticos ausentes
continuam ausentes e passam ao largo do sofrimento do povo, da lama e da
destruição, permitindo que esses males aconteçam, ao mesmo tempo, em detrimento
dos direitos dos mineiros. E a negligência e a irresponsabilidade permanecem
impunes.
Não bastasse tudo isso, resta a vergonha de ver os
políticos mineiros apagados, sem voz, sem atitude e sem poder de fogo no
Congresso ou perante o governo federal. Causa engulhos assistir a derrocada de
Minas porque os deputados federais e os senadores não defendem o território nem
os interesses dos mineiros. Ora, Minas não tem as melhores rodovias, não possui
os metrôs mais modernos, não detém o poder econômico de outrora, não gera os empregos
necessários, não consegue os investimentos vitais para o crescimento e não tem
políticos como tinha nos gloriosos tempos idos.
O Estado de Minas Gerais está de cócoras, com o queixo
nos joelhos, espiando, assuntando, mas não reagindo contra tudo isso. A lição
que fica é a de que os políticos improvidentes não representam Minas nem o povo
mineiro, e não merecem ser reeleitos. Chega de sombras e de falta de
comprometimento com o legado do guerreiro Estado mineiro. Basta de inércia.
Reage, nação mineira! Levanta, ergue sua voz, trabalha com proficiência e dá a
volta por cima, honra suas tradições e se recoloca no lugar de destaque, que,
notadamente, sempre foi seu.
Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de
Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
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