A PROMESSA DE RECONSTRUÇÃO DA CIDADE.
Em
entrevista coletiva ontem, um dia após a capital amargar mais um terrível e triste
episódio de destruição em razão das fortes chuvas, o prefeito de Belo
Horizonte, Alexandre Kalil, pediu em tom emocionado: “Tenham paciência. Vamos reconstruir esta cidade”.
Data venia do
ilustre prefeito, não se pode deixar de registrar que ele demorou a aparecer e
tomar pé da situação catastrófica em que se encontrava a capital, desde o
princípio de janeiro. Da mesma forma, vale registrar a ausência dos 41
vereadores, que não se manifestaram nem estiveram nos locais mais atingidos
pelas enchentes e inundações. Ao que parece, os vereadores ainda estão de
férias, já estão em campanhas para reeleições ou têm medo da população enlameada
e revoltada. De sorte que, os vereadores estão sumidos, inertes e longe da água
suja, da lama, do caos das ruas e avenidas destruídas, dos prejuízos causados a
moradores e comerciantes, e de tudo que aconteceu nos últimos dias na capital.
Que coisa feia, senhores vereadores!
Embora
tenha dito na campanha eleitoral e no princípio de seu mandato, que não era
político nem tinha grandes aspirações políticas, o prefeito parece que gostou
do cargo público e já pensa em reeleição. Mas antes o alcaide precisa reconstruir
a cidade, conforme disse que fará, pois, caso contrário, sua possível pretensão
de mais um mandato à frente da prefeitura pode se transformar num grande fiasco,
considerando que a população não mais aguenta promessas não cumpridas, serviços
mal feitos, tarefas por cumprir e muita enrolação e pouca ação.
Bom,
sem querer ser pedante, desejo que o prefeito reconstrua a cidade ou prepare-a
razoavelmente para a realização do seu tão almejado “maior carnaval” de rua do
país, com aproximadamente 5 milhões de turistas cantando e dançando pelas ruas
e avenidas, que, espera-se, não estejam mais em estado de guerra como estão
hoje, destruídas, com lama, lixo, entulho e muita dor por detrás das paredes
das residências e lojas que sofreram com as enxurradas das impiedosas enchentes
e inundações e sofrem ainda com os incontáveis prejuízos.
Uma
recomendação precisa ser feita ao prefeito, aos seus secretários e aos 41
vereadores: conversem com a população; procurem saber a opinião e o sentimento dos
moradores e comerciantes; conheçam as necessidades emergenciais de cada bairro
e realizem e cumpram o que prometem; e trabalhem, efetivamente, para todos, sem
demagogia ou populismo.
A
hora é de trabalhar muito, porque os danos estão sendo contabilizados e não há
tempo a perder. Não resolve culpar esses ou aqueles administradores de gestões
passadas, que não fizeram por má vontade ou incompetência. Não adianta agora atacar
adversários, de levar ao extremo a polarização política, de esbravejar contra a
imprensa, de dar soco na mesa e de tratar mal a todos os de bom senso que não
elevam a atual administração ao pedestal. Também não é de bom tom o Executivo e
o Legislativo municipais se acharem melhor do que alguém do povo e agirem sem
nenhuma elegância ou respeito à liturgia dos cargos.
Além
da capital, sofre todo o Estado de Minas Gerais, que anda pagando um preço alto
por um pecado que não se sabe qual. Em parte, talvez, pela riqueza de seu solo,
que não deveria ser pecado, mas virtude, se tratada com respeito. O fato é que
nenhum povo merece tal castigo, como a sequência de tragédias a que o Estado
vem sendo submetido desde o rompimento da barragem de Mariana, em 2015, quando
morreram 19 pessoas. A seguir, em Brumadinho, com 259 mortos e 11 pessoas ainda
desaparecidas. E agora, neste começo de ano, o maior índice de chuvas em toda a
história da Grande BH, sendo contados até o momento 56 mortes e milhares de
desalojados e desabrigados.
Contudo,
o foco principal hoje é a cidade de Belo Horizonte, tão bela antes e tão
destroçada hoje. As chuvas que assolam a capital e a Região Metropolitana neste
mês de janeiro vêm provocando efeito cada vez mais devastador na infraestrutura
urbana. Para além das tristes fatalidades; dos deslizamentos e das pessoas
obrigadas a deixar suas residências, há uma realidade que atinge os habitantes
da capital e entorno como um todo: a interrupção de ruas e avenidas em diversas
regiões e a necessidade de obras não apenas emergenciais, mas de recuperação
integral, que demanda tempo. Daí o pedido de paciência do prefeito, acompanhado
da promessa de que a cidade será reconstruída. Quanto a isso, resta aguardar para
ver.
Entretanto,
em que pese a promessa do alcaide, para complicar a vida na cidade, a próxima
segunda-feira marca o fim das férias escolares e o retorno das aulas, com a
volta de grande contingente de pessoas que deixou a cidade no período de
recesso; assim como a retomada dos horários normais e habituais dos ônibus e
pelo menos 50 mil veículos a mais circulando por dia no perímetro da avenida do
Contorno. E tudo isso vai exigir muita paciência dos motoristas, dos pedestres
e de todos que transitem pelo grande centro da capital. O trânsito que já era
péssimo vai piorar. Os deslocamentos que eram demorados vão tomar mais tempo. O
que era caótico e estressante vai requerer muito mais calma e paciência.
Nem
por todos esses pesadelos e dissabores a população pode esmorecer e ficar
desatenta, haja vista a possibilidade de mais chuva e novos temporais, segundo
as certeiras previsões meteorológicas, cada vez mais pontuais, que justificam
um alerta contínuo. Porém, apesar das notícias nada boas para os próximos dias,
o pânico não pode tomar conta das pessoas, que precisam ser resilientes e estar
prontas para agir e enfrentar o que vier pela frente. Se a administração
municipal não realizou as obras necessárias, não desobstruiu os bueiros, não
cuidou dos rios e córregos, não limpou as ruas, não plantou mais árvores, não
preservou o meio ambiente, não planejou nem executou serviços em prol do bem da
coletividade, então resta à população enfrentar os problemas e depois pensar em
ações judiciais de reparação dos danos materiais sofridos, porque a dor sentida
e as vidas perdidas não têm preço nem dinheiro nenhum que pague.
A rigor, cumpre reconhecer que a população necessita de maiores consciência e educação, de forma que, sem exceção, não seja jogado nenhum tipo de lixo na rua. Acredite, a educação é tudo!
A rigor, cumpre reconhecer que a população necessita de maiores consciência e educação, de forma que, sem exceção, não seja jogado nenhum tipo de lixo na rua. Acredite, a educação é tudo!
Enfim,
por agora, meus sinceros e cidadãos votos de que o prefeito execute as obras de
engenharia e cumpra a promessa de reconstrução da cidade; os 41 vereadores saiam
da inércia e trabalhem para o povo e não para si mesmos e não pensem apenas em eleição
ou reeleição; os moradores e comerciantes da capital protejam-se para o caso de
mais chuvas; e todos nós pensemos mais nas pessoas, nos seres humanos, na paz, no
sossego, e menos em Carnaval.
Wilson
Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses
Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
Com tanta coisa triste acontecendo o prefeito quer fazer carnaval, sujar mais a cidade, mais barulho, mais xixi nas ruas e bebedeira pra todo lado. E as obras, os estragos na cidade pelas chuvas? Tantos prejuízos e ele fala em carnaval daqui a poucos dias na cidade destruída. O povo chora e o carnaval passa. O povo na lama e o carnaval passando. Coisa mais linda isso tudo (???).
ResponderExcluirDr. Wilson Campos o senhor como advogado já disse em outros artigos que cabe indenizações e o povo precisa fazer isso, com as provas nas mãos. A prefeitura precisa fazer as obras e trabalhar mais e falar menos. Concordo com o senhor Dr. Wilson e meus parabéns mais uma vez por tudo. Maria de Lourdes S.
FALOU O QUE EU E OS CONTRIBUINTES DE BH PENSAMOS. QUERO VER AS OBRAS E A TAL RECONSTRUÇÃO DA CIDADE ANTES DO CARNAVAL. DE TUDO QUE LI, MEUS CALOROSOS PARABÉNS PELO BRILHANTE ARTIGO. SOU SEU LEITOR, DR. WILSON E SEMPRE ME SURPREENDO COM SUA QUALIDADE NA ESCRITA E NO SABER DAS COISAS DE BH. EXCELENTE. RAFAEL A. R. TORRES (COMERCIANTE, CONTRIBUINTE, BH E REGIÃO).
ResponderExcluirMeus amigos lojistas da área centro sul perderam muita coisa e não tem como repor os estoques e vão mandar gente embora. Até uma padaria ficou sem os freezers e prateleiras de produtos cheios de lama e lixo para tudo que é lado. É muito sofrimento dos que perderam tudo nas casas e nas lojas. O seu artigo advogado Wilson Campos mostra a realidade dos fatos principalmente os que li ontem neste mesmo blog. Parabéns, porque são todos muito bem escritos e com amor à causa de defesa da nossa BH. Muito bom mesmo doutor e nós precisamos dessa lição de cidadania da qual sempre fala. Lojista e cidadão Guilherme H.
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