LEIS BILIONÁRIAS DE INCENTIVO AO SETOR CULTURAL.

 

O Senado aprovou no dia 15 de março o projeto de lei que repassa R$ 3,86 bilhões do Fundo Nacional de Cultura (FNC) para o chamado fomento de projetos culturais (ações no setor cultural em todo o país). É inacreditável, mas é verdade e está valendo. São quase quatro bilhões de reais para essa finalidade artística. 

A matéria foi aprovada por 74 votos favoráveis e nenhum contrário. Da verba, R$ 2,8 bilhões serão voltados à área audiovisual, enquanto R$ 1,06 bilhão irá para ações emergenciais. É o que dizem.

O texto, batizado de “Lei Paulo Gustavo”, em homenagem ao ator falecido em maio de 2021, vítima da Covid-19, segue agora para sanção presidencial.

Se tudo correr bem, como querem muitos, mas não todos, a União terá de enviar o dinheiro aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios para que seja aplicado em iniciativas que visem combater e reduzir os efeitos da pandemia de Covid-19 no setor cultural.

Aprovado no Senado em novembro do ano passado, o projeto seguiu para a Câmara dos Deputados. Lá, sofreu alterações pontuais e, por isso, retornou ao Senado.

Em que pese a importância do setor cultural para o Brasil, percebe-se no horizonte uma demanda velada entre o governo e a oposição encabeçada pelo PT, notadamente quanto ao dispêndio de dinheiro público neste momento de crise mundial. A crise não é brasileira. A crise é mundial. Pior agora, com a gravidade da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, além da nocividade ainda terrível do coronavírus.

Enquanto o governo não quer e não pode gastar recursos públicos com o setor cultural nessas horas de grandes incertezas mundiais, a oposição (esquerda radical) quer a todo custo injetar dinheiro público em projetos culturais, contribuindo desta forma para a clara divisão da cultura em dois polos – o político e o ideológico.

A maior pressão para aprovação de projetos que visam beneficiar o setor cultural na atual conjuntura parte dos políticos da esquerda e dos artistas “globais”. Mas ninguém desse pessoal pensa em ajudar os pobres e os miseráveis com os bilhões destinados à cultura. O viés adotado é prestigiar shows musicais, peças de teatro e outras atividades culturais, sem nem sequer cogitar a pobreza, a fome, a falta de moradia e o desemprego.

A discussão, por mais egoísta e mesquinha que possa parecer, não passa pela ideia de negar ajuda ao setor cultural. Não se trata disso. Trata-se da necessidade de definir prioridades no momento de crise mundial. Ora, de que servem os fantásticos eventos culturais se o povo está enfrentando sérias dificuldades financeiras até mesmo para comprar alimentos e remédios? A pergunta é essa. Basta pensar com consciência e responder. Vamos lá! A manifestação é livre e constitucional.        

Vale ressaltar que a “Lei Paulo Gustavo” é a segunda aprovada no Congresso para auxiliar o setor cultural. A primeira foi a “Lei Aldir Blanc”, criada como um auxílio emergencial ao setor cultural e também batizada com o nome de um artista. Nesse caso, um escritor e compositor, também vítima da Covid-19.

A “Lei Aldir Blanc” visa criar um fomento permanente para a cultura. Ela foi aprovada na Câmara, mas ainda segue para votação no Senado. A proposta, assim como a “Lei Paulo Gustavo”, traz um modelo de gestão federalista que desconcentra os recursos da cultura, ao contrário de mecanismos fiscais neoliberais como a Lei Rouanet, por exemplo.

Os recursos de R$ 3 bilhões previstos na “Lei Aldir Blanc” são oriundos de várias fontes e serão distribuídos anualmente para todas as cidades e estados do país com regras que levam em conta a população de cada ente federado.  Ambas as leis também trazem como novidade a inclusão de medidas para a distribuição de recursos e resultados, visando beneficiar populações “minorizadas”, de um modo geral, e estudantes, tanto com a previsão de cotas, como sugerindo produções destinadas a esses grupos. Porém, isso é o que dizem que será feito, mas precisa ser muito bem fiscalizado, haja vista que se trata de dinheiro público, que não pode ser transferido para outrem sem a exigência da prestação de contas e a prova de que seja, de fato, necessário.

Cabe alertar que os beneficiários dos recursos precisam cumprir com as contrapartidas, que podem ser a realização de exibições gratuitas e as atividades destinadas a estabelecimentos das redes pública e privada de ensino, que tenham estudantes do ProUni, além de integrantes de grupos e coletivos culturais e de associações comunitárias.

Além das contrapartidas, também deve ser exigida a efetiva e pontual prestação de contas sobre o uso dos recursos. Sem exceção.

No caso da lei que já passou pelos crivos da Câmara e do Senado, esta será enviada à sanção do presidente da República, Jair Bolsonaro, que terá o prazo de 15 dias úteis para sancionar ou vetar. Se for vetada, voltará ao Congresso e serão necessários 41 votos no Senado e 257 votos na Câmara para derrubar o veto.

Todavia, ao contrário dos que defendem as duas leis, os críticos apontam que as medidas quebram as regras de controle e transparência da Lei Rouanet e distribuem recursos do FNC aleatoriamente, sem poder decisório do Executivo. Ademais, segundo alegações técnicas dos críticos, as propostas das leis ignoram aspectos socioeconômicos para a distribuição dos recursos, e isso reforça ainda mais as críticas aos citados projetos culturais.

No que toca a esse respeito, várias opiniões dão conta de que a Secretaria Especial de Cultura deveria ser a responsável pelas diretrizes de como se dará a aplicação dos recursos do FNC. Nesse sentido, o secretário nacional especial de Cultura, Mario Frias, disse que “a Lei Paulo Gustavo vai gerar um caixa eletrônico de saque compulsório para o setor cultural”. Já o secretário nacional de Fomento e Incentivo à Cultura, André Porciúncula, disse que “a aprovação da lei é uma forma encontrada por parte dos artistas para voltar à farra com o dinheiro público”.

“Eles querem pegar o Fundo Nacional de Cultura (FNC), que é o fundo que pertence à Lei Rouanet, ou seja, eles querem pegar dinheiro da Lei Rouanet. Temos lá quase R$ 4 bilhões nesse fundo. Querem pegar à força parte do fundo do setor audiovisual, que é o FSA (Fundo Setorial do Audiovisual), juntar essa grana toda e distribuir para estados e municípios sem a participação do governo federal”, declarou Porciúncula.

Voltando aos valores bilionários, em pleno período de crise mundial, a “Lei Paulo Gustavo” votada e aprovada pelo Congresso prevê que a União deverá transferir um total de R$ 3,86 bilhões do Fundo Nacional da Cultura (FNC) para estados e municípios distribuírem por meio dos fundos estaduais e municipais de cultura. Desse montante, como já informado, R$ 2,8 bilhões deverão ser destinados exclusivamente para ações voltadas ao setor audiovisual, seja no apoio a produções audiovisuais, seja apoiando salas de cinemas, cineclubes, mostras e festivais e ações de capacitação. O valor restante terá como destino “editais, chamadas públicas e outras formas de seleção pública para apoiar iniciativas culturais, incluindo a manutenção de espaços culturais”.

Data venia, ao meu sentir, a destinação dessa quantia bilionária tem pontas soltas, e isso não pode acontecer com dinheiro público e muito menos em época de enormes dificuldades pelas quais passa a população brasileira, especialmente os mais pobres, desvalidos, doentes, desempregados e sem moradia. Ora, que incoerência é essa? Onde está o espírito humanitário das pessoas?

Tudo bem que as minorias necessitam de incentivos e estímulos, mas a situação está ruim para todos ou para a maioria do povo brasileiro, que está a mercê de auxílios emergenciais do governo federal. E dar dinheiro público para atividades culturais neste momento é um erro grave, crasso e grotesco. Tudo tem seu tempo e hora. E este não é o tempo de distribuir bilhões para projetos nos setores de cultura.

Da mesma forma é o dinheiro referente à “Lei Aldir Blanc 2”, que pode ser usado para diversas finalidades, como produção e aquisição de obras, realização de exposições, festivais e feiras, prêmios e bolsas de estudo. O nome dado à matéria vem da “Lei Aldir Blanc”, o “auxílio emergencial” do setor cultural implementado em 2020, que foi responsável por repassar cerca de R$ 3 bilhões ao segmento. Ora, sinceramente, volto a repetir: dar dinheiro público para atividades culturais neste momento é um erro grave, crasso e grotesco. Tudo tem seu tempo e hora. E este não é o tempo de distribuir bilhões para projetos nos setores de cultura. Agora é cuidar do sofrimento do povo, ainda perdido e desalentado com os malditos efeitos da pandemia de Covid-19.

Enfim, primeiro pensar no povo, no pobre, no miserável, no desempregado, no doente. Depois, com calma e passada a crise mundial, pensar nos incentivos e estímulos aos setores culturais. Mas, por favor, excluam os artistas ricos e famosos, e privilegiem os iniciantes, os interioranos, os sem dinheiro e os sem o espetaculoso “glamour” televisivo global.  

Wilson Campos (Advogado/Especialista com atuação nas áreas de Direito Tributário, Trabalhista, Cível e Ambiental/ Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG, de 2013 a 2021/Delegado de Prerrogativas da OAB/MG, de 2019 a 2021).

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Comentários

  1. Concordo muito com o senhor Dr Wilson Campos . Eu sou cantora quando posso e quando tenho convites para festas.Mas não vou pegar dinheiro do governo para me sobressair. Não gosto disso e minha honra e da minha família em primeiro lugar. Não concordo com isso. Concordo com o senhor que agora é hora de cuidar dos pobres, dos famintos, dos doentes, etc etc O resto só depois quando estiver tudo bem aqui e no mundo. Parabéns Dr. Wilson Campos como sempre super dentro da razão. Bravo. Dalva M.A. Souza.

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  2. Eu tenho uma escola de música e achei esse artigo aqui por pesquisar sobre essas leis e somente agora abri os olhos para que serve e para quem serve - artistas famosos das grandes televisões e dos grandes shows que pegam o dinheiro público e não prestam conta e fazer graça com o dinheiro do povo do pobre do desempregado que mais precisam.; Dr. Wilson eu entendi o fundo da verdade das leis divulgadas com nomes de artistas bons artistas mas eu acho um absurdo quererem gastar mais de 6 bilhões de reais no total com promoçoes culturais quando o país está passando por tantas dificuldades . O Brasil e o mundo está em crise brava. Para com isso pelo amor de Deus. Parabéns Doutor Wilson o senhor manda muito bem. Valeu mesmo mestre. Saudações do Joca Paz.

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  3. Como a lei Rouanet não dá mais dinheiro para os artistas famosos amigos do pt, eles criaram logo essas duas leis para tirar dinheiro do governo de outro jeito ou do mesmo jeito mas de fonte diferente. Essa gente é canalha demais e depois dizem que são artistas. Onde são artistas e quando? São exploradores e gostam de dinheiro fácil. Artistas somos nós que fazemos nossos shows com nosso dinheiro e com nosso suor e não mendigamos dinheiro do governo ou de leis feitas para alimentar artistas globais e sacanas. Parabéns dr. Wilson Campos - adv, pelo artigo e pela aula de cidadania. Sinvalzinho Lessa.

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