DEBATE DE ACUSAÇÕES.
"Sobraram ataques e faltaram propostas".
No primeiro debate do
segundo turno realizado nessa terça-feira (14), na TV Bandeirantes, entre os
presidenciáveis Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), o centro das atenções
ficou por conta de Minas Gerais.
Os candidatos travaram
um embate com muitas acusações e poucas propostas. A gestão de Aécio no governo
de Minas, entre 2003 e 2010, foi atacada incansavelmente por Dilma, que
explorou essa vertente por quase todo o tempo do debate.
Em certo momento
ficaram chatas e repetitivas as mesmas colocações da candidata contra o seu
adversário, sempre arguindo erros na administração mineira, desde o chamado
“choque de gestão” que endividou o estado, o nepotismo e a construção de
aeroporto com dinheiro público em propriedade de parente. Neste ponto, o tucano
atacou a petista, chamando-a de “leviana”.
Para o eleitor, o
enfrentamento dos dois candidatos seria normal se não pecasse pela insistência
dos contra-ataques, que deixaram de lado as propostas que, de fato, mais
interessam à população: saúde, educação, segurança, transporte e moradia. As
idas e vindas de perguntas e respostas entre Aécio e Dilma quase sempre
acabavam em acusações.
Nos blocos do debate,
desde o início, a candidata Dilma demonstrou que estava preparada para as
investidas de Aécio, que até então dominava a oratória. Contudo, o tucano foi
surpreendido pela petista, que rebatia as suas tacadas e se distanciava de seu
desempenho pífio anterior, demonstrando mais segurança nos argumentos e
retrucando com informações de grande apelo popular. Aécio percebeu que Dilma
estava bem treinada e se preocupou com a escolha dos temas seguintes. A irritação de Aécio contrastava com a aparente tranquilidade de Dilma. Porém, as assertivas do candidato tucano, com maior grau de internalidade, desnorteavam sensivelmente a candidata petista.
A mudança de postura
de Dilma, que não gagueja tanto quanto antes, e já formula uma frase inteira,
não justifica, todavia, a sua inércia no tocante à corrupção que se propaga
pelo seu governo, haja vista que o silêncio e a tergiversação remetem a uma
visão de que são aceitos os erros e as fraudes. A candidata Dilma se inquietava
sempre que era cobrada sobre esse assunto.
Por outro lado, as
explicações de Aécio não foram bem elaboradas, principalmente quando se discutiam
os números possivelmente alcançados na educação e na saúde, por ocasião de seus
dois mandatos no governo de Minas, e mesmo porque os próximos debates poderão
ser a continuidade desse primeiro, com mais acusações do que propostas efetivas
para a sociedade.
A lamentar, além das
pouquíssimas propostas de interesse da população, foram as farpas trocadas, com
frases do tipo:
"Me parece que nós temos dois
candidatos de oposição, parece que a senhora não governou nos últimos quatro
anos". Aécio
Neves, dizendo
que Dilma propõe mudanças e projetos que não foram feitos até agora, como se
não fosse a atual presidente da República.
"Quem vê agora
a sua proposta, acha que o senhor é o candidato da situação. Suas propostas
sociais são a continuidade dos meus projetos". Dilma
Rousseff, em
resposta à provocação de Aécio.
"Eu quero
responder olhando nos seus olhos. A senhora está sendo leviana". Aécio
Neves, sobre
acusações de que a obra do aeroporto de Claudio (MG), construído durante o
governo Aécio, contém irregularidades.
"Candidato, eu
proponho que a gente pare de discutir quem está mentindo". Dilma
Rousseff,
propondo que os dados que cada um cita durante o debate sejam checados nas
fontes oficiai.
"Muitas vezes
a senhora olha pra mim e enxerga o (ex-) presidente Fernando Henrique, me sinto
muito honrado". Aécio Neves, sobre as citações de Dilma sobre o governo do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB, de 1995-2002).
"E o senhor
esqueceu o governo FHC. O senhor indicou para ministro da Fazenda o
ex-presidente do Banco Central que deixou duas vezes a inflação escapar da meta".
Dilma
Rousseff,
respondendo o motivo de citar tantas vezes o governo de FHC.
"Vocês gostam
de cortar. Gostam de cortar empregos e salário". Dilma
Rousseff, ao
citar dados econômicos do governo FHC.
"Candidata,
tire os olhos do retrovisor, olhe para o futuro". Aécio
Neves, mais
uma vez criticando a disposição de Dilma em falar sobre o governo do
ex-presidente tucano.
"Se formos
olhar o Bolsa Família, o pai é o presidente Fernando Henrique e a mãe, Ruth
Cardoso". Aécio Neves, dizendo que o principal programa social dos
governos Lula e Dilma tem origem em programas sociais criados pela gestão FHC.
"O senhor está
fabulando, está criando uma história que não existe". Dilma
Rousseff,
afirmando que o programa Bolsa Família não tem "nenhum parentesco"
com os projetos sociais tucanos.
As pesquisas Datafolha e Ibope divulgadas na noite desta quarta-feira
(15) revelam que o candidato Aécio Neves e a candidata Dilma Rousseff estão
tecnicamente empatados na corrida presidencial. No entanto, Aécio aparece numericamente
à frente nos dois levantamentos.
Resumidamente, o
proveito do debate deixou a desejar. Os eleitores não se comovem mais com
citações pessoais de ódio e rancor, quer sejam presentes ou passadas. O que
importa, de fato, é a integridade do candidato, a sua probidade política, a sua
determinação para acabar com a corrupção, com a impunidade e com o desvio de
dinheiro público, o seu exemplo para as famílias, a sua competência para o
trabalho, o seu compromisso com o Estado de direito, a sua capacidade de
gestão, o seu zelo com o cumprimento das garantias fundamentais e dos direitos
sociais, e a proteção de todos os dispositivos da Constituição, realizando um
governo com o povo e para o povo. A sociedade requer propostas efetivas.
Wilson Campos
(Advogado).
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