TERCEIRO DEBATE, TERCEIRO ROUND.

Como eleitor, confesso estar incomodado com a falta de comprometimento de ambos os candidatos à Presidência da República.

Preciso de clareza quanto às ações que serão empreendidas, desde a solução para a falta d'água, o descontrole da inflação, o crescimento pífio, o superfaturamento das obras, o descaso com as mortes em filas de hospitais, o caos no trânsito, o analfabetismo institucional, a devolução do dinheiro desviado, a prisão dos culpados, a diminuição do número de ministérios improdutivos, até a mea culpa pela prática da vergonha alheia. 

O país tem de mostrar o seu valor, quer seja no agronegócio, na indústria ou nos serviços. O Brasil precisa crescer e elevar a qualidade de vida do seu povo, gradativamente. Essa obrigação é do Estado e a obrigação da sociedade se dá pela participação coletiva, essencial para o estabelecimento definitivo da ordem, do progresso, da democracia, do direito e da justiça.  

O brasileiro não precisa de simples promessas, mas de planos de governos sérios.

No entanto, apesar da estranheza do eleitor, no terceiro debate entre os presidenciáveis Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), realizado pela Rede Record neste domingo (19), as mútuas acusações que tomaram conta dos dois primeiros embates deram lugar às discussões de algumas poucas propostas, adentraram o campo da inflação, mas voltaram a colocar na pauta o caso da imensa corrupção na Petrobras e, pior, usaram grande parte do tempo com questões mínimas, pessoais, sem grandeza.

Os candidatos se superaram desta vez, não na troca de farpas, mas na citação de índices e estatísticas sobre crescimento econômico, criminalidade, inflação, educação, saúde e bolsa família. Os números colocados a esmo não despertaram o interesse do eleitor, mesmo porque nessas áreas as políticas públicas deixam muito a desejar.

A candidata Dilma insistiu por diversas vezes na apresentação de dados positivos de seu governo. No entanto, o candidato Aécio rebateu e fez comparações, como no caso do Brasil com os países vizinhos, e citou o exemplo do Chile, que consegue crescer mais do que o Brasil e ainda mantém a inflação sob controle. Aécio afirmou que o Brasil vive uma recessão técnica e perguntou à candidata onde está o erro (!?).

O debate transcorreu morno, nas cobranças de Aécio e na tentativa de explicação de Dilma, que argumentava sempre como dona das soluções, inclusive, dizendo que deu autonomia à Polícia Federal para investigar, quando, na realidade, quem confere autonomia de investigação à Polícia Federal é a Constituição da República (Art. 144).

A corrupção na Petrobras voltou ao embate e, desta vez, Aécio centrou sua fala na pessoa do tesoureiro nacional do PT, acusado de operador do esquema de desvios de recursos da estatal. A candidata Dilma acusou nesta mesma linha um membro do PSDB, ao que o candidato Aécio, na réplica, insistiu nos rombos cometidos pelo tesoureiro petista: "porque se na Petrobras, onde ele não tinha, pelo menos qualquer acesso formal, 2/3 da propina segundo o delator, eram transferidas para ele, eu fico imaginando em Itaipu, onde ele tem um crachá, assina documentos, o que pode estar acontecendo lá". 

Os bancos públicos também estiveram  na mira dos dois candidatos, com Aécio acusando Dilma de fazer "terrorismo eleitoral" com os funcionários da Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), uma vez que, segundo Aécio, o seu programa de governo não pretende demitir nem reduzir as funções desses bancos, mas que não deixará que entrem na cota política do governo e que a gestão será profissionalizada. A candidata Dilma respondeu afirmando que quem faz "terrorismo eleitoral" é o candidato a candidato a ministro da Fazenda de Aécio, que diz que os bancos públicos terão seu papel reduzido. 

Muito bem. Aliás, muito mal. Entre um e outro momento de rara exposição de ideias interessantes para a população, o que prevaleceu foram a falta de propostas concretas, a insistência dos dois candidatos em colocar Minas Gerais no centro do debate, as ironias a cada pergunta e resposta, e a falta de elegância no trato de um com o outro. O clima de pugilismo se deixou contagiar pela raiva das campanhas, pelos excessos cometidos nas redes sociais e pela falta de urbanidade dos dois candidatos. 

Na reta final do debate, a candidata Dilma Rousseff salientou as conquistas do seu governo e chamou a atenção das famílias para a melhoria das condições de vida alcançada. O candidato Aécio Neves voltou a dizer que é o candidato da mudança, que vai mudar de verdade o Brasil, não apenas no slogan, mas em muito, afastando, inclusive, o PT do governo, e disse que sua proposta é pensar no futuro do país e que assume a responsabilidade das mudanças.

Enfim, algumas poucas propostas no terceiro debate! 

Contudo, resta saber os planos de governo dos candidatos quanto às providências mais urgentes, que não se justificam apenas por dados e estatísticas, mas que requerem e dependem de ação e atitude, quais sejam, os investimentos robustos necessários para: saúde, educação, transporte, moradia, segurança, proteção ambiental, água, esgoto, infraestrutura, produção de alimentos, energia limpa e outros tantos que fazem parte do dia a dia do brasileiro.

Por óbvio, penso eu, os eleitores ficariam muito mais felizes se tivessem a certeza de que esses direitos acima enumerados seriam garantidos com efetividade. Maior felicidade seria ainda a população contar com enérgicos e eficazes combates à inflação, à corrupção, à prevaricação, aos desvios de dinheiro público e à improbidade administrativa. E melhor ainda para o sentimento de justiça do povo seria a prisão dos culpados e o retorno do dinheiro desviado aos cofres públicos, com juros e correção monetária.

Os riscos iminentes proporcionados por esses ilícitos colocam em xeque a governabilidade do país, e não é esse o desejo do povo, haja vista a necessidade inarredável da prevalência da democracia, ampla, geral e irrestrita. O sistema democrático de governo não pode ser obstado por campanhas políticas de 4 em 4 anos.

A democracia, meus caros, requer o exercício da cidadania, com liberdade e responsabilidade, com direitos e deveres e com o regular cumprimento da Constituição da República.

Wilson Campos (Advogado). 

Comentários

Postagens mais visitadas