O VOTO DA MELHOR IDADE.



Faltam poucos dias para as eleições. Os candidatos a presidente, governador, senador, deputado federal e deputado estadual estão à procura da preferência dos eleitores habilitados, que irão, certamente, às urnas sufragar o voto secreto. O voto é obrigatório para os cidadãos brasileiros, alfabetizados, maiores de 18 e menores de 70 anos; e facultativo para quem tem 16 e 17 anos, para os maiores de 70 anos e para as pessoas analfabetas.  

Embora seja essa a sistemática atual, os eleitores da melhor idade, acima dos 70 anos, reiteram de forma categórica que querem e vão votar. A inviolabilidade do voto tem um conceito muito forte para esses eleitores, haja vista a sua representação como pilar da democracia moderna, que eles ajudaram a construir.  

A maioria dos eleitores da melhor idade confia na efetividade do Artigo 14 da Constituição, de que a soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, e acredita nas normas inferiores, as quais podem servir como complemento à Constituição, mas jamais contrariá-la ou reescrevê-la. 

No entanto, a segurança buscada pelos eleitores da melhor idade está longe de ser alcançada, uma vez que até mesmo os programas de governo dos candidatos ficaram nas gavetas. As promessas se repetem, e o planejamento alardeado pelos concorrentes partidários, como premissa de trabalho, nem sequer consta de suas ínfimas propostas. Esses eleitores, mais experientes e mais acostumados às armadilhas das proposições não efetivadas, logo desconfiam. E razão não lhes falta. 

Os eleitores da melhor idade, que não têm a obrigação de votar, são o que se pode chamar de "fonte da sabedoria", pois são calejados e sabem avaliar um candidato. Passaram por muitas eleições. Decepcionaram-se com alguns mandatários, que pensavam ser a salvação da lavoura, e contentaram-se com as iniciativas de outros que saíram da demagogia para a realidade da vida prática, com ação e atitudes. Daí a esperança de que nem tudo esteja perdido, principalmente para eles, que, mais do que nós, conhecem os altos e baixos da política brasileira. Ademais, o aumento da expectativa de vida no país convida a um olhar mais atencioso a esses mestres da sobrevivência, que merecem condições para que desfrutem do melhor da cidadania.

Embora sem propostas pontuais que os favoreçam, os eleitores da melhor idade pensam positivamente e afirmam que irão às urnas, votarão e farão a diferença, não pensando neles, mas na família. Eles acreditam na mudança, têm discernimento para escolher entre os bons e os maus candidatos e filosofam com semblante sério e de forma irresignada que “a descrença é com os políticos, e não com a política”.

Diante disso, fica o exemplo de civismo da grande maioria dos brasileiros com mais de 70 anos, que espera, no mínimo, que seja cumprido o Estatuto do Idoso e que sejam melhoradas as políticas públicas. 

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quinta-feira, 02/10/2014, pág. 23).

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