A CRISE É DE CARÁTER



Essa frase "a crise é de caráter", repetida milhares de vezes país afora, não surte efeito moralizador nas pessoas, uma vez que sempre é remetida a atitudes políticas e governamentais. Mas o alcance da frase vai além. Os brasileiros, dos mais simples aos mais importantes, precisam entender que o caráter, a ética, a moral, a vergonha na cara, são valores indispensáveis na vida de todos.

De nada adianta pedir moralidade no Congresso se as pessoas comuns cometem infrações médias e graves, que envergonham muito, como furar a fila de banco, jogar lixo na rua, falar palavrão no trânsito, destruir o patrimônio público, pichar a cidade, estacionar em vaga de deficiente, passar o sinal vermelho, sonegar impostos, dar calote no comércio, não assinar a carteira do(a) empregado(a), aceitar suborno, receber auxílio paletó, aceitar "presentes" no exercício da função pública, e outras que aumentam a vergonha alheia.

De nada adianta falar de caráter, qualidade inexistente no meio político, se o indivíduo não aprende a votar e sempre elege e reelege as mesmas pessoas que roubam, desviam dinheiro público, empregam parentes, superfaturam obras, legislam em causa própria, fazem caixa dois, praticam a corrupção, mentem no exercício da função e riem da cara do eleitor.

De nada adianta falar de honestidade nos governos e na política, de maneira geral, se o cidadão não tomar vergonha na cara e não fizer o "mea culpa". O povo tem o governo e os políticos que elege. Portanto, se a coisa está tenebrosa em todos os sentidos, está na hora do basta. Mas que este basta seja de pessoas que tenham moral para tanto e não de uns e outros que, na teoria, são espetaculares, mas na prática são de caráter duvidoso.

Nos últimos tempos, o engodo, a desfaçatez, a dissimulação, a irresponsabilidade e a improbidade atingem níveis absurdos. Tudo isso é visto no primeiro, no segundo e no terceiro escalão. A tapeação é generalizada e é de primeiro, segundo e terceiro grau. A politicagem tomou conta da política, e até ministros da Suprema Corte falam pelos cotovelos, agridem e desmerecem a própria magistratura. Ou seja, a coisa vai de mal a pior na república de bananas.

A crise é de caráter, na política e na economia, porque a solução está emperrada no jogo de interesses de grupos partidários na Câmara e no Senado. Os Tribunais de Contas não fiscalizam, o Poder Judiciário está paralisado, O STF perdeu o rumo, o TSE faz o jogo dos partidos políticos dos amigos, e o país vai parando aos poucos, diante de uma utopia governamental sofrível, e pior ainda, diante de um povo que não reage. 

Caráter, minha gente, é o reflexo do ser humano grandioso. Caráter é lealdade, confiança, seriedade, compromisso e honestidade nas relações. Caráter é ter palavra. Um homem de caráter é um homem de palavra. Nos dias de hoje, quem pode assegurar a mesma coisa neste rol deteriorado dos Três Poderes?

As mazelas da vida pública são originadas da degradação moral, da corrosão do caráter e da impunidade. A crise moral e ética arrebanha a degradação já existente  nas instituições, que já consumiu os agentes públicos ou vai consumir muito em breve. O basta está nas mãos do povo, mas do povo que tem caráter, verdadeiramente.

O Estado se mostra anêmico e empacado, diante de tanta politicagem, seja no Executivo, no Legislativo ou no Judiciário. Os interesses pessoais são colocados acima dos interesses da nação brasileira. Dessa forma, sem ação e sem reação do povo contra tudo isso, o país vai de mal a pior, com ou sem alguns que podem ser considerados cidadãos de fato. Mas onde estão os cidadãos de caráter, de vergonha na cara, que amam esta pátria?

Pátria amada, idolatrada, da letra do hino. Cadê você? Aqui as leis não são obedecidas, a justiça é lenta, a violência é absurda, a impunidade é crescente, os governos são frágeis e incompetentes, a improbidade é moeda de troca, os impostos são escorchantes, a prestação de serviço público é deficiente e inadequada, o povo é sofrido e as autoridades são negligentes. Cadê você, pátria amada, idolatrada, de um sonho intenso, de raios fúlgidos?

O Brasil enfrenta uma severa crise de caráter, ou melhor dizendo, de falta de caráter. Portanto, diante de tudo isso, cabe à sociedade combater essa praga que está contaminando as partes ainda sadias do corpo combalido do povo brasileiro. E que este combate seja pela via democrática, ou pelo exercício da estrita vergonha na cara.

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Wilson Campos (Advogado/Especialista em Direito Tributário, Trabalhista e Ambiental). 



Comentários

  1. Falou tudo. Se o povo quiser a coisa muda. Não dá mais para ver os estados quebrados, falidos, enquanto os políticos abocanham 100 mil reais de salários e auxílios por mês, e de forma igual os juízes, os desembargadores e os ministros das instâncias superiores. Que país é esse, como disse o músico e poeta? Acorda povo brasileiro. Daniela A. S. V./ BH. MG.

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  2. Dr. Wilson Campos, que beleza de artigo, justamente a calhar com o que penso. O brasileiro tem de dar exemplo e cobrar comportamento adequando dos políticos que o representam. Se errou tem de pagar o preço do ilícito ou da fraude ou do desvio de conduta. Se todos nós tivermos uma vida regular e dentro da lei, sem vantagens indevidas, podemos exigir cadeia para os que pulam fora da regra. Mas cadê os bons exemplos da sociedade? Existem, mas precisam superar os maus exemplos em tudo. Valeu pelo artigo e pela dica sempre salutar, legal, cidadã. Maria Fernanda. CMR. - MG/Br.

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