ESCASSEZ DE MÃO DE OBRA QUALIFICADA NO BRASIL

 

Quase sempre ouço de empresários, clientes do meu escritório, que a escassez de mão de obra qualificada vem comprometendo cada vez mais seus negócios, gerando quebra de expectativas em muitos nichos de mercado e atrasando de certa forma o desenvolvimento da economia nacional.

As alegações da iniciativa privada não encontram ressonância no setor público, posto que ambos estão em mundos diferentes, alheios aos problemas um do outro, como se resultados excelentes não se convertessem em emprego e renda.

Mas, enquanto as empresas apenas reclamam, o governo federal faz ouvidos moucos e segue sua rotina de gastar muito e mal, sem a menor preocupação com a especialização de profissionais ou com a defasagem da educação nas escolas brasileiras, cujo ensino é fraco e não permite ao aluno a possibilidade de raciocínio lógico e pensamento crítico.

Um país como o Brasil, com a dimensão que tem, não pode se abrigar nas sombras da incompetência e do comodismo. Ora, a deficiência de mão de obra qualificada é uma realidade e requer investimentos de empresas no capital humano, esforço dos colaboradores na busca por especialização e certificação e parceria em todos os níveis por parte do poder público, seja da esfera federal, estadual ou municipal.

A criação de talentos é uma missão difícil, mas não impossível. Daí a urgência do primeiro passo definitivo e inarredável de combate ao apagão de mão de obra qualificada, não se podendo mais admitir o faz de conta de empresários, sociedade e governo. Ademais, o estímulo aos jovens depende de bons exemplos, e cabe ao Estado cumprir o seu dever social de educar e qualificar, notadamente segundo a interpretação do artigo 205 da Constituição, que diz: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Sem preciosismos, mas mantendo o respeito e o bom senso, a recomendação aos organismos de governo é manter os profissionais brasileiros no Brasil, sem a necessidade de riscos e aventuras em outros países, uma vez que aqui eles poderão encontrar bons empregos, remuneração adequada, investimentos em múltiplas especializações e apostas em modernas gestões e administrações de recursos humanos.

O maior trunfo da qualificação da mão de obra será a eliminação do retrabalho no ambiente de organizações que primam pela qualidade, com isso capacitando gerações de vencedores, que, além do lucro dos empregadores, visem a sua qualidade de vida, presente e futura. Ou seja, quem absorve conhecimento e se especializa tem um mundo de possibilidades e oportunidades pela frente.   

A hora de começar essa renovação é agora, independentemente deste ou daquele porém. Empresas de visão não podem temer desafios ou se deixar obstar por fragmentações políticas e econômicas temporárias. Privilegiar a qualificação do trabalho é dever do Estado. E apostar na gestão de pessoas e acreditar no capital humano é o melhor investimento empresarial para driblar a escassez de mão de obra qualificada.

Wilson Campos (Advogado/Especialista com atuação nas áreas de Direito Tributário, Trabalhista, Cível e Ambiental/ Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG, de 2013 a 2021/Delegado de Prerrogativas da OAB/MG, de 2019 a 2021).

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quinta-feira, 3 de agosto de 2023, pág. 19).

Clique aqui e continue lendo sobre temas do Direito e da Justiça, além de outros temas relativos a cidadania, política, meio ambiente e garantias sociais.