ÉTICA PÚBLICA E ÉTICA PRIVADA
Segundo o filósofo alemão
Immanuel Kant (1724-1804), fundador da filosofia crítica, a ética baseava-se em
imperativos categóricos (morais), que são as condições necessárias para
desenvolver a ética.
Para Kant o
dever é o bem. A boa vontade é a vontade de agir por dever. O imperativo
categórico, ou da moralidade, determina a ação independentemente de todo o fim
a atingir e tem o seu fundamento apenas na consciência moral. O imperativo
moral é categórico (e não hipotético ) sem qualquer condição.
Note-se que, desde
a antiguidade, os filósofos, pensadores natos, tentam analisar e compreender os
princípios e os valores de uma sociedade e como eles ocorrem na prática. A
ética, a moral, o caráter, o direito, a liberdade e a educação sempre mereceram
considerações particulares dos grandes mestres da filosofia.
Em distintas épocas, muitos estudiosos
refletiram sobre a ética: os pré-socráticos, os sofistas, Aristóteles, Platão,
Sócrates, os Estoicos, os pensadores Cristãos, Kant, Espinoza, Nietzsche, entre
outros.
Sócrates é conhecido como “o pai da
moral”. Para ele, a ética é racionalista, uma vez que se fundamenta na razão.
Platão deu continuidade a essa ideia.
Ética é a parte
da filosofia que estuda o comportamento humano
e sua relação com as normas. Ela,
essencialmente, reflete os princípios e os valores morais questionando se
certas formas de agir contribuem ou não para a vida na sociedade, cujo objetivo
é a justiça social. A justiça e a sociedade são as metas.
A ética e a
moral, embora parecidas, não têm a mesma equivalência, porquanto sejam exigidas
em diferentes condições. Não devem ser confundidas.
A moral é o
conjunto de regras que se baseia em valores culturais e históricos de cada
sociedade, por meio da prática ou de aspectos de condutas humanas específicas; está
balizada na subordinação aos costumes, regras e hábitos determinados por cada
sociedade.
A ética, por
sua vez, busca fundamentar tais preceitos em maneiras virtuosas de vivência - a
"arte de bem viver"; "o dever do bem"; "a vontade de
agir pelo dever, pelo bem de todos". Assim, enquanto a ética é universal,
a moral é cultural.
O postulado ético de
Kant é de que só o ser racional possui a faculdade de agir segundo a
representação de leis ou princípios; só um ser racional tem vontade, que é uma
espécie de razão, denominada razão prática.
O mais importante princípio,
quiçá o primeiro, de toda ética, é o de que o ser humano e, de maneira geral,
todo ser racional, existe como um fim em si mesmo e não simplesmente como meio do
qual esta ou aquela vontade possa servir-se a seu talante. (KANT.1980, p. 134-135).
A citação de razão pura
do filósofo é no sentido de que "No reino dos fins tudo tem ou um preço ou
uma dignidade. Quando uma coisa tem preço, pode-se por em vez dela qualquer
outra coisa como equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o preço,
e, portanto, não permite equivalente, então ele tem dignidade". (KANT.1980,
p. 140).
Na melhor interpretação,
mesmo de leigo, como é o caso deste escrevinhador, Kant quis dizer que a
dignidade está acima de qualquer preço e não pode ser comprada ou trocada por
coisa parecida, porque não lhe tem o mesmo valor.
Dignidade, ética e moral
precisam estar juntas, na sociedade e na política, no privado e no público.
Um povo digno, ou que
pretende alcançar a dignidade, não pode admitir as teses de "levar vantagem",
"dar um jeitinho", ou coisas parecidas. Essas máximas da vantagem e do
jeitinho brasileiro são produtos antigos, vencidos, de povo colonizado, que
requerem imediata reposição por máximas do tipo solidariedade, igualdade,
respeito, direitos e deveres, ética, moral, liberdade e educação.
Não vai aqui nenhuma
condenação a ferros ou a morte daqueles que não são éticos, sem o devido
contraditório, mas os tempos são outros, a globalização está aí, o mundo está
mais próximo nas telas e nas redes sociais. Portanto, sirva-se o cidadão dos
melhores exemplos e não dos piores.
A falta de ética
presta-se, em muitas situações, para superar as adversidades da vida,
em um país marcado por desigualdades sociais, deficiências dos serviços
públicos, maus exemplos da política e complexidades da vida moderna. No
entanto, não se justificam o jeitinho, a falta de ética e a falta de moral ou
de educação. A qualidade precisa superar a mediocridade, na vida pessoal e na
vida profissional.
Se a falta de ética
pública é vista como um fato normal, jamais esta nação será uma nação de fato,
verdadeira e respeitada. Essa aberração
conhecida como falta de ética pública contribui para o atraso social, econômico
e moral do país.
Não menos grave, a falta
de ética privada constitui-se em agir com "jeitinho", levando "vantagem"
e passando os outros para trás, quebrando normas e regras (éticas e sociais),
violando leis e degradando até mesmo o ambiente familiar. Um chefe de família
sem ética afasta até mesmo os seus entes queridos, mais próximos, diante da
contaminação pelo mau comportamento. O custo moral é grande e não vale a pena.
Regra geral, o exercício
da ética pública e da ética privada é muito bem-vindo no mundo contemporâneo, urgentemente,
empurrando para o buraco da história e para o fundo do poço a falência das
práticas antiéticas, seja no público ou no privado.
O avanço do processo
civilizatório não admite mais as presenças de "levar vantagem",
"jeitinho brasileiro", "falta de ética", "ausência de
moral".
Entretanto, em que pese
o inteiro teor do texto, não se está aqui julgando ou prejulgando alguém. A
história fará isso. A história brasileira é única, é nossa e a nós todos cabe
mudá-la para melhor.
Não defendo uma ideia
pessimista quanto ao Brasil e ao seu povo - de corruptos, desonestos,
antiéticos, imorais. Ao contrário, trabalho e torço para que todos sejamos bons
exemplos, nacional e internacionalmente, de forma que um novo tempo que chega,
nos encontre esperançosos de um país ético e muito melhor para viver.
O povo brasileiro é um
povo de esperanças, guerreiro, trabalhador, alegre, receptivo, solidário e à
procura da felicidade. Parece difícil alcançar a felicidade e a alegria de
viver, mas também eram difíceis as batalhas vencidas. Basta querer e sair da inércia.
Atitude e ação contra os erros. Punição severa para os crimes.
Não é permitido ao povo
brasileiro o desânimo. Desanimar, nunca, porque a ética pública e a ética
privada dependem de nós, de nossos exemplos.
Clique aqui e continue lendo sobre atualidades da política e do Direito no Brasil
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Wilson Campos
(Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses
Coletivos da Sociedade, da OAB/MG).
Parabéns pelo artigo. Muito bem e cívico. Madeleine J. A. T.
ResponderExcluirConcordo e assino embaixo. Ética e moral para o nosso povo e para o nosso Brasil e, principalmente, para os políticos. Moralidade JÀ. Todo bom princípio requisita ética, moral, educação,liberdade, justiça. Parabéns ao Dr. Wilson Campos pelo grande mérito do artigo.
ResponderExcluirJusselma T.R. S., Doutora em Cièncias Sociais.
Ontem ouvi a notícia sobre a lista do ministro Fachin e bate com o artigo do Dr. Wilson Campos. Onde está a ética pública neste nosso Brasil, minha gente? Esses políticos safados estão acabando com o país - falta-lhes ética, moral, vergonha na cara, respeito, probidade e compostura. Vamos banir esses ladrões do cenário de uma vez por todas. Nunca mais eleger esses inimigos da pátria e obrigar todos a devolverem o dinheiro roubado. Alisson V. S. H.,militar e professor, cidadão e contribuinte.
ResponderExcluirA falta de ética na política brasileira é antiga e cada vez mais acintosa, meu dileto Dr. Wilson Campos. Temos que banir esses corruptos e imorais da vida pública brasileira. Não depois, mas agora. Já!! Vamos votar, mas nunca mais eleger quaisquer desses políticos que não têm ética e muito menos moral. Parabéns pelo artigo. Jácomo G. H., MG.
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