VALE DE LÁGRIMAS.
De
que nos vale viver nos arredores de uma mineradora, que gera alguns empregos e
muito lucro, se o que nos resta é um vale de lágrimas?
De
que nos vale ter governantes eleitos, que passam o mandato concedendo benesses
a empresas poderosas, se o que nos resta é um vale de lágrimas?
De
que nos vale sustentar uma dispendiosa Assembleia Legislativa, que vota contra
projeto de lei que pede fiscalização de barragens, se o que nos resta é um vale
de lágrimas?
De
que nos vale ter uma população solidária na dor e na tristeza, que chora pelos
mortos e feridos vítimas do rompimento da barragem da mineradora Vale em
Brumadinho, se o que nos resta é um vale de lágrimas?
De
que nos vale ter serras, morros e montanhas deslumbrantes, que nos orgulham
por fascinante fauna, flora e mananciais, se o que nos resta é um vale de
lágrimas?
De
que nos vale ser senhor e senhora das maiores jazidas produtoras de minério de ferro
do Brasil, que veem suas riquezas serem arrancadas e levadas para longe, se o
que nos resta é um vale de lágrimas?
De
que nos vale ter legislação ambiental em capítulo especial da Constituição
Federal, que assegura a todos o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, se o que nos resta é um vale de lágrimas?
De
que nos vale ter normas, regras e diretrizes entregues ao poder público, que
faz vista grossa e as ignora quando lhe é conveniente e de particular
interesse, se o que nos resta é um vale de lágrimas?
De
que nos vale ser herdeiros da corajosa Inconfidência Mineira, que se
transformou no mais importante movimento social da história do país, se o que
nos resta é um vale de lágrimas?
De
que nos vale a outrora valorosa luta dos inconfidentes mineiros, que deram seu
sangue pela independência e pela liberdade, contra um sistema ganancioso e
financista, se o que nos resta é um vale de lágrimas?
De
que nos vale a exploração interminável do minério de ferro, que não paga o
quinto e ainda destrói impunemente vidas, cidades, rios e natureza, se o que
nos resta é um vale de lágrimas?
De
que nos vale a luta incansável das pessoas, que não são ouvidas no seu mais lídimo
direito e sofrem ainda com a tragédia de Mariana e mais agora com a de
Brumadinho, se o que nos resta é um vale de lágrimas?
De
que nos vale o crescimento e o desenvolvimento a qualquer preço, que vem a reboque
de commodities exportadas, se o que nos resta é um vale de lágrimas?
De
que nos vale a arrecadação de impostos com razoável representação tributária,
mas que chega a Minas acompanhada de mais de 400 barragens de rejeitos, 10% delas
representando grandes riscos para comunidades e fontes de abastecimento de
água, se o que nos resta é um vale de lágrimas?
De
que nos vale ser mineiros legítimos e apaixonados por Minas Gerais, das minas
de minerais, que conquistaram a “Liberdade, ainda que tardia” e que tanto fizeram
pelo Brasil, se o que nos resta é um vale de lágrimas?
Wilson
Campos (Advogado/Especialista em Direito Tributário, Trabalhista, Cível e
Ambiental).
(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019, pág. 25).
(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019, pág. 25).
É um vale de lágrimas sim, mas não pode ficar impune, de jeito nenhum. O povo não pode ficar quieto. O povo precisa cobrar cadeia para os criminosos e indenização para todas as famílias de mortos e feridos, e para os que perderam plantações, imóveis, empresas, carros, etc. Justiça já e não dá para esperar, tem de ser agora. Mais uma vez o artigo do Dr. Wilson no jornal O TEMPO me deixou emocionado, pois o texto é triste mas muito bem alinhavado. Nota 100. Sou Salvador Andrade.
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