ABOLIÇÃO VIOLENTA DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO. MAS, DA PARTE DE QUEM?

 

O Estado brasileiro se mostra anêmico e empacado diante da sua própria estultice. A ganância, o apego ao poder e os interesses pessoais são colocados acima do pedido de socorro da nação. E dessa forma, sem ação e sem reação do povo - cabisbaixo, quieto, de cócoras e com o queixo nos joelhos -, o país caminha para um retrocesso de grandes proporções. 

O sistema de freios e contrapesos comum aos Três Poderes já não existe. Eles falam em abolição violenta do Estado democrático de direito, mas não é a proteção da Constituição que eles querem, pois a violam. Não é o fortalecimento das instituições, pois as desrespeitam. E não é a liberdade, pois lhe negam a garantia ao devido processo legal.

Lado outro, o bom senso não mais é operado pelos cidadãos de bem, porquanto estejam acovardados e deixando a carruagem dos inimigos da pátria passar, impunemente. Daí a tolerância cada vez maior da sociedade aos abusos em nome da “defesa” da democracia. Abusos que violam, desrespeitam e negam o direito à cidadania.

A explicação paradoxal é pagar caro pela existência de um Congresso leniente, conviver com parte de uma imprensa intencionalmente silenciosa, pertencer a uma sociedade amedrontada, e custear um Judiciário ativista, movido por política e alucinado com o poder. Todavia, os paradoxos de hoje podem ser a derrocada de amanhã.

Causa engulhos ter de admitir que caminhamos para um sistema absurdamente autoritário. Quanto mais a mídia dá visibilidade às performances da política rasteira e das instituições cambaleantes, mais cresce a indignação e a vergonha alheia de um povo que percebe a falta de caráter das autoridades públicas, não obstante algumas raras exceções.  

De certo que a vergonha alheia é um sintoma nacional, porquanto os fatos lamentáveis ocorrem todos os dias, sem interrupção. A falta de vergonha na cara e a total ausência de caráter estão nos atos cotidianos daqueles que se intitulam representantes do povo e das instituições, mas que fogem das suas obrigações legais e preferem prevaricar, numa verdadeira ciranda de vaidades e defesa de interesses puramente pessoais. 

O filme em cartaz é de guerra entre os Três Poderes da República. O Executivo, o Legislativo e o Judiciário protagonizam cenas medonhas. A Constituição Federal, que foi promulgada para proteger a população, resta interpretada às avessas para cercear a liberdade, calar a voz e acorrentar os cidadãos.

O Supremo Tribunal Federal (STF) usa e abusa da sua competência institucional, usurpa funções legislativas e executivas de outras esferas da República e não raro pratica ativismo político e judicial. O órgão atropela quem se coloca à sua frente. Seus membros ignoram Ministério Público, Procuradoria-Geral da República e investigam, acusam e julgam. Tudo ao mesmo tempo.

A insegurança jurídica prospera. O caos se eleva. A mentira reiterada várias vezes se torna verdade. Não são aleivosias ou metáforas. São fatos. Enquanto as pessoas continuam reféns da sua própria inércia, mantendo-se passivas, os titulares dos desmandos, do autoritarismo e do desgoverno loteiam o território e semeiam a discórdia.

Os erros são muitos e cada vez maiores e mais acintosos. As autoridades erráticas se encontram impunes e gritando ordens, mas sempre esperando pela pizza, que será servida em pratos de porcelana e com talheres de prata, enquanto o povo se vira, quando tem, com a marmita de arroz, feijão e ovo.

O desplante e o mau-caratismo ficam escondidos sob o manto do foro privilegiado, notadamente daqueles agentes públicos e políticos que, de forma velada, praticam os mais ignóbeis atos de canalhice, próprios dos energúmenos que não temem a lei, e se safam graças à impunidade, que, por sua vez, fervilha sob a encolha sorrateira dos cúmplices, que facilitam o cometimento de crimes. E o lucro é a divisão do butim.

Nos últimos tempos, o engodo, a desfaçatez, a irresponsabilidade, o autoritarismo e a censura atingem níveis absurdos. A politicagem rasteira está tomando conta do país. A coisa vai de mal a pior na República. A Justiça é lenta, a liberdade de expressão está sendo retirada, a democracia corre riscos, a violência é crescente e a impunidade é tolerada.

A vaidade consome a todos, e os defeitos se avolumam. A improbidade é moeda de troca, os impostos são escorchantes e a prestação de serviço público é inadequada e ineficiente. E graças a esses fatores negativos e lamentáveis, o país é penalizado, e a conta vai para a sociedade, que teima em ficar de cócoras, com o queixo aos joelhos.

Os excessos de poder e a sinecura de políticos e autoridades, que se comportam como donos da verdade e se colocam no topo da montanha, indevidamente, apenas merecem o desprezo da população, e o medo, muito em razão dos seus atos desmedidos, desarrazoados e descompromissados com a democracia, com a liberdade e com a Constituição.

Qualquer crítica é encarada como um atentado à democracia. Não vimos isso nem nos piores momentos do regime militar. Mas hoje tudo pode acontecer. E tudo em nome da “defesa” da democracia. Ora, fala-se muito em tentativa de golpe. Talvez sim, mas este já está aí, escancarado no dia a dia do brasileiro.  

As parcerias com Venezuela, Nicarágua, Cuba, Hamas, Irã e Rússia, como visto nos últimos tempos, são provas cabais de que o Brasil caminha a passos largos para uma ditadura comunista. Mas daí o povo brasileiro jogar a toalha, abandonar o jogo ou fugir da raia, vai uma diferença muito grande.

Os holofotes do mundo estão agora virados para o Brasil. Os exageros do sistema e dos seus comandantes incomodaram muita gente. A imprensa internacional já dá destaques do que acontece aqui. A imprensa nacional, aquela intencionalmente silenciosa, agora dá mostras de que nada vai bem. Ou seja, o plano dos autocratas de subjugar o povo e derreter as leis do país está sendo desmascarado.

Lentamente, o placar do jogo está mudando. As críticas aos ataques promovidos pelo STF à liberdade de expressão foram engrossadas por novos personagens nos últimos dias. Além de Elon Musk, o bilionário CEO do X (Twitter), Starlink e SpaceX,  dois grandes jornais brasileiros, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo publicaram editoriais criticando a postura do Supremo, especialmente do ministro Alexandre de Moraes.

Justiça seja feita, o jornal Gazeta do Povo sempre se manteve na vanguarda da informação imparcial e equilibrada, especialmente recomendando que seus colaboradores opinem observando o Estado de direito e defendam o respeito à Constituição, mas jamais admitindo a instituição da censura prévia ou a retirada das garantias constitucionais.

Enfim, a alegada “abolição violenta do Estado democrático de direito” é da parte de quem? Ora, provavelmente é da parte daqueles que censuram, dão ordens secretas e sentem prazer em cercear a ampla defesa e o contraditório. Isso, não isentando de culpa o Congresso, declaradamente submisso ao Grande Censor.  

Wilson Campos (Advogado/Especialista com atuação nas áreas de Direito Tributário, Trabalhista, Cível e Ambiental/ Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG, de 2013 a 2021/Delegado de Prerrogativas da OAB/MG, de 2019 a 2021).

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Comentários

  1. Eliane Radamés H. de O.16 de abril de 2024 às 11:55

    Excelente texto que precisa ser lido por 220 milhões de brasileiros. Deveria ser publicado também pelos jornais Folha, Estadão e Gazeta do Povo. Merece a publicação e vou compartilhar para milhares. Parabéns Dr. Wilson. Gratidão sempre. Eliane Radamés.

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  2. Concordo com o comentário anterior e achei excelente também e vou compartilhar depois de ler e reler. Meus grupos são todos de gente consciente e que sabe o que o Brasil merece e precisa e é isso que foi dito no artigo exemplar. Dr. Wilson saudações e parabéns. Euller Damião.

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  3. Clésio Trigueiro S.F.16 de abril de 2024 às 11:59

    Peço aqui licença para destacar essa parte do artigo do mestre Wilson Campos: ... ( Enfim, a alegada “abolição violenta do Estado democrático de direito” é da parte de quem? Ora, provavelmente é da parte daqueles que censuram, dão ordens secretas e sentem prazer em cercear a ampla defesa e o contraditório. Isso, não isentando de culpa o Congresso, declaradamente submisso ao Grande Censor ). - Brilhante!!! Att: Clésio Trigueiro.

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  4. Vitória M. R. Constantino16 de abril de 2024 às 12:12

    Dr. Wilson a briga entre Musk e Moraes estava decidida no primeiro round com nocaute técnico do Musk no Moraes. E depois o Congresso americano ainda deu umas investidas e o xandão sentiu o baque, e depois vem a imprensa brasileira saindo do comodismo esquerdista e resolvendo falar a verdade do que acontece. O resultado é o Congresso trabalhar e deixar de covardia e apurar os fatos e punir quem tiver de ser punido, dentro da sua função legislativa. Certo Dr. Wilson, e parabéns mais uma vez pelo excelente artigo. Vitória Constantino (empreendedora, empregadora e pagadora de impostos).

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  5. O pico do maior absurdo numa democracia começou ano passado com a prisão dos manifestantes de 8 de janeiro sem direito a defesa e julgamento por um ministro do STF. O erro começou aí. O presidente que tomou posse cruzou os braços, o então ministro da justiça, idem. O STF meteu o bedéu onde não deveria porque o caso seria para as instâncias inferiores. Depois veio a censura, a ameaça de prisão der quem falasse ou fizesse qualquer manifestação, depois veio a caça aos às bruxas e etc etc etc., sem direito a defesa e prisão absurda com condenação de 14, 15, 16, 17 anos de cadeia; Como assim? Tem criminosos violentos que não recebem essa condenação tão cruel e injusta. Deu nisso. Os jornais grandes do Brasil já começam a cobrar e o Congresso vai ter de fazer alguma coisa depressa. Concordo com 100% do que fala o artigo doutor Wilson e parabéns pela ética e equilíbrio. Ótimo advogado que sempre está presente na defesa da cidadania e eu sei disso muito bem. Abraço do William F. Modesto.

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  6. A tal abolição do regime democrático partiu do judiciário que é vítima e autor ao mesmo tempo, e investiga, acusa, julga e sentencia. Tá explicado e ponto final. Dr Wilson o senhor acertou em cheio com este artigo. 10. Nota 10!!!!! Abr. TD.

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  7. Não tenho o que dizer, tudo já está dito no brilhante texto do Dr. Wilson Campos. Homem reto, capaz, sensível às coisas que acontecem no Brasil e acometem a nação e consequentemente o nosso povo. Parabéns !! Se nao sou representado no congresso, estou sendo representado neste artigo.

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  8. Excelente. Nada a acrescentar. Assino embaixo, parabéns. VD.

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