O BRASILEIRO NÃO GOSTA DE LER. QUE TRISTEZA!

O grande escritor brasileiro, Monteiro Lobato (1882-1948), dizia com extrema sabedoria: “um país se faz com homens e livros”.

A advertência do renomado escritor tem estreita relação com a máxima importância da leitura na construção de uma identidade social, por parte do leitor, e, sobremaneira, como forte alicerce para os pilares do crescimento e do desenvolvimento de uma nação.

No Brasil, infelizmente, as pessoas não têm costume nem vontade de se debruçar sobre os livros. As linhas, os parágrafos e as páginas escritas não inspiram a grande maioria dos brasileiros. A história, a geografia, a ciência e as notícias do mundo, sejam antigas ou contemporâneas, parecem não despertar o interesse da leitura dos seus textos, ainda que para preparação acadêmica ou de vida.

Os brasileiros, da adolescência à fase adulta, não foram incentivados a frequentar bibliotecas para uma pesquisa mais fundamentada. Se antes já não era possível cobrar a leitura de um livro inteiro ou de vários livros sobre diversos temas, atualmente a situação é ainda mais dramática, pois as buscas são rápidas e sem muita paciência, principalmente da parte dos mais jovens, que ficam horas e dias com os olhos fincados nas telas dos celulares, mas quando se trata de livros, correm léguas de distância. Que tristeza! Que burrice!

Ao contrário do Brasil, a Argentina privilegia suas livrarias espalhadas pelo país. Eu digo isso porque vi com meus próprios olhos quando estive a passeio em Buenos Aires. As livrarias estão sempre cheias de pessoas lendo ou comprando livros. Nas cafeterias acontece o fenômeno de se ver pessoas sentadas, tranquilamente, lendo livros enquanto tomam uma boa xícara de café.   

No Brasil, as livrarias reclamam do pequeno giro das obras literárias, embora muitas tenham qualidade e conteúdo. Veja-se que, segundo pesquisa recente divulgada, 84% dos brasileiros não compraram nem um livro sequer em 2023. Tudo bem que afirmar que as pessoas não compram livros não significa dizer que elas não leem. Ora, há exceções à regra, mas sabe-se perfeitamente que o número de leitores no país é baixíssimo – em torno de 16%, segundo a mesma pesquisa inédita “Panorama do Consumo de Livros”.

Complementarmente, a pesquisa assegura que entre a população adulta que comprou ao menos um livro nos últimos doze meses, 57% são mulheres e 43% são homens. Já quanto à classe social, 43% dos compradores são da classe C, 10% da DE, 39% da B, e 7% da A. E em relação à região dos consumidores, 45% está no sudeste, 28% no nordeste, 14% no sul, 8% no norte e 7% no centro-oeste.

De forma que somos, de fato, por inúmeras razões, um país que não lê. Basta passar rapidamente pela Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, popularmente conhecida como “Biblioteca da Praça da Liberdade” e constatar o pequeno número de leitores ou pesquisadores ali presentes, embora o acervo seja de 570 mil itens. Nas livrarias ocorre o mesmo – muitas obras sendo publicadas e colocadas à venda e pouquíssimos interessados na compra dos livros.  

Dizem os mais experientes, com assertividade, que educação vem de berço. Daí a cobrança aos pais para que incentivem seus filhos desde pequenos a terem o hábito da leitura de livros e não de telas de computadores ou celulares. Talvez por simplicidade ou ignorância mesmo, muitos pais (+ ricos) negligenciam na educação e preferem presentear seus filhos com brinquedinhos eletrônicos, em vez de dar uma boa educação, bons livros e alimentos saudáveis. Os pais (+ pobres), por óbvio, se preocupam com a sobrevivência e o estômago cheio dos seus filhos. A escola fica de lado.

Quando se deixa a educação em plano inferior e até esquecido, enterra-se o futuro de uma sociedade que poderia ser mais instruída, cognitiva e consciente da real valia da cidadania. O Brasil paga caro por esses erros e a explicação para a pouca leitura de livros está exatamente no pequeno investimento em jovens, que poderiam ser mais bem educados e muito mais instruídos.  

A recomendação da leitura não é apenas para as pessoas pobres, mas também para aquelas de classe média e ricas. Ora, a leitura é a preparação para o hoje e o amanhã. E a juventude é a mola propulsora dessa engrenagem que movimenta uma sociedade cada vez mais exigente e carente de conhecimentos gerais, valendo observar que não se precisa tão somente de eruditos doutores e mestres, mas de cidadãos comuns, que saibam caminhar com suas próprias pernas e criar, desenvolver, empreender, aprender e ensinar. Essa é uma construção que se pode dizer sólida na vida cidadã.

Falamos de livros, de leitura, de cognição e de educação, mas cabe alertar para a importância de se falar outras línguas – inglês, francês, espanhol, alemão, entre outras. A mesmice de uma vida sem leitura não vai exigir esses mimos, mas uma vida de dedicação ao aprendizado, ao trabalho e aos livros, com certeza leva à conquista dos mimos de outras línguas no desenvolvimento de novas técnicas de crescimento e progresso, seja individual ou coletivo.

A educação e a leitura andam juntas e têm função social. A cultura aprimorada de um povo o torna conhecido e respeitado. Os conhecimentos da Medicina e do Direito, por exemplo, salvam vidas e defendem direitos, respectivamente. Assim e da mesma forma se dão em outras áreas de conhecimento. Cada uma tem sua importância social. Todas as profissões devem ser honradas e respeitadas. Mas, invariavelmente, todas exigem leitura para maiores êxitos e vitórias.

É trabalhoso escrever um artigo. É trabalhoso construir uma ponte. É trabalhoso diagnosticar uma doença. É trabalhoso defender uma causa. Com certeza é trabalhoso ensinar e educar. Pergunte aos escritores, aos engenheiros, aos médicos, aos advogados e aos professores.   

Eu sou advogado atuante e também escrevo artigos. Na advocacia tenho alegria nas vitórias e tristeza nas derrotas, mas nunca deixo de lutar brava e severamente em prol dos interesses do meu cliente. Já na escrita, na criação e formulação dos artigos, sempre fica em mim um saudosismo, um lamento, uma vez que sei do desinteresse dos brasileiros pela leitura. Mas escrever é gratificante, reconfortante e enriquecedor. A riqueza não vem pelo retorno econômico dos artigos, mas pelo prazer de estar informando alguma coisa relevante para algumas pessoas adeptas da leitura gratuita.

A cabeça e o conhecimento geral são as ferramentas do escritor, independentemente se ele escreve livros ou artigos. A escrita exige silêncio e tranquilidade, e a cabeça pensante trabalha e atua somando e diminuindo e multiplicando e dividindo palavras e expressões. O texto redigido com esforço intelectual requer a junção de corpo e alma para que atinja seus objetivos maiores – ser lido e ser útil.

Mas de repente, não mais que de repente, ressurgem na minha mente os questionamentos: escrever pra quê?; escrever artigos, se até os livros perdem para a busca rápida na internet?; escrever para quem, se não há leitores nesse país?.

Repercute por aí, aos gritos, que a cultura literária perde de goleada para as inteligências artificiais. No entanto, a meu ver, nenhum robô ou sistema ou programa será tão eficiente quanto aquele que lê e escreve por si e por seu conhecimento. A leitura é incomparável se a conversa pede por sentimentos humanos e opiniões próprias. Quem lê livros e artigos, ainda que uns e outros, não perde e só ganha. Aliás, a leitura é um eterno ganhar.

A rigor, um país que não lê não se faz, e está fadado à perda e ao insucesso, mesmo porque “um país se faz com homens e livros”.

Wilson Campos (Advogado/Especialista com atuação nas áreas de Direito Tributário, Trabalhista, Cível e Ambiental/ Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG, de 2013 a 2021/Delegado de Prerrogativas da OAB/MG, de 2019 a 2021).

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Comentários

  1. Gustavo Graciliano S. T. Jr.6 de setembro de 2024 às 15:48

    Concordo 100% com o adv Dr. Wilson Campos. O brasileiro não gosta de ler. O brasileiro gosta de ficar horas e horas vendo imagens no celular e trocando mensagens escritas com português errado. Uma vergonha e uma burrice!!! Muitas livrarias fecharam em BH e no Brasil e estão fechando mais porque no Brasil os jovens são preguiçosos e não gostam de ler e muito menos de pesquisar. Geração de buscadores de internet - google. Geração sem miolo e sem cérebro. Ou nosso povo começa a ler e ler bastante livros e artigos ou vai ficar no atraso porque a internet não ensina tudo e aliás ensina mal. Quem não lê vira massa de manobra de governos autoritários e de ditaduras comunistas. Dr. Wilson parabéns pelo excelente artigo. Abrs. Gustavo Graciliano Jr.

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  2. Heliodora M. S. Diegues6 de setembro de 2024 às 15:53

    É burrice mesmo. Quem não lê é burro e fica mais burro na medida que o mundo muda e o ignorante que nada leu não sabe nada do antes nem do hoje e muito menos do amanhã. Quem não lê é propenso a virar filhote de militância de esquerda burra e odiosa. Quem não lê livros ou artigos bons não tem como competir num mercado moderno e globalizado. Quem não lê não sai da estaca zero. Valeu demais Dr. Wilson Campos por mais este artigo maravilhoso. Amei de verdade o texto todo. A lição tomara que seja aprendida pelos brasileiros. Heliodora M.S. Diegues.

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  3. Vander e Soraya Modesto10 de setembro de 2024 às 17:28

    Não podemos dizer claramente, mas quem não lê, com o perdão da palavra, é tomado por burro. Como discutir algo da modernidade tecnológica se você não leu nada a respeito, ou como discutir sobre internet se você não sabe como surgiu ou como é feita tecnicamente? Como falar de política se você está desconectado das notícias dos jornais? Como passar no Enem se você não sabe fazer uma redação sobre o tema pedido,porque você não leu e não sabe nada a respeito?
    Portanto, você precisa ler livros e não mensagens de whatsapp ou outras de instagran,etc, Isso não dá futuro e não aprova no Enem. Vamos ler mais jovens do Brasil. Vamos ler sobre história, geografia, literatura, ciências, matemática ( ler e praticar). Vamos ler minha gente porque a leitura é uma fonte de saber. Parabéns doutor Wilson Campos pelo seu artigo e pelos outros artigos do blog, muito bons e super interessantes de leitura. Estamos lendo vários. Agradecemos. Vander e Soraya Modesto (pais de estudantes).

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