O TRISTE LAMENTO DAS ÁRVORES


Antes do golpe fatal da foice, do machado ou da motosserra, se as árvores falassem, elas diriam: nós somos assim, por natureza, cheias de predicados, intercedendo pelo ciclo da água, agindo como bombas biológicas, sugando a água do solo e a depositando na atmosfera e a transformando de líquido em vapor; nós somos assim, evitando inundações, apresando a água em vez de deixá-la entrar em casas e lojas e protegendo as comunidades dos estragos das tempestades; e se somos assim, por que nos exterminam? 

Diante do descaso da prefeitura e da consternação silenciosa da sociedade, não há como esconder o fato, notadamente no caso concreto da supressão e da poda predatória, em prejuízo absoluto das árvores, que atuam como filtros naturais de poluentes e melhoram a qualidade do ar; que proporcionam sombra e diminuem a temperatura do ambiente; que garantem a permeabilidade do solo e recarregam o lençol freático; e que produzem oxigênio, reduzem os ruídos e embelezam a cidade.

A rigor, não se justificam os motivos alegados pela administração municipal, se por idade e enfraquecimento, ataque de pragas, falta de cuidados ou agressões ao meio urbano, para as podas e as supressões de árvores em Belo Horizonte, sem transparência, sem o necessário mapeamento das espécies em risco de queda e sem o indispensável planejamento de replantio compensatório. A lâmina fria da ferramenta de corte sobrepõe-se ao bom senso e derruba a nova ou velha árvore, com uma única sentença, a de morte, e a paisagem fica órfã, desfazendo-se cada vez mais a esperança de recriar a “Cidade Jardim” de outrora.

Resta evidente que as árvores devem merecer atenção dos órgãos municipais competentes, seja pela precaução ou prevenção de acidentes nas vias urbanas. No entanto, isso não é razão suficiente para a supressão em série praticada pela prefeitura, que faz intervenções nas nove regionais, com cortes difusos e podas generalizadas, tendo replantado apenas 54% nesses nove meses de 2019. Ou seja, a rapidez na supressão não se compara nem guarda isonomia com o lento e malplanejado plantio de novas mudas apropriadas para cada local no espaço urbano.

Da mesma forma que a prefeitura, sem critério, a Cemig continua podando de forma indiscriminada as árvores que “atrapalham” sua fiação aérea, tão em desuso no mundo globalizado, porquanto já tenha passado da hora de toda a fiação ser subterrânea, eliminando riscos e danos desnecessários à população. Porém, em que pese observar que algumas velhas árvores, previamente condenadas, precisam ser suprimidas, torna-se indispensável o replantio imediato e em número bem maior, como medida de mitigação.

Em suma, a administração carece de melhores atitudes, ao contrário das ações a toque de caixa, danosas à qualidade de vida dos cidadãos.

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB/MG). 

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quinta-feira, 3 de outubro de 2019, pág. 22).

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Comentários

  1. De fato a poda e os cortes pela prefeitura e pela Cemig são abusivos porque não replantam nem cuidam como deveriam fazer. A fiação elétrica no alto dos postes além de feia demais, parecendo um varal mal arrumado, coloca em risco os moradores. A fiação da Cemig precisa ser subterrânea, como nos países mais desenvolvidos, o que evitaria ter de podar e despelar as árvores da cidade. A prefeitura precisa plantar mais do que corta, porque é assim que deve ser. O clima está muito quente, insuportável até e é porque têm poucas árvores. Sem árvores o povo fica sem sombra, sem clima melhor e sem oxigênio puro para respirar. Sem árvores a poluição toma conta da cidade e as pessoas pioram muito a qualidade de vida. CONCORDO EM TUDO COM O DR. WILSON CAMPOS, COMO SEMPRE NA DEFESA DA CIDADANIA DE BH E DO POVO.
    De BH, Fausto Alencar.

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  2. prezado Dr. Wilson
    boa tarde
    as arvores de belo horizonte,precisam é de tratamento não de poda total como e as nossas unhas,nosso cabelo.
    como aumentou a temperatura ambiente de belo horizonte,antes tinhamos mais arvores verdinhas e bem tratadas que faziam como o ar condicionado,fazendo o ambiente mais fresquinho.tida como a cidade luz em outrora belo horizonte era destino correto receitado pelos médicos. para tratamento de saúde devido ao seu clima proporcionado pelas arvores.
    mais arvores mais chuvas clima ameno.vejamos a capital do paraná,curitiba totalmente arborizada,curitiba nos tomou o titulo de capital da saúde fruto de administrações mais ecologicas a começar a bastante tempo pelo jayme lerner arquiteto que pensou essa capital,para fins de equilibrio ambientalsem fins politicos.
    aqui em belo horizonte a população não sabe se cada arvore pertence a cemig,prefeitura,oi,etc.. uma confusão total preferem cortar as arvores que demoraram anos para crescer,do que com um tratamento,a maioria do tronco das arvores está totalmente oco,é só passar pelo barro preto pela avenida augusto de lima rua tupis na esquina com contorno até av. bias fortes realmente como voçe disse um lamento.
    quando não chove como agora não vemos caminhões pipa a irrigar as arvores de belo horizonte nem os cidadãos que tem arvore regam as arvores em frente as suas casas e estabelecimentos comerciais,vemos é colocar oleo queimado.
    a prefeitura a cemig a oi deveriam ter um departamento exclusivo só para as arvores com a palavra a nossa assembleía de minas que também pode abraçar essa causa como abraça a causa dos cachorros e outros animais. Parabéns pelo artigo e obrigado pela proteção da natureza. Marco T. Camargos.

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  3. Salvador A. Magalhães8 de outubro de 2019 às 09:30

    Parabens Dr. Wilson pelo seu "lamento das árvores" . Se se unissem: Prefeitura, Cemig e telefonia fixa, num plano ousado e tecnicamente bem conduzido, em 10 anos teríamos toda a rede elétrica e telefônica subterrânea, evitando as colisões, os apagões, os roubos da fiação e, provavelmente, até os lucros da CEMIG e da telefonia fixa aumentariam. Se a CEMIG for privatizada, sem dúvida, isto vai acontecer. Um deputado da bancada da corrupção e de cujo legado sofremos as consequências, pergunta hoje na mídia: privatizar para que ? Respondo eu: para se evitar que haja espaço nos serviços públicos para cabides de emprego e negociatas. Já chega de ineficiència. A dívida pública elevada de 850 bi em 31.12..02 para 3,5 TRI em 31.12.18 é o cúmulo do cúmulo. Já chega de PT + PCC. Precisamos de ordem, paz e progresso. A vez agora deve ser para todos e não só para os banqueiros e políticos corruptos. Salvador A. Magalhães -- Bhte..

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  4. Mirella S. T. D'Assunpção8 de outubro de 2019 às 09:38

    Excelente, Dr. Wilson. Muito bom em todos os sentidos. As árvores não podem pagar pelo serviço mal feito da prefeitura e muito menos da Cemig e de outras empresas de telefonia que se metem a mandar na vida ambiental de BH. Cortar e podar as árvores velhas vá lá, mas desde que plantem duas para cada uma suprimida. Ou seja, se tiram mil árvores como fizeram para passar o Move na Av. Antonio Carlos, Pedro I e outras avenidas de BH, então que plantem duas mil, três mil árvores para compensar. Repito que esse artigo é excelente, Dr. Wilson, parabéns, e poderia ser retransmitido para todos os moradores de BH, para que fiscalizem a preservação das árvores da nossa cidade, por muitos motivos: clima, oxigênio, sombra, beleza, paisagem, etc. etc. Mirtella S.T. D'Assumpção.

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  5. Wilson,
    Muito bom o seu artigo, atual e fundamental para conter a poda predatória, a destruição sem reposição. Muito bom.
    Abraço do Arthur L.

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