FALTA DE ISONOMIA EM BELO HORIZONTE.

Nos últimos meses, em face da pandemia de coronavírus, a capital tem sido palco de proclamação de vários decretos por parte da prefeitura, sem a participação democrática da Câmara e de seus respectivos 41 vereadores, que, no mínimo, deveriam ser consultados a respeito das medidas drásticas impostas à população.

Em que pese a autonomia do prefeito na edição dos decretos, ainda assim há que prevalecer a harmonia e a independência entre o Executivo e o Legislativo, evitando-se o uso tirânico do poder. O recomendável isolamento social, até então corroborado pela sociedade, não isenta os parlamentares municipais de debater, votar e deliberar no interesse da coletividade.

As decisões executivas não podem incorrer em violação dos princípios democráticos da forma republicana de governo, evitando-se excessos da competência municipal. As normas vigentes devem ser obedecidas, mas com certa moderação nas exigências do poder público, sem impor constrangimento às pessoas e sem extrapolar seu limite de atuação.

A Câmara Municipal está omissa, como se não tivesse que fiscalizar a gestão do município nem prestar satisfação aos belo-horizontinos quanto aos decretos e atos unilaterais do prefeito. Tem-se a impressão de que os vereadores estão de férias infindas, sem a menor obrigação de manifestação colegiada em face dos problemas da cidade.

Causa estranheza o fato da liberação pela prefeitura de determinados segmentos do comércio para o retorno às atividades, como foi o caso dos shoppings populares, enquanto outros setores similares permanecem fechados, numa demonstração típica do uso de dois pesos e duas medidas. O tratamento a ser dispensado requer isonomia e impessoalidade, sem qualquer distinção. Não há que se favorecer um em prejuízo do outro, uma vez que os empregos, os negócios, a economia e os interesses individuais e coletivos enfrentam as mesmas dificuldades.

As medidas sanitárias preventivas contra o coronavírus são necessárias. No entanto, obstar o direito de ir e vir de quem precisa, ameaçar com multas, permitir a alguns e negar a outros, ignorar as realidades empresariais, olvidar os reclamos dos cidadãos e governar por decretos é faltar com a isonomia e tirar a fórceps os direitos constitucionais das pessoas. O município que o faça estará incorrendo em grave atentado às garantias fundamentais e restará sujeito à investigação de irregularidades.

A prefeitura age na contramão da isonomia, da impessoalidade e da imparcialidade. Realizou o Carnaval sem impor restrições; fez vista grossa às manifestações de rua com grandes aglomerações; não se manifestou sobre ônibus e metrô lotados; permitiu supermercados sem limitação de consumidores; não interveio nas filas enormes nas portas dos bancos; e autorizou a reabertura de shoppings populares, que contam com elevado número de frequentadores.

Ao fim e ao cabo, a falta de isonomia em Belo Horizonte é flagrante, e fazem-se necessários critérios mais justos, além de técnicos.

Wilson Campos (Advogado/Presidente da Comissão de Defesa da Cidadania e dos Interesses Coletivos da Sociedade, da OAB-MG/Delegado de Prerrogativas da OAB-MG).

(Este artigo mereceu publicação do jornal O TEMPO, edição de quinta-feira, 11 de junho de 2020, pág. 17

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Comentários

  1. Eu tive o prazer nesse feriado cristão de ler seu artigo no jornal. Aproveito agora para dizer que tenho o mesmo sentimento do senhor. Cada macaco no seu galho, o prefeito no dele e os vereadores no deles, mas trabalhando para o povo de BH e nunca nos seus interesses. Concordo com o senhor também quando diz que a Câmara é omissa e que fica na mão da prefeitura.
    Parabéns Dr. Wilson e que nas próximas eleições o nosso povo vote melhor pra prefeito e pra vereador. Deus no comando. Abr. Do Ricardo Leles.

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  2. Doutor obrigada pelo seu artigo hoje nesse dia lindo e de crença religiosa. Eu sou comerciante e estou há 75 dias com minhas lojas fechadas na cidade e não aguento mais os muitos prejuízos e ver meus 26 funcionários sem trabalhar e sem a Comissão da venda. Uma tristeza só.
    O prefeito recebe seu salário todo mês mais as mordomias e os vereadores também.
    E nós patrões e empregados fazemos o que?
    Essa política é muito suja, Deus me livre.
    Obrigada Dr. Wilson Campos por sua grande noção do certo.
    Marlene B. Vieira. BH e RM.

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  3. Parabéns Dr. Wilson.
    Mais uma vez, o senhor mostra o comportamento absurdo desse elemento que se diz prefeito do povo de BH.
    É repugnante ver como nosso país está sendo governado.
    Não pelo presidente, em quem eu votei , e diga-se de passagem, está fazenfo o melhor possível. Me refiro aos Estados, Municípios,
    aos poderes Judiciais e Legislativos, que tomaram o poder e estão fazendo o que bem entendem, com a omissão dos que, por lei, teriam que fiscalizá-los.
    Belo Horizonte é um exemplo claro.
    Um prefeito incompetente, corrupto e safado, e uma câmara de vereadores omissa e comprometida com os desvaneios do mesmo.
    Até quando teremos que tolerar esse tipo de gente?

    Só um BOLSONARO não dá conta.
    Acorda Brasil.

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  4. DR. WILSON O SENHOR COMO ADVOGADO SABE MUITO BEM QUE ESSE NEGÓCIO DE PERMITIR UNS E NÃO PERMITIR OUTROS É TRATAMENTO DESIGUAL NA CIDA DE BELÔ. É ISSO QUE O PREFEITO ALEXANDRE KALIL ATLETICANO ESTÁ FAZENDO NAS BARBAS DOS EMPRESÁRIOS E ELES NÃO REAGEM E OS VEREADORES IDEM NÃO FAZEM NADA. O PREFEITO FAZ O QUE QUER NA CIDADE , DÁ MURRO NA MESA E BANCA DE ANTIPÁTICO COMO SEMPRE FOI E TODO MUNDO FICA DE CABEÇA BAIXO E CALADO. QUE QUE É ISSO MINHA GENTE? SE UNS PODEM TRABALHAR TODOS PODEM E PONTO FINAL. CADÊ A DEMOCRACIA? ISOLAMENTO PARA UNS ENQUANTO MULTIDÃO VAI PRA RUA QUEBRAR, GRITAR E FALAR DE NAZISMO, FASCISMO E TANTAS OUTRAS BESTEIRAS. ISSO PODE? TAMBÉM PODE SHOPPING OI DOS CHINESES E A GALERIA DO OUVIDOR NÃO PODE? QUE PALHAÇADA É ESSA? DOUTOR WILSON EU TE PARABENIZO POR ESTE E POR TODOS OS SEUS TEXTOS MARAVILHOSOS QUE LEIO NO SEU BLOG E NOS JORNAIS.. MANDA VER E DEFENDE MESMO NOSSA BH, NOSSO ESTADO DE MG E NOSSO BRASIL. NOSSA BANDEIRA É VERDE E AMARELA E AZUL E BRANCA E TEM ORDEM E PROGRESSO ESCRITO NO MEIO DELA. VALENTIM SANTOS - EMPRESÁRIO PAGADOR DE IMPOSTOS.

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  5. Dr.Wilson , matéria muito boa.Moro em Lagoa Santa e vejo a maneira absurda como o prefeito de BH se comporta nesta pandemia. Esta desigualdade no trato das liberações é um enorme despropósito .

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  6. Mais uma vez assino embaixo. É exatamente isso que está acontecendo.
    Uma pergunta tem me atormentado. Até o momento não ouvi, li e ou achei explicação:

    - Qual foi a fundamentação para se decretar "estado de calamidade" onde não há calamidade?! Seria um subterfúgio para fugir da "Lei de responsabilidade fiscal" em um ano eleitoral?!

    Uma outra questão salta aos olhos:

    - Porque a PBH, essa mesma que fechou tudo, está enviando guias de tributos/arrecadação para as pessoas jurídicas e físicas?! Não seria mais justo e sensato que estes valores, ora cobrados, fossem diluídos em cobranças futuras ou mesmo não cobradas?! O comércio não vendeu, o cidadão, em bom número, perdeu o seu trabalho, sua forma de sustento, por responsabilidade única e exclusiva da PBH com o consentimento de uma câmara municipal serviçal e cúmplice.

    Enfim, infelizmente, continuamos com os mesmos modus operandi, nebuloso, na política e em outras esferas do poder.

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  7. Eu acho que vamos demorar 5 anos para recuperar as perdas. Todos perdemos, com exceção dos políticos e dos juízes que não deram sua parte no combate ao vírus e mantiveram seus gordos salários. Bando de sacanas. Os tais Legislativo e Judiciário são exemplos descarados de desamor e desrespeito ao Brasil.
    Receba meus parabéns Dr. Wilson pelo belo artigo. Felicia Antunes.

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  8. Dr. Wilson, a abordagem deste trabalho, completa, é fiel aos fatos testemunhados por todos nós.
    Ressalto os seguintes detalhes:
    1- A consideração pelo lado mais importante, o humano intrínseco, faltou e deixou o senhor prefeito de proteger as fragilidades da sociedade plural, em especial dos que mais necessitam lutar no dia a dia para a sua sobrevivência, quando deveriam ser vistos no primeiro plano, nas suas decisões aparentemente monocráticas.
    A ação do poder precisa ser equilibrada entre o "modus faciendi" e o efeito causado nos súditos do reino, para alcançar o equilíbrio e a harmonia na continuidade da vida em comum.
    O poder não pode ser exercido somente pela chibata das leis e dos decretos, pois que a sensibilidade humana se torna o primeiro exercício para quem não quer se transformar e ser reconhecido como mais um ditador. O poder inclui o risco da transformação do homem não consciente dele....
    Talvez tenha faltado a presença daquele conselheiro da conhecida história nos ouvidos do senhor prefeito, para lhe repetir nos momentos de decisão: "Peço-te, ó Imperador - seja dito para tua tranquilidade - , lembra-te de que és homem, para que possas usar consequentemente bem o poder que te foi concedido...."
    Os súditos desconsiderados certamente terão na lembrança a dor dos atos mal planejados e conduzidos....
    2- Causa real estranheza a omissão dos senhores vereadores, na qualidade de fiscalizadores das ações do executivo, deixando a nossa cidade à mercê dos resultados frutos das ações de pouca sensibilidade humana vistas. Onde estarão eles até agora ?
    3- O conteúdo do seu artigo, Dr. Wilson, deixa uma visão nítida de incapacidade da estrutura do poder público, de enxergar em todo o reino a ser cuidado, a diversidade social dos cidadãos que o compõem. A estrutura deste poder ainda está incompleta....
    Continue, Dr. Wilson, sendo a voz da cidadania necessária à nossa qualidade de vida !

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  9. Doutor Wilson eu tomei a liberdade de tirar um pedaço do seu artigo e vou replicar aqui porque é sensacional a objetividade e a verdade do trecho que separei que é ... "obstar o direito de ir e vir de quem precisa, ameaçar com multas, permitir a alguns e negar a outros, ignorar as realidades empresariais, olvidar os reclamos dos cidadãos e governar por decretos é faltar com a isonomia e tirar a fórceps os direitos constitucionais das pessoas. O município que o faça estará incorrendo em grave atentado às garantias fundamentais e restará sujeito à investigação de irregularidades".
    Depois disso eu não tenho o que falar e nem devo mas concordo 1000% com o senhor não apenas neste testo mas em todos que escreve com muita sobriedade e justiça. Continue nesse caminho Dr.Wilson - do bem e do respeito pelas nossos valores das nossas Minas Gerais que são muitas e da nossa capital que tem sofrido com a política interesseira e cafajeste. Vamos resistir contra tudo isso que é errado e conte comigo e com minha gente.

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